São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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Pai de Eloá é acusado de matar delegado em Alagoas

Polícia diz que identificou suspeito, foragido do Estado desde 93, ao vê-lo na TV

Pereira dos Santos é acusado de matar, em 91, o delegado Ricardo Lessa, irmão do ex-governador Ronaldo Lessa; ele nega as acusações


Danilo Verpa - 16.out.08/Folha Imagem
Pai de Eloá passa mal durante cativeiro da filha; segundo a polícia, imagem facilitou reconhecimento

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Civil de Alagoas afirma que o pai da menina Eloá Cristina Pimentel, assassinada na sexta-feira após ficar cem horas refém do ex-namorado Lindemberg Alves, é integrante de um grupo de extermínio e é acusado de, em 1991, metralhar e matar o delegado Ricardo Lessa, irmão do ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (1999-2006).
O homem que dizia se chamar Aldo José da Silva e que foi identificado ao desmaiar em frente ao prédio onde a filha estava em cárcere privado é, segundo a polícia de Alagoas, o ex-cabo da PM Everaldo Pereira dos Santos, acusado de crime de pistolagem no Estado.
Aldo ou Everaldo, segundo o delegado-geral da Polícia Civil alagoana, Marcílio Barenco, tem um mandado de prisão em aberto por suspeita de participação nas mortes de Ricardo e do motorista dele, Antenor Carlota, em outubro de 1991.
O pai de Eloá está foragido desde 1993, quando teve a prisão preventiva decretada. Também é considerado desertor pela Polícia Militar do Estado. Everaldo, diz o juiz Geraldo Amorim, da 9ª Vara Criminal de Maceió, integrava a "gangue fardada", grupo de extermínio operado por policiais de AL e comandado pelo ex-coronel da PM Manoel Francisco Cavalcante. Segundo a denúncia, Ricardo foi morto porque investigava homicídios cometidos pela organização criminosa.
O pai de Eloá negou ontem as acusações e diz que fugiu por ser um "arquivo vivo".

Outro nome de Eloá
Segundo a Polícia Civil de Alagoas, no registro civil de Eloá, localizado ontem em Maceió, o sobrenome da garota não é Pimentel da Silva, como consta na documentação de identidade expedida em São Paulo. Na certidão de nascimento, o nome completo dela é Eloá Cristina Pereira Pimentel.
O nome da mãe de Eloá (Ana Cristina Pimentel da Rocha) e a data de nascimento da garota (5 de maio de 1993) são os mesmos nos dois documentos.
A polícia paulista recebeu ontem a impressão datiloscópica do pai da menina para comparar com sua impressão digital no documento feito em São Paulo. No final da noite de ontem, o delegado seccional de Santo André, Luís Carlos Santos, confirmou que Aldo e Everaldo são a mesma pessoa. A polícia já está à sua procura.
A suspeita sobre a verdadeira identidade do pai de Eloá começou entre os moradores do bairro Prado, em Maceió, onde a família morava antes de se mudar para São Paulo. Vizinhos reconheceram Everaldo pelas imagens da TV.
A mãe do ex-cabo, com 82 anos, ainda vive em Maceió.
Ontem, por telefone, o filho foragido pediu aos repórteres que não a incomodassem. "Por favor, deixem ela em paz", disse.

Pública e notória
O ex-governador Ronaldo Lessa disse ontem que a participação do pai de Eloá na morte do irmão dele e nas ações da "gangue fardada" é "pública e notória". "Pode ser que ele [Everaldo] tenha elementos [sobre o crime] que a gente desconhece. Mas será uma surpresa em Alagoas. Aqui, é público e notório que ele foi um dos integrantes tanto da gangue fardada quanto do assassinato do Ricardo, entre outros homicídios", disse o ex-governador.
Segundo Lessa, circulava a informação de que a morte de seu irmão fora encomendada porque ele estava investigando o assassinato de um preso dentro de um hospital em Maceió.
"O processo para matar Ricardo ocorreu porque eles [gangue fardada] invadiram um hospital e mataram um preso.
O governador da época exigiu apuração, tirou o delegado e mandou Ricardo assumir o caso. Ricardo estava chegando e então eles resolveram matar.
Essa é a história em Alagoas." A Polícia Civil de Alagoas diz que há informações sobre outros três mandados de prisão contra Everaldo, mas que ainda não conseguiu localizá-los.


Colaborou KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local


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