São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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Cidade com ensino ruim forma mal docente

Preparação de professores é a área mais crítica em municípios com menor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)

Infra-estrutura é o segundo problema mais citado nos relatórios das cidades preenchidos sob orientação do MEC e de universidades

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora sobrem problemas de infra-estrutura, avaliação e gestão, a formação de professores é a área mais crítica dos municípios com os piores indicadores educacionais do país.
É o que mostram relatórios preenchidos sob orientação de técnicos do Ministério da Educação e de universidades pelas cidades com menor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), calculado a partir de taxas de aprovação e de notas de alunos na Prova Brasil, que avalia português e matemática.
Araci (BA) é um exemplo em que a crítica se volta à formação e à motivação do docente. A secretária de Educação, Dulcilene Mota, não tem dúvida: para ela, embora falte água e o transporte seja precário, o principal problema é o professor. "Falta desejar fazer um trabalho diferente na sala de aula. Eles reclamam do salário, mas já recebem pelo que não dão." Na cidade, o vencimento para a jornada de 25 horas está em R$ 700.
Professor licenciado do município, Gisselmar Ferreira de Souza, duas graduações, diz que há casos em que a crítica é válida. Mas aponta conivência do poder público: em Araci, os concursos para professor nem sequer exigem nível superior.
A secretária concorda. "É concurso de tapeação", afirma, destacando que não houve nenhum em sua gestão.
Por outro lado, a eficácia dos cursos de formação é questionada. "Há falta de professor formado e muita gente formada de maneira inadequada", diz Maria Auxiliadora Seabra, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação. "Os cursos ensinam muita teoria, mas preparam pouco para a sala de aula."
Professora em Paripueira (AL), Rosélia Barbosa levanta outros fatores para explicar a nota da cidade (veja quadro ao lado): "A evasão é fora do comum, por falta de transporte. Merenda não tem; material didático também não. Falta lâmpada na escola, faltava carteira. Não tem papel".
A infra-estrutura é o segundo problema mais citado nos relatórios das cidades com menor Ideb. As salas de aula são repetidamente descritas como "instalações inapropriadas para um ambiente de aprendizagem".
Em Araci, por falta de espaço, há aulas em casas alugadas. Uma delas tem o apelido de "casa das cobras" -os animais habitam o forro da sala.
Quadras esportivas e laboratórios não existiam em 14 das 19 cidades onde os relatórios foram preenchidos, em 2006 e 2007. Sete não tinham biblioteca. Nas outras, o acervo não era suficiente. Internet chega a ser privilégio. Em João Dias (RN), o acesso é um bônus para os alunos com boas notas.

Solução
Os gestores se dividem ao comentar sobre as soluções. Representante do prefeito de Cachoeira do Piriá (PA), o advogado Guilherme de Almeida aguarda uma reforma tributária que dê mais recursos aos pequenos municípios.
Edemara Oliveira Lara, secretária de Educação de Paripueira, diz acreditar que a situação melhorará com os projetos feitos pelos municípios em conjunto com o MEC, a partir dos quais a pasta repassa recursos às ações prioritárias.
A solução, continua, é também atacar a "falha dos prefeitos em aplicar os recursos" -falha, inclusive, do que a nomeou. "Tenho tido muita dificuldade. Falei pra ele: "Você é pessoa excelente, mas fora da prefeitura. Pior do que a incompetência é a negligência"."


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