São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Escolas farão recuperação durante a aula

Rede municipal afirma que não tem condições de oferecer atividades extras a estudantes com deficiência em leitura

Segundo secretaria da Educação, 23% dos alunos de 5ª a 8ª séries têm domínio insatisfatório da língua portuguesa

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo publicou anteontem uma portaria que aponta que a prefeitura tentará recuperar os alunos com dificuldade de leitura durante o período regular de aula. A gestão Gilberto Kassab (PFL) afirma que não tem condições de oferecer reforço extra a todos os estudantes que estão com deficiências.
Um levantamento da pasta aponta que 23% dos alunos de 5ª a 8ª séries, os alvos da medida, possuem um domínio insatisfatório da língua portuguesa.
"Como não temos condições de oferecer reforço fora do período de aula para todos, decidimos dar uma maior orientação para a recuperação contínua [durante a aula]", disse a diretora da Divisão de Ensino Fundamental e Médio da pasta, Regina Lico. A recuperação fora do período será oferecida apenas em casos mais graves.
Segundo ela, algumas ações da portaria eram aplicadas pelos professores, mas não estavam institucionalizadas. "Agora poderemos oferecer capacitação para os professores e material didático específico."
Uma das recomendações para a recuperação dentro do período regular de aula é reorganizar o espaço da sala, colocando os estudantes com dificuldades mais perto do professor. Também serão usadas atividades em grupo, para que alunos com melhor rendimento possam ajudar os outros.
Para o presidente da Aprofem (Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais de São Paulo), Ismael Palhares Júnior, a medida é praticamente inócua. "Neste momento, em que vivemos uma crise na educação municipal, a opção deveria ser por uma forte recuperação paralela [fora do período de aula]. Isso significaria mais tempo de aprendizagem."
O professora afirma que a recuperação durante o período de aula poderá atrasar o desenvolvimento dos demais estudantes. "É difícil trabalhar com grupos em turmas tão grandes como as nossas."
Segundo o Inep (instituto de pesquisas do Ministério da Educação), as classes de 5ª a 8ª séries da rede municipal de São Paulo possuem uma média de 35,2 estudantes, número acima do verificado nacionalmente, que é de 30,7.
"Esse realmente será um dificultador para que a iniciativa tenha sucesso", disse a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Ângela Fátima Soligo. "A idéia de trabalho em grupo é bem aceita entre os teóricos. Mas se há muitos alunos na turma, o professor não consegue conhecer as dificuldades e as potencialidades de cada estudante, para assim formar bem os grupos."


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