|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUEBRA DE SIGILO
Cerca de 300 empresas brasileiras fazem análises toxicológicas em funcionários; informações devem ser confidenciais
Psiquiatras relatam demissões após testes
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos quatro psiquiatras
que atuam em serviços de atendimento a drogados relatam casos
de demissões após testagens toxicológicas em ambiente de trabalho. As informações foram passadas a eles durante consultas médicas e, por isso, são confidenciais.
Hoje, cerca de 300 empresas
brasileiras realizam testes toxicológicos no ambiente de trabalho.
Por ano, são feitos no país em média 50 mil testes no processo de
admissão ou por sorteio aleatório
entre os empregados. Nos Estados Unidos, a média anual é de
100 milhões de testes.
Segundo Dartil Xavier da Silveira, professor de psiquiatria da
Unifesp e consultor do Ministério
da Saúde, os pacientes afirmam
que a demissão ocorreu logo após
a realização dos testes, mas, para
efeitos legais, as empresas apresentaram outras alegações para
justificar o ato. "Em geral, fala-se
em contenção de despesas."
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) ainda não recebeu
denúncias formais nesse sentido,
mas, para Cláudia Rejane de Lima, assessora técnica do Instituto
Nacional de Saúde no Trabalho,
ligada à central, o problema, se
confirmado, envolve falta de ética
tanto das empresas quanto dos
profissionais de saúde que estão
deixando vazar informações aos
empregadores.
"Eles estão expondo a intimidade do trabalhador. Afinal o papel
da medicina do trabalho é o compromisso com a saúde do trabalhador, e não com a instrumentalização e o controle", afirma.
O toxicologista Ovandir Alves
Silva, diretor científico do Maxilab, um dos laboratórios que fazem testagem toxicológica, diz
que desconhece casos de demissão após a testagem. "Pelo contrário. Conhecemos empresas que
dão uma, duas, até três chances ao
funcionário que teve o seu teste
positivado", afirma.
Para ele, as empresas que têm
programas de prevenção ao uso
de droga utiliza os testes com espírito de "responsabilidade social" e não punitivo. "Tanto que
muitas estendem seus programas
a familiares. Ninguém as obriga a
fazer isso."
Entre os psiquiatras, a maior
discussão fica por conta da ética
da aplicabilidade desses testes.
Eles defendem a testagem apenas
em profissões de alto risco -como pilotos de aviões, de ônibus,
policiais-, desde que tal condição esteja explicitada no contrato
de trabalho e o indivíduo esteja
consciente das conseqüências.
A metodologia das análises
também é questionada. Um resultado positivo revela apenas o contato do indivíduo com certa droga, mas não a quantidade consumida ou o lapso de tempo entre o
consumo e a análise, lembra o psiquiatra Dartil da Silveira.
Algumas substâncias, como a
cocaína, podem permanecer detectáveis no organismo por até oito dias.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
Texto Anterior: Nos EUA, teste não tem regra Próximo Texto: Cocaína pode levar a infarto Índice
|