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Cidade com ensino ruim forma mal docente
Preparação de professores é a área mais crítica em municípios com menor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)
Infra-estrutura é o segundo problema mais citado nos relatórios das cidades preenchidos sob orientação do MEC e de universidades
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Embora sobrem problemas
de infra-estrutura, avaliação e
gestão, a formação de professores é a área mais crítica dos municípios com os piores indicadores educacionais do país.
É o que mostram relatórios
preenchidos sob orientação de
técnicos do Ministério da Educação e de universidades pelas
cidades com menor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), calculado a partir
de taxas de aprovação e de notas
de alunos na Prova Brasil, que
avalia português e matemática.
Araci (BA) é um exemplo em
que a crítica se volta à formação
e à motivação do docente. A secretária de Educação, Dulcilene
Mota, não tem dúvida: para ela,
embora falte água e o transporte seja precário, o principal problema é o professor. "Falta desejar fazer um trabalho diferente na sala de aula. Eles reclamam do salário, mas já recebem
pelo que não dão." Na cidade, o
vencimento para a jornada de
25 horas está em R$ 700.
Professor licenciado do município, Gisselmar Ferreira de
Souza, duas graduações, diz
que há casos em que a crítica é
válida. Mas aponta conivência
do poder público: em Araci, os
concursos para professor nem
sequer exigem nível superior.
A secretária concorda. "É
concurso de tapeação", afirma,
destacando que não houve nenhum em sua gestão.
Por outro lado, a eficácia dos
cursos de formação é questionada. "Há falta de professor
formado e muita gente formada de maneira inadequada", diz
Maria Auxiliadora Seabra, presidente do Conselho Nacional
de Secretários de Educação.
"Os cursos ensinam muita teoria, mas preparam pouco para a
sala de aula."
Professora em Paripueira
(AL), Rosélia Barbosa levanta
outros fatores para explicar a
nota da cidade (veja quadro ao
lado): "A evasão é fora do comum, por falta de transporte.
Merenda não tem; material didático também não. Falta lâmpada na escola, faltava carteira.
Não tem papel".
A infra-estrutura é o segundo
problema mais citado nos relatórios das cidades com menor
Ideb. As salas de aula são repetidamente descritas como "instalações inapropriadas para um
ambiente de aprendizagem".
Em Araci, por falta de espaço,
há aulas em casas alugadas.
Uma delas tem o apelido de "casa das cobras" -os animais habitam o forro da sala.
Quadras esportivas e laboratórios não existiam em 14 das
19 cidades onde os relatórios
foram preenchidos, em 2006 e
2007. Sete não tinham biblioteca. Nas outras, o acervo não era
suficiente. Internet chega a ser
privilégio. Em João Dias (RN),
o acesso é um bônus para os
alunos com boas notas.
Solução
Os gestores se dividem ao comentar sobre as soluções. Representante do prefeito de Cachoeira do Piriá (PA), o advogado Guilherme de Almeida
aguarda uma reforma tributária que dê mais recursos aos pequenos municípios.
Edemara Oliveira Lara, secretária de Educação de Paripueira, diz acreditar que a situação melhorará com os projetos feitos pelos municípios
em conjunto com o MEC, a partir dos quais a pasta repassa recursos às ações prioritárias.
A solução, continua, é também atacar a "falha dos prefeitos em aplicar os recursos"
-falha, inclusive, do que a nomeou. "Tenho tido muita dificuldade. Falei pra ele: "Você é
pessoa excelente, mas fora da
prefeitura. Pior do que a incompetência é a negligência"."
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