São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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ANGEL ROBERTO BONINO (1932-2008)

A arte em vidro de um ex-tupamaro

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto dizia-se arrependido de cenas como esta: certo dia, um camponês, que nada tinha com a história, viu a entrada de um esconderijo de guerrilheiros. Mataram-no, com medo de delação.
Nascido em Minas, no Uruguai, Angel Roberto Bonino odiava seu primeiro nome. Aos 11, saiu sozinho de casa. A mãe havia morrido, e ele não se dava bem com o pai.
Em Montevidéu, trabalhou numa fábrica de alpargatas e tornou-se líder sindical. Chegou a estudar medicina por quatro anos, mas teve de desistir do curso.
Contava que o movimento Tupamaro começou com 22 pessoas. No começo, pretendiam combater a corrupção. Acabaram na luta armada.
Especialista em explosivos, fez treinamento em Cuba, Líbia e Coréia do Norte. Visitou a URSS várias vezes, e participou de operações comunistas no Vietnã, contra os EUA.
Foi ainda guarda-costas de Che Guevara, numa visita do guerrilheiro ao Uruguai. Ganhou uma camisa do ídolo.
Condenado à prisão perpétua nos anos 70, Roberto ficou cerca de oito anos preso no Uruguai, até que a anistia foi declarada. Foi torturado por 14 meses seguidos.
Depois de solto, veio morar em São Paulo. Aqui, casou-se com uma arquiteta, tornou-se artista plástico e mestre em vidro. Dava aulas em seu ateliê. Trabalhou num móbile existente no Hilton Hotel, em São Paulo, que ele dizia ser a maior escultura em vidro da América Latina.
Morreu domingo, aos 76, em SP, em conseqüência de uma apendicite que não tratou. Não gostava de hospitais. Teve três filhos (um deles chamado Tabaré, como o presidente uruguaio, também ex-tupamaro) com a primeira mulher e um neto.

obituario@grupofolha.com.br


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