São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2011

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Professor usa laboratório da USP para dar curso pago

Depois de receber críticas, universidade suspende uso de instalações

Estudantes de fora da instituição pagavam R$ 1.980 para ter treinamento no laboratório de medicina

FÁBIO TAKAHASHI

DE SÃO PAULO

Professores da Faculdade de Medicina da USP utilizaram um laboratório da instituição pública para oferecer um curso de extensão pago.
Ao menos três turmas, com 110 alunos no total, se formaram no curso -a maioria médicos de fora de São Paulo, ou seja, estudantes que não são da faculdade.
Segundo o site que ofereceu vagas, o treinamento prático e teórico custou R$ 1.980.
Um atrativo era o certificado assinado pelo professor titular Irineu Velasco, da disciplina de emergências clínicas, ex-diretor da faculdade.
Alunos e funcionários da faculdade tomaram conhecimento do curso há algumas semanas e passaram a pressionar a direção da escola.
Ontem, um dia após questionamento da Folha, a direção da faculdade afirmou ter suspendido o curso.
Incomodou parte da faculdade o fato de o laboratório de uma instituição pública -modernizado em 2009 com recursos públicos e privados- ser utilizado para a realização de curso pago, ainda que aos finais de semana.
Também houve a suspeita de que a extensão -chamada Treinamento em Habilidades e Procedimentos em Emergências- poderia ser usada como preparação de candidatos para a prova de residência da faculdade. Isso deixaria os estudantes da faculdade em desvantagem na hora de tentar uma vaga na residência.
A direção da faculdade afirmou, em nota, que "ao tomar conhecimento do curso, (...)determinou preventivamente a sua suspensão".
Disse ainda que "solicitou parecer ao procurador da Coordenadoria do Quadrilátero da Saúde-Direito, bem como a indicação de providências cabíveis". A faculdade não forneceu informações adicionais, como quais fatos levaram à suspensão.

DEFESA
Responsável pelo curso, o professor Irineu Tadeu Velasco disse que tudo "é oficial". Afirmou ainda que o lucro é revertido à faculdade e ao Hospital das Clínicas, via compra de equipamentos, viagens de residentes para congressos, entre outros.
Sobre a suspensão do curso, ele disse ontem que não tinha conhecimento da decisão. "Mas estou tranquilo. Não tem nada escondido. Só acho que a direção se atrapalhou com a pressão de estudantes preocupados com a prova de residência."
O docente negou que o curso tenha ligação com o preparatório para residentes. Segundo ele, houve confusão porque a mesma empresa que fornece a tecnologia para ensino a distância do curso também tem cursinho preparatório. "São coisas totalmente separadas", declarou.
Apesar do anúncio da suspensão, o professor disse ter dúvidas se isso de fato ocorrerá. "Já tem alunos do país todo matriculados. Vai ficar mal para a faculdade."
O site que oferece o curso informa que haverá turma no início de outubro.


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