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POLÍCIA FORA DA LEI
Justiça de São Paulo manda apurar suposto furto de duas submetralhadoras e um fuzil utilizados pelo Gradi
PM é investigada por sumiço de armas
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O serviço de inteligência da Polícia Militar de São Paulo é investigado pelo sumiço de duas submetralhadoras e um fuzil que estavam "emprestados" pela Justiça
ao Gradi -a unidade de elite que
infiltrou presos irregularmente
em quadrilhas, investigada por
tortura e homicídios.
As três armas sumiram no mesmo dia em que o tenente-coronel
Roberto Mantovan, ex-coordenador do Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância), recebeu intimação de
um oficial de Justiça, pela segunda
vez, para que entregasse o armamento à Justiça.
O desaparecimento das armas
levou a juíza-corregedora do Dipo (Departamento de Inquéritos
Policiais) da capital, Ivana David
Boriero, 40, a pedir, no início do
mês, a abertura de investigação na
Polícia Civil.
No último dia 2, o tenente Henguel Ricardo Pereira, 31, e o sargento Rodney Carmona, 40, dois
ex-integrantes do Gradi, registraram no 13º DP (Casa Verde), por
volta das 14h30, um boletim de
ocorrência de furto de duas submetralhadoras -uma da marca
Ingran calibre 9 mm e outra Cobray 9 mm.
Conforme o registro em BO, os
policiais relataram que as armas
foram levadas por desconhecidos
que abriram as portas do veículo
Ipanema, placa "fria" CJS 9078,
do serviço reservado da Polícia
Militar, na rua Reims, em frente
ao número 567, zona norte da capital paulista. O carro ficou estacionado ali, por 15 minutos, desde
as 13h20.
À noite, perto das 20h, os mesmos PMs retornaram ao 13º DP
para fazer um outro BO, complementando o primeiro. Eles informaram ter percebido mais tarde
que o fuzil Ruger calibre 223 também havia sido levado.
A rua onde ocorreu o furto tem
intenso trânsito de veículos. De
acordo com o banco de dados criminais da Secretaria da Segurança
Pública, houve apenas um furto
em interior de carros na rua
Reims desde o ano passado: o que
foi relatado pelos PMs do serviço
reservado.
Os dois ex-PMs do Gradi, apesar das ações sob suspeita executadas pela extinta unidade, ainda
continuaram no serviço de inteligência da PM, trabalhando sem
farda. Ontem, a corporação informou que os dois estão fora das
ruas, em atividades administrativas. A data em que foram transferidos não foi revelada.
A unidade, que oficialmente
deixou de existir em abril deste
ano, após sucessivas acusações,
foi o principal braço de inteligência da PM contra o crime organizado entre julho de 2001 e março
de 2002.
Em cinco ações, entre elas a
operação da rodovia Castelinho
(Sorocaba) contra integrantes do
PCC, o Gradi acumulou 22 mortes e sete prisões, saldo que, dentro do Judiciário paulista, valeu ao
setor uma comparação com o temido "esquadrão da morte" dos
anos 70 -grupo de policiais que
assassinava supostos criminosos.
No total, o Gradi usou 51 armas
"emprestadas" pela Justiça desde
sua criação, em 2000. Em julho
deste ano, depois de a Folha revelar que o grupo usava ilegalmente
presos em operações, o Tribunal
de Justiça assumiu as investigações do caso e o Dipo requisitou a
devolução de todas as armas.
A apuração acabou centralizada
no TJ por causa do envolvimento
de dois juízes -Octávio Augusto
Machado de Barros Filho (Corregedoria dos Presídios) e Maurício
Lemos Porto Alves (corregedor
do Dipo)- e do secretário da Segurança Pública do Estado, Saulo
de Castro Abreu Filho, todos incluídos pela Procuradoria Geral
de Justiça em um pedido de abertura de investigação.
Em 17 de setembro, na resposta
ao primeiro pedido de devolução
de armas, o tenente-coronel Mantovan disse que deixava de enviar
duas submetralhadoras por estarem cedidas para instrução.
Em recontagem, o Dipo percebeu que faltava ainda uma terceira arma: o fuzil Ruger. Em seguida, a juíza-corregedora do Dipo
enviou uma nova intimação ao
ex-coordenador do Gradi, dando
prazo de cinco dias para que ele
entregasse as três armas. Recebeu
como resposta cópia dos dois boletins de ocorrência de furto.
BO suspeito
Não é a primeira vez que a polícia investiga um registro de furto
do Gradi. Em 31 de março, dois
policiais da unidade registraram o
furto de um veículo no 85º DP
(Jardim Mirna), na capital, omitindo que dois condenados recrutados pela inteligência haviam fugido com o carro da PM.
Em depoimento a deputados
estaduais, presos que atuavam como agentes da PM disseram ter
recebido carros, celulares e até armas quando se infiltravam em
quadrilhas investigadas.
Segundo a Folha apurou, a PM
ainda não devolveu um kit de peças para metralhadora, também
cedido pela Justiça.
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