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"Soldados" do tráfico
avisam horário
da Reportagem Local
O aviso de que existe horário
para os moradores se recolherem
é repassado pelos "soldados" do
tráfico que percorrem o bairro.
Os vizinhos se encarregam de
alertar quem estava fora e perdeu
o comunicado. Ninguém informa, no entanto, de qual grupo de
traficantes partiu o alerta.
"Os caras passam a pé avisando
a gente para não ficar na rua depois das 21h, que o bicho vai pegar", disse o estudante J., 14.
Moradores ouvidos pela Folha
disseram que os tiroteios aumentaram esta semana.
"Aqui a coisa mais comum é tiro, mas tem época, como agora,
que a coisa aumenta e as pessoas
precisa se cuidar muito", afirmou
o vigia C., 38, que vive há 10 anos
na favela.
O recado da existência do limite
de horário sai da favela e chega às
escolas por meio dos pais e dos
próprios alunos.
"Um garoto me avisou que todos os primos dele estão andando
armados e que a situação vai piorar", disse uma professora de escola estadual.
Cada funcionário se lembra de
pelo menos uma história de violência que ouviu sobre a favela,
como a de um estudante que pediu transferência para outra escola depois que seu amigo foi assassinado a tiros. "A mãe veio desesperada e o mandou para a casa de
parentes do outro lado da cidade", afirmou uma funcionária de
secretaria.
Diretores de escolas visitados
ontem pela Folha pediram mais
policiamento no local.
"Estou em pânico, com medo e
apavorada de passar por aqui à
noite", disse C., que trabalha em
escola pública há dez anos.
Segundo moradores, a correria
de volta para casa começa a partir
das 20h. Só pequenos grupos, geralmente em bares, permanecem
fora de casa depois das 21h30.
Não ocorreram mais assassinatos na favela após a última chacina, na semana passada, de acordo
com policiais do 95º DP.
Este ano, de janeiro a setembro,
65 pessoas foram assassinadas na
região do DP -a maioria delas na
favela. No ano passado, nesse
mesmo período, houve 46 mortes
em crimes.
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