São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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QUEBRA DE SIGILO

Cerca de 300 empresas brasileiras fazem análises toxicológicas em funcionários; informações devem ser confidenciais

Psiquiatras relatam demissões após testes

DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos quatro psiquiatras que atuam em serviços de atendimento a drogados relatam casos de demissões após testagens toxicológicas em ambiente de trabalho. As informações foram passadas a eles durante consultas médicas e, por isso, são confidenciais.
Hoje, cerca de 300 empresas brasileiras realizam testes toxicológicos no ambiente de trabalho. Por ano, são feitos no país em média 50 mil testes no processo de admissão ou por sorteio aleatório entre os empregados. Nos Estados Unidos, a média anual é de 100 milhões de testes.
Segundo Dartil Xavier da Silveira, professor de psiquiatria da Unifesp e consultor do Ministério da Saúde, os pacientes afirmam que a demissão ocorreu logo após a realização dos testes, mas, para efeitos legais, as empresas apresentaram outras alegações para justificar o ato. "Em geral, fala-se em contenção de despesas."
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) ainda não recebeu denúncias formais nesse sentido, mas, para Cláudia Rejane de Lima, assessora técnica do Instituto Nacional de Saúde no Trabalho, ligada à central, o problema, se confirmado, envolve falta de ética tanto das empresas quanto dos profissionais de saúde que estão deixando vazar informações aos empregadores.
"Eles estão expondo a intimidade do trabalhador. Afinal o papel da medicina do trabalho é o compromisso com a saúde do trabalhador, e não com a instrumentalização e o controle", afirma.
O toxicologista Ovandir Alves Silva, diretor científico do Maxilab, um dos laboratórios que fazem testagem toxicológica, diz que desconhece casos de demissão após a testagem. "Pelo contrário. Conhecemos empresas que dão uma, duas, até três chances ao funcionário que teve o seu teste positivado", afirma.
Para ele, as empresas que têm programas de prevenção ao uso de droga utiliza os testes com espírito de "responsabilidade social" e não punitivo. "Tanto que muitas estendem seus programas a familiares. Ninguém as obriga a fazer isso."
Entre os psiquiatras, a maior discussão fica por conta da ética da aplicabilidade desses testes. Eles defendem a testagem apenas em profissões de alto risco -como pilotos de aviões, de ônibus, policiais-, desde que tal condição esteja explicitada no contrato de trabalho e o indivíduo esteja consciente das conseqüências.
A metodologia das análises também é questionada. Um resultado positivo revela apenas o contato do indivíduo com certa droga, mas não a quantidade consumida ou o lapso de tempo entre o consumo e a análise, lembra o psiquiatra Dartil da Silveira.
Algumas substâncias, como a cocaína, podem permanecer detectáveis no organismo por até oito dias. (CLÁUDIA COLLUCCI)


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