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Preso morreu após tortura em Alagoas, conclui laudo
Documento aponta afogamento e marcas de unha em seqüestrador morto
Ministério Público estadual investiga seis casos de enforcamento em prisões do Estado; governo culpa
conflitos entre detentos
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Laudo feito por peritos da Secretaria Especial de Direitos
Humanos da Presidência da
República aponta que um detento morreu, após ser torturado, em um presídio de Alagoas.
Antônio Marcos da Silva foi
encontrado morto no presídio
Baldomero Cavalcante, em
Maceió, com uma corda de náilon no pescoço. O caso foi divulgado como suicídio. Os peritos
identificaram marcas de estrangulamento em Silva -preso acusado de seqüestro- provocado no dia em que foi encontrado morto.
O Ministério Público de Alagoas afirma que há outros cinco
casos com características semelhantes ao de Tonho Preto
-como a vítima era conhecida- e já estão sendo investigados. O relatório será apresentado hoje ao Conselho Estadual
de Segurança Pública.
O caso de Tonho Preto ocorreu no dia 13 de junho. Ele foi
transferido do Tático Integrado de Grupos de Resgates Especiais (Tigre) da Polícia Civil, onde teria sido torturado, para o
Baldomero Cavalcante.
A ordem de transferência foi
dada pelo juiz criminal Marcelo
Tadeu. Tonho Preto afirmara
que iria apontar seus supostos
torturadores caso saísse da carceragem do Tigre. Foi encontrado morto horas depois de ingressar na penitenciária.
A Folha apurou que quatro
desses casos ocorreram no Baldomero Cavalcante. O primeiro ocorreu em novembro do
ano passado, com Luiz Carlos
de Barros. Deyvison Leandro
da Silva, Charles Santos de
Araújo e José Francisco do
Nascimento foram encontrados mortos em condições semelhantes a Tonho Preto entre
os dias 9 de março e 11 de abril.
Todas mortes foram divulgadas inicialmente como suicídios. A Superintendência de
Administração Penitenciária
afirma que eles podem ter sido
mortos por outros detentos.
Tonho Preto era considerado
um criminoso perigoso. Ele foi
preso em maio acusado de participar de quatro seqüestros,
entre eles o da ex-prefeita de
São Sebastião Helena Lisboa.
Segundo o laudo, ele foi torturado no Tigre dias antes de
ser morto. Há marcas no pulmão da vítima que indicam a
prática de "banho chinês"
-tortura por por afogamento,
com a introdução de jato d'água de pressão nas narinas da
vítima- e queimaduras.
"A vítima foi encontrada enforcada, em suspensão incompleta, com as regiões plantares
[planta do pé] apoiadas no piso", aponta o laudo. No corpo,
havia, segundo a perícia do governo federal, marcas de unhas
no pescoço, indicando a tentativa de defesa da vítima.
"As evidências permitem
afirmar que Antônio Marcos da
Silva foi submetido a tratamento cruel, desumano e degradante, típico de prática de
tortura, e morto violentamente, por homicídio, com emprego de energia de ordem físico-química", diz o documento.
O laudo critica a perícia feita
pela polícia alagoana. Segundo
o documento, os peritos "não
consideraram o conjunto das
evidências forenses presentes
no cadáver".
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