São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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Pesquisa mostra que 16% dos pais de paulistanos nasceram na BA; entre 91 e 96, a capital ganhou 180 mil novos moradores do NE
Há mais filho de baiano que de paulistano

da Reportagem Local

Há mais moradores de São Paulo que são filhos de baianos do que filhos de paulistanos. Levantamento do Datafolha mostra que 16% dos pais dos paulistanos são nascidos na Bahia. Um ponto percentual a mais do que os paulistanos filhos de paulistanos.
Os paulistanos "da gema", nascidos e criados na cidade de São Paulo, também são minoria: 47% contra 53% que vieram do interior ou de outros Estados, segundo o Datafolha.
Esse dado é apenas um dos vários que permitem concluir que o paulistano é um ser inexistente, um monstro de várias caras formado por pessoas de todos os lugares do mundo. Devido à grande presença de migrantes e imigrantes na formação da cidade, a maior parte dos moradores nasceu fora da cidade ou tem família que veio de outros lugares.
"Não existe um paulistano típico, com essa fala e esse modo característico que as novelas tentam forçar", conclui a historiadora e escritora Zuleika Alvim, especializada na história de São Paulo. "O paulistano é uma mescla enorme entre brasileiros e nordestinos, que dá uma característica própria à cidade."
Estudo da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) aponta números diferentes do Datafolha, mas que apontam para conclusões semelhantes. A diferença é justificada pela metodologia. O Datafolha ouviu 1.105 moradores de São Paulo. A Seade baseou-se na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que entrevistou dez vezes mais pessoas.
Pelas conclusões da Seade, 2,5 milhões de moradores de São Paulo (25%) são filhos de paulistanos. A porcentagem de paulistanos nascidos em São Paulo também é maior: 54%.
A pesquisa do Datafolha tem mais detalhes sobre a origem dos paulistanos. De acordo com o levantamento, 11% nasceram no interior de São Paulo, um ponto percentual a mais do que aqueles que nasceram na Bahia. Os mineiros são 7% da população, mesmo percentual dos cearenses.
Já em relação à origem dos pais, os mineiros aparecem empatados em segundo lugar com os paulistanos, com 15%, um ponto percentual a menos do que os baianos. Depois, numa clara demonstração da influência nordestina na população paulistana, aparecem pela ordem interior de São Paulo (14%), Pernambuco (10%), Alagoas (4%), Ceará (4%) e Paraíba (3%). Os filhos de estrangeiros são 6%.

Gerações
A historiadora Zuleika explica que, por maior que venha a ser a presença dos nascidos em São Paulo na população paulistana, a cidade continuará com uma característica de diversidade cultural. Para ela, o "paulistano da gema" é uma espécie inexistente, devido à grande influência das gerações anteriores.
"Uma pessoa nascida em São Paulo, filha de pais de outros locais, não pode ser considerada paulistana. A segunda geração tem uma influência profunda da primeira. Somente na quarta geração é possível dizer que as influências da origem foram superadas", explica Zuleika.
Considerando que quatro gerações atrás São Paulo era uma cidade de 100 mil habitantes, a influência de outros locais está impregnada na quase totalidade dos moradores da cidade de hoje.
Nabil Bonduki, professor de história do urbanismo da Universidade Federal de São Carlos, segue o mesmo raciocínio de Zuleika. Para ele, a grande mistura de influências transforma São Paulo em um local multicultural, com predomínio de diferentes culturas em diferentes partes da cidade.
"É o que ocorre em outras grandes metrópoles que receberam uma grande quantidade de imigrantes, como Nova York e Londres", teoriza Bonduki.
Já Rosana Baeninger, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, prevê que São Paulo terá cada vez mais influência nordestina. Ela analisou a troca populacional (exportação menos importação de moradores) entre a cidade de São Paulo e todas as outras regiões do país
"Na última década, a cidade de São Paulo perdeu população para todas as regiões do Estado e do país. A única exceção é o Nordeste", analisa Rosana. Entre 1991 e 1996, a capital ganhou 180 mil novos moradores nordestinos. "Isso mostra que São Paulo terá cada vez mais influência nordestina, embora não perca sua maior característica, de ser uma cidade de muitas influências, com a população em constante movimento."
(OTÁVIO CABRAL)


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