São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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SAÚDE

Embranquecimento não está associado à queda; evidências mostram que a velocidade do processo varia conforme a raça

Cabelos brancos nascem mais fortes

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cabelos brancos não sofrem mudanças em sua estrutura ao perderem a cor. Não são mais fracos e propensos à queda. Segundo dermatologistas, nascem até mais grossos, fortes e rebeldes. Isso porque a melanina, que lhes dava cor, é substituída temporariamente por bolhas de ar.
Os fios perdem a cor por causa da apoptose (autodestruição programada) dos melanócitos, células produtoras da melanina alojadas no bulbo capilar. O "espaço" antes ocupado pela melanina é preenchido pelo ar.
"Com o tempo, o cabelo não tem mais diferença em relação ao cabelo pigmentado", diz o dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo.
"O cabelo despigmentado não é mais frágil", diz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Marcio Rutowitsch.
Segundo cabeleireiros consultados, os fios resistem bem mesmo aos procedimentos mais agressivos, como amaciamentos.
De acordo com dados da Oxford Hair Foundation, entidade inglesa de estudos sobre o cabelo, aos 50 anos, 50% da população em geral tem pelo menos 50% de fios brancos. O processo costuma começar entre os 30 e 40 anos. Mas os dermatologistas não vêem anormalidade no fato de jovens terem cabelos grisalhos.
Há evidências de que a velocidade de embranquecimento dos fios seja diferente nas raças. Aos 45 anos, 80% dos brancos já têm fios brancos. Entre os orientais, aos 50 anos, 80% têm os cabelos grisalhos. Já entre os negros, a mesma proporção da população só tem cabelos brancos aos 55 anos. A diferença, ao que parece, se baseia na distribuição dos melanócitos, influenciada pelo ângulo da raiz do cabelo em relação à pele.

Arrancando os cabelos
Cientistas já "arrancaram" (os próprios) cabelos, literalmente, para investigar os fios brancos. Foi o caso de Charles-Édouard Brown-Séquard, em meados do século 19. "Até hoje a medicina não explica 100% deste fenômeno", diz a dermatologista do Hospital das Clínicas de São Paulo Ana Paula Meschi.
Fatores genéticos e hereditariedade podem ser o estopim do processo de embranquecimento.
As doenças da tireóide também podem causar o problema. Pessoas desnutridas ganham uma cor amarelada nos cabelos, diz Ana Paula. Em alguns casos de anemia também há alterações.
Estudos recentes mostraram que o fumo e o diabetes, por alterarem a irrigação da raiz, podem levar ao embranquecimento.
Há vários registros na história de pessoas que teriam ficado de cabelos brancos por causa do estresse. Seria o caso, por exemplo, da rainha francesa Maria Antonieta -que rapidamente teria perdido a cor dos fios ao saber da iminente decapitação.
De acordo com os especialistas, é mais provável que tenha ocorrido uma queda abrupta dos cabelos decorrente do pavor. Como os fios brancos recentes são mais resistentes, só eles lhe sobraram na cabeça.

Tintas
O única saída para quem não é feliz com os fios brancos ainda é a tinta. Mas não se iluda. Os produtos transparentes, que prometem "devolução da cor natural sem sujeira", também são tinta. E os resultados podem ser muito ruins.
De acordo com os dermatologistas, eles são "tintas transparentes". A coloração se dá pelo depósito de metais pesados, que paulatinamente oxidam os fios. Primeiro dão um tom amarelado e depois escurecem o cabelo, mas podem deixar falhas. É como se enferrujassem os fios.
Produtos via oral que prometem tonificar o cabelo por enquanto têm resultados desanimadores. Um deles, de origem suíça, tem como base o betacaroteno, percursor da vitamina A. O cabelo branco ganha apenas um tom amarelado. Uma empresa americana percebeu que um gel elaborado inicialmente para acelerar o crescimento de cabelos após o tratamento quimioterápico conseguiu pigmentar novamente alguns fios. Mas a droga ainda está em estudo.


Colaborou Bruno Lima, da Reportagem Local


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