São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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Medida pode gerar preconceito

DA REPORTAGEM LOCAL

Psiquiatras apóiam o uso de testes toxicológicos em casos de emergência médica, mas temem que a medida gere situações de preconceito nos hospitais.
Crítico do teste nas empresas, o médico Dartil Xavier da Silveira, professor de psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e consultor do Ministério da Saúde, é favorável à medida nas emergências cardiológicas. "Há situações de exceção. Essa é uma delas", afirma.
Silveira diz que muitos usuários de droga não informam a condição aos médicos, porque temem serem denunciados à polícia, à família ou aos planos de saúde. "Há preconceito na classe médica. Muitos tratam com descaso os usuários de droga. Acham que é sem-vergonhice, e não doença."
Para o médico Marcelo Niel, psiquiatra do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), falta preparo das equipes clínicas para lidar com usuários de drogas de forma menos preconceituosa.
André Malbergier, professor do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo, diz que nenhum exame toxicológico deve preceder a abordagem clínica. Diante da negativa do paciente, ele acredita que o cardiologista deva explicar a importância do teste e pedir autorização para a realização do exame.
"Precisamos trabalhar primeiro o vínculo. O paciente precisa se sentir à vontade para revelar sua condição. Mas, o mais comum, é haver hostilidade", relata.
Na opinião do psiquiatra Sergio Seibel, da Associação Paulista de Medicina, não há necessidade de autorização do paciente porque, em grande parte dos casos, ele não se encontra em condições de informar nem decidir nada.
Artur Guerra, diretor do grupo de álcool e drogas da Faculdade de Medicina da USP-SP, lembra que o fato de o teste dar positivo não significa que o infarto ocorreu em razão do uso droga. "Não funciona o quadro alarmista. Mesmo que haja a associação, o dependente crônico acha que deu azar", afirma. (CC)


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