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Concurso para garis atrai 22 mestres e 45 doutores
Salário pago pela Prefeitura do Rio é de R$ 486,10; há mais de 109 mil inscritos e 1.400 vagas
Somados, os candidatos que já passaram pelos bancos de universidades representam quase 4% do total de inscritos até anteontem
DA SUCURSAL DO RIO
Com inscrições abertas desde o dia 7, o concurso público
para a seleção de 1.400 garis para a cidade do Rio já atraiu 45
candidatos com doutorado, 22
com mestrado, 1.026 com nível
superior completo e 3.180 com
superior incompleto, segundo
a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana).
Para participar do concurso,
basta ter concluído a quarta série do ensino fundamental. As
inscrições terminam amanhã.
Somados, os candidatos que
já passaram pelos bancos de
universidades representam
quase 4% dos 109.193 inscritos
até anteontem. Os anos de estudo a mais, porém, não devem
colocá-los em vantagem na disputa -a seleção é feita por meio
de testes físicos, como barra,
flexão abdominal e corrida.
Aqueles que forem contratados trabalharão 44 horas por
semana e receberão salário de
R$ 486,10 mensais, tíquete alimentação de R$ 237,90, vale-transporte e plano de saúde. A
remuneração poderá ser acrescida ainda de um adicional por
insalubridade.
Aluno do segundo período de
história da Estácio de Sá, no
Rio, Luiz Carlos da Silva, 23,
disse ter ouvido muitos comentários preconceituosos dos colegas quando contou que disputaria uma vaga de gari.
"Disseram que eu era maluco, que eu ia ficar fedendo a lixo... Mas a faculdade hoje não
garante emprego nem estabilidade para ninguém. Eu quero
segurança", diz ele, que, no entanto, planeja continuar estudando para no futuro trocar o
trabalho de gari pelo de professor de escola pública.
"Meu sonho é dar aula, é o
que eu gosto de fazer", afirma o
estudante de história.
Já Ronaldo Carlos da Silva,
42, ex-aluno do curso de letras
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), vê no
concurso de gari a chance de
reorganizar a vida, após um ano
de desemprego.
Se for bem-sucedido, pretende voltar à sala de aula, que teve
de abandonar quando ainda estava no terceiro período do curso -sem trabalho fixo, tinha dificuldades até para pagar o
transporte para ir à universidade. Insatisfeito com a faculdade
de letras, porém, quer cursar
direito. "Vou fazer um curso
preparatório", planeja.
Também desempregada,
Thaiane do Prado Gomes, 21,
estranhou ao ouvir que iria disputar vagas com pessoas com
curso superior e até mestrado e
doutorado. "Isto aqui é para
quem não tem escolaridade.
Para os outros tem mais oportunidade. Eu mesma, que completei o segundo grau, fiquei na
dúvida se devia me inscrever."
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