São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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Pressão do dia-a-dia pode se transformar em tensão positiva, que desafia e permite realizar melhor as tarefas obrigatórias
Estresse ajuda paulistano a sobreviver

GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local

Para um turista, São Paulo pode parecer caótica. Mas os paulistanos já estão acostumados com trânsito, enchentes e filas no banco, no cinema e nos restaurantes. Pode ser difícil de acreditar, mas há um lado positivo nesse cotidiano estressante.
A pressão imposta ao paulistano, que causa o estresse do dia-a-dia, o obriga a completar um número maior de tarefas e a superar desafios. "A pressão é necessária. Ela é a mola que propicia a pessoa a fazer o que precisa ser feito", diz Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
No entanto, como tudo na vida, o estresse precisa ser moderado. Ela cita o exemplo de um atleta que precisa treinar para uma competição. Todo dia, o esportista acorda e treina. Ele sente uma pressão para fazer isso, o que pode ser considerado um estresse positivo.
A palavra estresse está popularmente associada a um contexto negativo. Na realidade, existem dois tipos de estresse: o negativo, chamado distresse, e o positivo, conhecido como eustresse.
"Virou moda uma pessoa dizer que está estressada", diz. "Mas, na verdade, nem sempre a pessoa está." Ela explica que cada indivíduo responde de forma diferente ao estresse. A intensidade da pressão pode ser interpretada de forma diferente por cada pessoa.
Enquanto algumas superam os desafios, outras podem se sentir cobradas e perdem a motivação. Se isso vira crônico, a pessoa está estressada.
Em São Paulo, a maioria dos moradores se acostumam a lidar com as situações estressantes. "A rotina oferece o conhecimento para a pessoa criar mecanismos de adaptação", explica Ricardo Alberto Moreno, do IPq. "Esses recursos são adquiridos com a experiência."
Uma pessoa que vem da zona rural, explica Moreno, tem dificuldade de atravessar a rua ou pegar um ônibus na capital paulista. Para ele, essas situações são consideradas estressantes.
Pessoas que moram em metrópoles, como São Paulo, acabam superando os pequenos desafios com uma certa rotina. Isso as torna mais dinâmicas. "Há um nível maior de exigência, o que leva a um crescimento individual maior", afirma Alexandrina.
Ela explica que a cidade providencia as situações estressantes e o paulistano aprende a lidar cada vez melhor com esses desafios.
Às vezes, os desafios são maiores, como o desemprego. Embora essa questão não seja exclusiva da Grande São Paulo, o índice alto de desemprego (17,5% da população economicamente ativa, segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) é um fator de muita pressão.
Segundo Alexandrina, durante uma entrevista de emprego, é natural estar estressado. "Isso mostra preocupação, o que pode ser interpretado como um sinônimo de dedicação", diz.
A expectativa e a ansiedade, que fazem parte do estresse de uma entrevista, podem garantir melhor desempenho, avalia Moreno.
Em outras palavras, é natural um paulistano estar estressado. O importante é aprender a viver com o estresse.

Como lucrar
Muitos empreendedores aproveitam o fato de São Paulo ser estressante para ganhar alguns trocados. Uma das opções é fazer uma terapia oriental. Segundo Silvia Ferreira, terapeuta do Grupo de Terapias Orientais, o estresse promove alterações fisiológicas, como dor muscular, que são tratadas com técnicas orientais.
Ela explica que cada pessoa é entrevistada para então se decidir qual massagem é a mais indicada. "Nem sempre uma pessoa precisa da mesma terapia", afirma.
A psicóloga Isaura Maria Henrique Kutait, do Centro Médico Brooklin, oferece um tratamento com florais de Bach para aliviar o estresse.
Os florais seriam tranquilizantes. "No entanto, é recomendado o uso dos florais sob supervisão de psicólogos especializados."


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