São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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Aeronáutica admite erro de controlador no caso Boeing

Comandante da FAB, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, reconheceu falha no Senado

Ele disse que o operador presumiu incorretamente que o jato Legacy estava a 36 mil pés, e não em rota de colisão com o Boeing da Gol

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado por senadores, o comandante da Aeronáutica reconheceu ontem pela primeira vez que houve erro do controle do tráfego aéreo de Brasília no dia do acidente do vôo 1907 da Gol.
Segundo o brigadeiro Luiz Carlos Bueno, dois controladores responsáveis pelo Legacy na hora anterior ao choque, às 16h56 do dia 29 de setembro, presumiram incorretamente que o jato estava a 36 mil pés depois de passar pela capital -conforme o plano de vôo no computador previa.
Na realidade, o jato permaneceu erroneamente em 37 mil pés, altitude que mantinha desde São José dos Campos, em rota de colisão com o Boeing da Gol que vinha de Manaus.
Isso explicaria o fato de os controladores não terem se preocupado em contatar por rádio o Legacy durante 35 minutos -24 deles com o avião desaparecido da tela do chamado radar secundário, que usa os dados transmitidos pelo transponder da aeronave (altitude, velocidade e identificação).
"Eu acho que houve uma indução de que o avião estava em 360 [jargão militar para 36 mil pés, ou 10,9 km]. Tanto é que ele [o controlador] passou para o substituto dele [controlador com o qual se reveza no mesmo turno], que passou para Manaus, o avião no nível 360", disse o brigadeiro em audiência pública ontem no Senado.
Ele fez a ressalva de que não tem acesso a relatórios oficiais da investigação e disse que é preciso descobrir o motivo para a falha no transponder do avião e na comunicação por rádio entre o Legacy e Brasília.
"O controlador estava crente que o avião estava em 360. Era uma informação falsa, mas que ele não acreditava que fosse falsa." Bueno se refere ao fato, já relatado por controladores à Folha, de que o console mostra duas séries de dados ao lado do ponto que representa o avião: as do plano de vôo e as enviadas pelo transponder.
Quando o transponder falha, como foi o caso, aparecem na tela apenas os dados do plano de vôo, que são atualizados automaticamente pelo computador. No caso do Legacy, os consoles informavam 370 de São José até Brasília e 360 de Brasília até o ponto Teres.
Na tarde de 29 de setembro, os dois controladores se revezaram no console que vigiou a passagem do Legacy exatamente no horário em que o transponder parou de funcionar.
O que Bueno sustenta indica que o primeiro controlador deixou o jato passar Brasília sem checar a mudança prevista de altitude. O segundo deduziu que os dados, referentes apenas ao plano de vôo, estavam corretos ou checados.


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