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REBELIÃO DOS FOFOS
Entidade internacional prega que pessoas com sobrepeso aprendam a conviver bem com o próprio corpo
Movimento incentiva auto-estima de gordos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Vivemos em um mundo muito
grande, afinal de contas. O slogan
é um dos que move, há mais de
uma década, ativistas que pregam
que os gordinhos não se escondam, não deixem de se divertir e
de se cuidar e -não sem polêmica com o meio médico- que é
possível ser gordo e saudável.
"É uma resposta à discriminação em relação às pessoas gordas.
O que descobrimos é que empresas, médicos, companhias de seguros e mesmo escolas estavam
começando a discriminar pessoas
por causa do seu tamanho. Por
exemplo, tinham de pagar muito
por um seguro só porque eram
gordas, não importando se eram
saudáveis ou não", afirma Allen
Steadham, 35, fundador e diretor
da ISAA ("International Size Acceptance Association"), movimento que quer aumentar a auto-estima de pessoas gordas, com sede no Texas e braços em vários
países, inclusive o Brasil.
Steadham, que não é gordo
-tem 1,77 m e 84 kg-, mas já fez
regime por necessidade médica,
pesquisava sobre o assunto para
escrever uma história sobre pessoas gordas, ficou comovido com
relatos de discriminação e sentiu
vontade de ajudar -hoje tem
2.000 associados formais só nos
EUA. Ri quando a reportagem
lembra que, talvez, um dia o movimento seja mais popular aqui,
onde, segundo pesquisa do IBGE
divulgada no fim de 2004, 40,6%
dos brasileiros com 20 anos ou
mais já sofrem de sobrepeso, fase
anterior à obesidade.
"Queremos que as pessoas acreditem que podem fazer coisas
apesar do seu tamanho. Enfatizamos o fitness e escolhas certas de
comida saudável. Um conceito errado sobre o movimento é que incentivamos as pessoas a ficarem
gordas. Pessoas que se sentem
bem cooperam mais para ficarem
saudáveis", diz.
No Brasil, o movimento tomou
forma há seis anos no "Magnus
Corpus", filial tocada pela webdesigner Denise Neumann, 39, ainda sem ter feito muito barulho.
Um dos exemplos para o grupo,
diz Neumann, é o apresentador Jô
Soares, que sempre fala da sua
saúde. A diretora teme o avanço,
ano a ano, da indústria das dietas
milagrosas. "Nos países em que
há mais essa neurose, há mais
problemas." É o efeito iô-iô, ou
sanfona, pior para a saúde do que
ficar gordo, dizem os médicos.
Contra dietas radicais, pela reeducação alimentar -no que tem
apoio da comunidade médica-,
o movimento começa a criar polêmica quando se opõe a cirurgias, aplicação de remédios, fala
em gordura com saúde, que algumas pessoas sempre serão gordas,
ou ao pedir parcimônia na aplicação do consagrado IMC. Acredita
que os padrões do índice estão cada vez mais radicais.
O IMC, índice de massa corporal, é o peso dividido pela altura
ao quadrado, utilizado para definir se uma pessoa está obesa. Para
resultados a partir de 30, a resposta é sim. Mas o movimento lembra que a massa de músculos não
é levada em conta. "Assim, até Arnold Schwarzenegger [ator e governador da Califórnia] seria considerado gordo", diz Steadham.
"Eu acho que esse movimento
tem um lado positivo, quando
combate a angústia obstinada por
um ideal de beleza incompatível
com a saúde", afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, vice-presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade. "O negativo é se há a aceitação da gordura, como se não
fosse prejudicial. Mas ela é a segunda causa de morte evitável no
mundo, só perde para o cigarro."
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