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Pesquisa mostra que 16% dos pais de paulistanos nasceram na BA; entre 91 e 96, a capital ganhou 180 mil novos moradores do NE
Há mais filho de baiano que de paulistano
da Reportagem Local
Há mais moradores de São Paulo que são filhos de baianos do
que filhos de paulistanos. Levantamento do Datafolha mostra que
16% dos pais dos paulistanos são
nascidos na Bahia. Um ponto percentual a mais do que os paulistanos filhos de paulistanos.
Os paulistanos "da gema", nascidos e criados na cidade de São
Paulo, também são minoria: 47%
contra 53% que vieram do interior ou de outros Estados, segundo o Datafolha.
Esse dado é apenas um dos vários que permitem concluir que o
paulistano é um ser inexistente,
um monstro de várias caras formado por pessoas de todos os lugares do mundo. Devido à grande
presença de migrantes e imigrantes na formação da cidade, a
maior parte dos moradores nasceu fora da cidade ou tem família
que veio de outros lugares.
"Não existe um paulistano típico, com essa fala e esse modo característico que as novelas tentam
forçar", conclui a historiadora e
escritora Zuleika Alvim, especializada na história de São Paulo. "O
paulistano é uma mescla enorme
entre brasileiros e nordestinos,
que dá uma característica própria
à cidade."
Estudo da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) aponta números diferentes
do Datafolha, mas que apontam
para conclusões semelhantes. A
diferença é justificada pela metodologia. O Datafolha ouviu 1.105
moradores de São Paulo. A Seade
baseou-se na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que entrevistou dez vezes
mais pessoas.
Pelas conclusões da Seade, 2,5
milhões de moradores de São
Paulo (25%) são filhos de paulistanos. A porcentagem de paulistanos nascidos em São Paulo também é maior: 54%.
A pesquisa do Datafolha tem
mais detalhes sobre a origem dos
paulistanos. De acordo com o levantamento, 11% nasceram no interior de São Paulo, um ponto
percentual a mais do que aqueles
que nasceram na Bahia. Os mineiros são 7% da população, mesmo
percentual dos cearenses.
Já em relação à origem dos pais,
os mineiros aparecem empatados
em segundo lugar com os paulistanos, com 15%, um ponto percentual a menos do que os baianos. Depois, numa clara demonstração da influência nordestina na
população paulistana, aparecem
pela ordem interior de São Paulo
(14%), Pernambuco (10%), Alagoas (4%), Ceará (4%) e Paraíba
(3%). Os filhos de estrangeiros
são 6%.
Gerações
A historiadora Zuleika explica
que, por maior que venha a ser a
presença dos nascidos em São
Paulo na população paulistana, a
cidade continuará com uma característica de diversidade cultural. Para ela, o "paulistano da gema" é uma espécie inexistente,
devido à grande influência das gerações anteriores.
"Uma pessoa nascida em São
Paulo, filha de pais de outros locais, não pode ser considerada
paulistana. A segunda geração
tem uma influência profunda da
primeira. Somente na quarta geração é possível dizer que as influências da origem foram superadas", explica Zuleika.
Considerando que quatro gerações atrás São Paulo era uma cidade de 100 mil habitantes, a influência de outros locais está
impregnada na quase totalidade dos moradores da cidade de hoje.
Nabil Bonduki, professor de história do urbanismo da Universidade Federal de São Carlos, segue o mesmo raciocínio de Zuleika. Para
ele, a grande mistura de influências transforma São
Paulo em um local multicultural, com predomínio de
diferentes culturas em diferentes partes da cidade.
"É o que ocorre em outras grandes metrópoles
que receberam uma
grande quantidade de
imigrantes, como Nova
York e Londres", teoriza
Bonduki.
Já Rosana Baeninger, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, prevê que
São Paulo terá cada vez mais influência nordestina. Ela analisou a
troca populacional (exportação
menos importação de moradores) entre a cidade de São Paulo e
todas as outras regiões do país
"Na última década, a cidade de
São Paulo perdeu população para
todas as regiões do Estado e do
país. A única exceção é o Nordeste", analisa Rosana. Entre 1991 e
1996, a capital ganhou 180 mil novos moradores nordestinos. "Isso
mostra que São Paulo terá cada
vez mais influência nordestina,
embora não perca sua maior característica, de ser uma cidade de
muitas influências, com a população em constante movimento."
(OTÁVIO CABRAL)
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