São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

Próximo Texto | Índice

REBELIÃO DOS FOFOS

Entidade internacional prega que pessoas com sobrepeso aprendam a conviver bem com o próprio corpo

Movimento incentiva auto-estima de gordos

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Vivemos em um mundo muito grande, afinal de contas. O slogan é um dos que move, há mais de uma década, ativistas que pregam que os gordinhos não se escondam, não deixem de se divertir e de se cuidar e -não sem polêmica com o meio médico- que é possível ser gordo e saudável.
"É uma resposta à discriminação em relação às pessoas gordas. O que descobrimos é que empresas, médicos, companhias de seguros e mesmo escolas estavam começando a discriminar pessoas por causa do seu tamanho. Por exemplo, tinham de pagar muito por um seguro só porque eram gordas, não importando se eram saudáveis ou não", afirma Allen Steadham, 35, fundador e diretor da ISAA ("International Size Acceptance Association"), movimento que quer aumentar a auto-estima de pessoas gordas, com sede no Texas e braços em vários países, inclusive o Brasil.
Steadham, que não é gordo -tem 1,77 m e 84 kg-, mas já fez regime por necessidade médica, pesquisava sobre o assunto para escrever uma história sobre pessoas gordas, ficou comovido com relatos de discriminação e sentiu vontade de ajudar -hoje tem 2.000 associados formais só nos EUA. Ri quando a reportagem lembra que, talvez, um dia o movimento seja mais popular aqui, onde, segundo pesquisa do IBGE divulgada no fim de 2004, 40,6% dos brasileiros com 20 anos ou mais já sofrem de sobrepeso, fase anterior à obesidade.
"Queremos que as pessoas acreditem que podem fazer coisas apesar do seu tamanho. Enfatizamos o fitness e escolhas certas de comida saudável. Um conceito errado sobre o movimento é que incentivamos as pessoas a ficarem gordas. Pessoas que se sentem bem cooperam mais para ficarem saudáveis", diz.
No Brasil, o movimento tomou forma há seis anos no "Magnus Corpus", filial tocada pela webdesigner Denise Neumann, 39, ainda sem ter feito muito barulho.
Um dos exemplos para o grupo, diz Neumann, é o apresentador Jô Soares, que sempre fala da sua saúde. A diretora teme o avanço, ano a ano, da indústria das dietas milagrosas. "Nos países em que há mais essa neurose, há mais problemas." É o efeito iô-iô, ou sanfona, pior para a saúde do que ficar gordo, dizem os médicos.
Contra dietas radicais, pela reeducação alimentar -no que tem apoio da comunidade médica-, o movimento começa a criar polêmica quando se opõe a cirurgias, aplicação de remédios, fala em gordura com saúde, que algumas pessoas sempre serão gordas, ou ao pedir parcimônia na aplicação do consagrado IMC. Acredita que os padrões do índice estão cada vez mais radicais.
O IMC, índice de massa corporal, é o peso dividido pela altura ao quadrado, utilizado para definir se uma pessoa está obesa. Para resultados a partir de 30, a resposta é sim. Mas o movimento lembra que a massa de músculos não é levada em conta. "Assim, até Arnold Schwarzenegger [ator e governador da Califórnia] seria considerado gordo", diz Steadham.
"Eu acho que esse movimento tem um lado positivo, quando combate a angústia obstinada por um ideal de beleza incompatível com a saúde", afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, vice-presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade. "O negativo é se há a aceitação da gordura, como se não fosse prejudicial. Mas ela é a segunda causa de morte evitável no mundo, só perde para o cigarro."


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.