São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2011

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Época de chuva começa, mas obras em áreas de risco, não

Ao menos 62 intervenções em encostas ou córregos ainda continuam no papel

Regiões críticas são de conhecimento da prefeitura paulistana desde 2003; promotor ameaça entrar com ação

Eduardo Anizelli/Folhapress
Barracos construídos em área de risco no Campo Limpo

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO

NATÁLIA CANCIAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quase um mês após o início da temporada de chuvas, que vai de outubro a março, ao menos 62 obras previstas pela Prefeitura de São Paulo para evitar acidentes em áreas de risco não começaram.
Quase todas as intervenções visam resolver problemas conhecidos pelo poder público há pelo menos oito anos, quando foi concluído o primeiro mapeamento de encostas e córregos na cidade.
O mapa de áreas de risco foi atualizado em janeiro deste ano pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
Das 62 intervenções previstas pela gestão do prefeito GIlberto Kassab (PSD), 47 ainda estão em fase de licitação. O restante teve a disputa encerrada em setembro, mas as obras ainda não começaram.
Em 60 delas, os prazos para execução vão de dois a seis meses, ou seja, parte só estará concluída quando o período de chuvas tiver acabado.
A maioria envolve estabilização de encostas e de declives para impedir deslizamentos ou contenção de margens de córregos para evitar solapamentos (afundamentos).
Ao todo, o pacote custará R$ 554 milhões. Cerca de 95% do gasto será destinado a duas obras: a canalização de um córrego em M´Boi Mirim, bairro da zona sul que concentra boa parte das áreas de risco da cidade, e a ampliação da capacidade de córregos na Pompeia, na zona oeste.
Cerca de 536 mil pessoas moram em áreas de risco em São Paulo, sendo que 25% estão em locais classificados como R4 (risco muito alto).
A dona de casa Socorro Souza, 50, é uma delas. Ela mora no topo de um morro no Jardim Olaria, no distrito de Campo Limpo, zona sul.
O edital para obras no local foi lançado apenas no final de setembro. A licitação ainda não está concluída.
Em 2009, ela foi vítima de um deslizamento no local. Viu parte da estrutura da casa desabar. "Eram 2h e chovia forte. Ouvi as telhas estalarem. Só deu tempo de sair."
Com o desabamento, ela perdeu dois cômodos da casa. Agora, vive no espaço reduzido do único cômodo que ficou de pé. Diz nunca ter visto obras na região. "Fico nervosa a cada chuva forte. Tenho medo de ver cair o resto."
O promotor Maurício Ribeiro Lopes, que acompanha um inquérito sobre enchentes em São Paulo desde 2003, diz que vai propor ações civis públicas nos casos em que as autoridades não executaram as intervenções necessárias para essa temporada de chuvas.
"Oito anos deve ter sido um bom tempo para o mapeamento dos problemas. Já chegou o momento de cobrar."


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