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Governo quer limitar anúncio para criança
Agência Nacional de Vigilância Sanitária discute restringir propaganda de alimentos e defende alertas sobre problemas de saúde
Depois de aprovadas, as medidas valerão para os produtos com quantidades elevadas de açúcar, sódio e gorduras saturadas e trans
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após quase dois anos de discussão, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
colocou em consulta pública a
proposta de resolução que limita regras de publicidade de alimentos, com foco especial em
anúncios para crianças.
Entre as sugestões estão: 1)
proibir a divulgação de brindes
voltados a crianças e condicionados à compra de alimentos,
assim como a distribuição de
amostras grátis; 2) determinar
que a publicidade traga alertas,
como "O consumo excessivo de
açúcar aumenta o risco de desenvolver obesidade"; e 3) limitar a propaganda no rádio e na
TV entre as 21h e as 6h.
Se aprovado, o pacote valerá
para alimentos com altas taxas
de açúcar, gordura saturada e
trans, sódio e bebidas com baixo teor nutricional. Engloba
jornais, revistas, TV, rádio, internet e até jogos eletrônicos e
competições esportivas.
O prazo da consulta pública
começou na semana passada e
se estenderá por 60 dias. Depois a Anvisa realizará audiência pública e finalizará o texto.
Só aí as regras passarão a valer.
A gerente de monitoramento
e fiscalização de propaganda da
Anvisa, Maria José Delgado, diz
que a proposta decorre da recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de indicadores epidemiológicos, que
apontam aumento de doenças
crônicas, como diabetes e obesidade, em parte causado por
maus hábitos alimentares.
Há 5,5 milhões de brasileiros
(11% da população com mais de
40) diabéticos. "Estamos buscando uma regulação factível,
que possa ser cumprida."
Atualmente não há restrição
à publicidade desses tipos de
produto. O que existe é uma regulação do Conar (Conselho
Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), que em setembro atualizou normas éticas para produtos destinados a
crianças e alimentos. Nelas fica
definido que o anúncio não deve menosprezar a alimentação
saudável nem explorar benefícios, como êxito social.
O presidente do Conar, Gilberto Leifert, questiona o fato
de a Anvisa fazer uma resolução para tratar do tema, alegando que a regulamentação deveria ser aprovada pelo Congresso, via projeto de lei. "A publicidade não é nociva. Ao contrário, informa o consumidor. A
melhor forma de o governo tratar do caso é divulgando hábitos saudáveis de alimentação."
Para a gerente da Anvisa, a lei
dá ao órgão poder para regular
o assunto. Países como Alemanha e Inglaterra já adotam restrições à propaganda de alimentos voltada às crianças.
Proibição
Para José Augusto Taddei,
chefe da disciplina de nutrologia do Departamento de Pediatria da Unifesp, propagandas de
alimentos com foco no público
infantil deveriam ser proibidas.
Num estudo, Taddei analisou
propagandas desse tipo e chegou à conclusão de que elas são
negativas para a educação alimentar e o desenvolvimento do
processo criativo de crianças.
"A criança, principalmente
em idade pré-escolar, não consegue separar o que é propaganda do que é programação.
As propagandas são enganosas,
dizem que quem consome os
alimentos fica mais inteligente,
mais bonito."
O estudo foi feito com os canais de TV Globo e SBT. Os resultados mostram que a cada
hora de comercial, cerca de oito
minutos são de propaganda infantil e desses, dois minutos
são de alimentos para crianças.
Colaborou MARIANA TAMARI , da Reportagem
Local
NA INTERNET
Para conhecer a proposta e dar sugestões:
www.anvisa.gov.br/divulga/consulta/index.htm
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