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NOVA ORTOGRAFIA
Acordo que elimina trema e incorpora três letras ao alfabeto precisa do aval de mais dois países para entrar em vigor
Brasil dá primeiro passo para unificar língua
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As duas ortografias oficiais da
língua portuguesa -a do Brasil e
a de Portugal- estão prestes a se
tornar uma só. Ontem, o governo
brasileiro aprovou um protocolo
que deverá, em breve, promover a
unificação.
Com a reforma pela qual a língua passará, o trema deixará de
existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados, e o alfabeto
passará a ter 26 letras -incorporará mais três: "k", "w" e "y".
O filólogo Antônio Houaiss, representante brasileiro durante as
negociações com Portugal (que
terminaram em 1990), aponta no
livro "A Nova Ortografia da Língua Portuguesa" cerca de 40 mudanças que terão de ser incorporadas ou à ortografia brasileira ou
à portuguesa.
As mudanças, no entanto, ainda
dependem da aprovação do protocolo por Portugal e Cabo Verde.
O Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa existe desde 1990, mas
nunca foi implementado, pois
precisava da ratificação de todos
os oito membros da CPLP (Comunidade de Países de Língua
Portuguesa). Apenas três deles
-Portugal, Brasil e Cabo Verde- haviam começado a adaptar
suas legislações ao acordo.
Para agilizar o processo de reforma da língua, os chefes de Estado da CPLP decidiram, na última reunião de cúpula, em meados deste ano, que bastaria a ratificação do acordo por três países
para que ele passasse a valer. O
protocolo assinado pelo Brasil
ontem é o que permite a entrada
em vigor do acordo com apenas
três ratificações.
O governo brasileiro conta agora com a aprovação do protocolo
em Portugal e Cabo Verde. Para
isso, o Ministério de Relações Exteriores pediu às embaixadas brasileiras nos dois países que promovam a aceleração da aprovação do protocolo.
Mudanças
As novas regras ortográficas
obrigarão os portugueses a grafarem algumas palavras como no
Brasil. O verbete "acção" passará
a ser "ação". Os portugueses também terão de retirar o "h" inicial
de algumas palavras, como em
"herva" e "húmido", que passarão a ser grafadas como no Brasil:
"erva" e "úmido".
Para as palavras que admitem
diferentes pronúncias, manteve-se a possibilidade de duas grafias.
Os brasileiros escreverão "fato", e
os portugueses, "facto". As duas
formas de grafar esse substantivo
serão consideradas corretas nos
países signatários do acordo.
Segundo um integrante do governo ligado à área da cultura, que
preferiu permanecer no anonimato para evitar desgastes com
Portugal, a reforma fará com que
o português falado no Brasil se
torne o internacional.
Mas os brasileiros também terão de se acostumar com mudanças. Não se usará mais o acento
circunflexo nas terceiras pessoas
do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos
"crer", "dar", "ler", "ver" e seus
derivados. A grafia correta será
"creem", "deem", "leem" e
"veem". O acento circunflexo em
palavras terminados em hiato
"oo", como "enjôo", também cairá. O acento também deixará de
ser usado para diferenciar "pára"
(verbo) de "para" (preposição).
Alguns acentos já haviam sido
abolidos no Brasil na reforma ortográfica de 1971.
Na opinião de Carlos Alberto
Xavier, assessor do ministro da
Educação, a unificação da ortografia é importante para o futuro
da língua portuguesa no mundo.
O português é a terceira língua
ocidental mais falada, atrás apenas do inglês e do espanhol.
O fato de existirem duas ortografias dificulta campanhas de divulgação do idioma e a sua adoção em fóruns internacionais.
"A entrada em vigor do acordo
é condição essencial para a definição de uma política de promoção
e difusão da língua portuguesa",
afirma nota divulgada ontem pelo
Itamaraty.
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