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ANGEL ROBERTO BONINO (1932-2008)
A arte em vidro de um ex-tupamaro
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Roberto dizia-se arrependido de cenas como esta: certo dia, um camponês, que nada tinha com a história, viu a
entrada de um esconderijo
de guerrilheiros. Mataram-no, com medo de delação.
Nascido em Minas, no Uruguai, Angel Roberto Bonino
odiava seu primeiro nome.
Aos 11, saiu sozinho de casa. A
mãe havia morrido, e ele não
se dava bem com o pai.
Em Montevidéu, trabalhou
numa fábrica de alpargatas e
tornou-se líder sindical. Chegou a estudar medicina por
quatro anos, mas teve de desistir do curso.
Contava que o movimento
Tupamaro começou com 22
pessoas. No começo, pretendiam combater a corrupção.
Acabaram na luta armada.
Especialista em explosivos,
fez treinamento em Cuba, Líbia e Coréia do Norte. Visitou
a URSS várias vezes, e participou de operações comunistas
no Vietnã, contra os EUA.
Foi ainda guarda-costas de
Che Guevara, numa visita do
guerrilheiro ao Uruguai. Ganhou uma camisa do ídolo.
Condenado à prisão perpétua nos anos 70, Roberto ficou cerca de oito anos preso
no Uruguai, até que a anistia
foi declarada. Foi torturado
por 14 meses seguidos.
Depois de solto, veio morar
em São Paulo. Aqui, casou-se
com uma arquiteta, tornou-se artista plástico e mestre
em vidro. Dava aulas em seu
ateliê. Trabalhou num móbile
existente no Hilton Hotel, em
São Paulo, que ele dizia ser a
maior escultura em vidro da
América Latina.
Morreu domingo, aos 76,
em SP, em conseqüência de
uma apendicite que não tratou. Não gostava de hospitais.
Teve três filhos (um deles
chamado Tabaré, como o presidente uruguaio, também
ex-tupamaro) com a primeira
mulher e um neto.
obituario@grupofolha.com.br
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