São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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DIVERSIDADE

Criada em setembro, Unidos do Arco Íris é a primeira do público GLS no Brasil e vai desfilar no próximo dia 7

Belo Horizonte tenta atrair folião com escola gay

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O Carnaval em Belo Horizonte quase sempre é sinônimo de cidade vazia -somente pela rodoviária, 110 mil pessoas deixam o município. Neste ano, no entanto, uma novidade no desfile das escolas de samba pretende reverter o êxodo de foliões.
Criada em setembro, a Unidos do Arco Íris é a primeira escola de samba gay do Brasil. Ou, pelo menos, é como vem sendo tratada, com festa, em sites e publicações GLS pelo país.
O convite para a criação da escola veio da Liac (Liga Independente das Agremiações Carnavalescas de Minas Gerais). "Estávamos estudando o que poderia motivar o Carnaval de Belo Horizonte e resolvemos apoiar esse nicho de mercado", afirmou o presidente da Liac, Carlos Eugênio Demétrio, 34.
Quem assumiu a tarefa de estruturar a Unidos do Arco Íris foi o publicitário e militante gay Osmar Rezende, 50. "Deram dois meses e meio para a gente montar uma escola", disse.
De forma meio mambembe, a Unidos do Arco Íris -referência ao símbolo internacional do movimento gay- foi saindo do papel. Enquanto divulgava a proposta em casas e publicações voltadas ao público GLS, Rezende negociava com a prefeitura da capital mineira a cessão de um espaço para a escola, o que acabou não ocorrendo.
Sem uma sede, as atividades da escola ficaram dispersas. Fantasias e adereços, por exemplo, estão sendo produzidos em casas de costureiras e voluntários. O apartamento de Rezende, no centro de Belo Horizonte, tornou-se o QG da agremiação.
Para organizar o desfile, cada uma das dez escolas recebeu R$ 10 mil. "Estamos fazendo milagre com esse dinheiro", disse Rezende. As escolas deverão apresentar um desfile com pelo menos 300 integrantes, 40 ritmistas e um carro alegórico.
Na passarela da via 240, a Unidos do Arco Íris apresentará o samba-enredo "Nas Cores", eleito em um concurso público realizado em dezembro. A letra passa pela história do movimento gay no mundo, cita a cidade de Juiz de Fora -pólo gay mineiro- e termina com menções ao filme "O Mágico de Oz" (1939), ícone da mitologia gay.
Integrantes de outras escolas e blocos carnavalescos ajudarão a botar a Unidos do Arco Íris na avenida. O casal de porta-estandarte e mestre-sala, além da bateria, foi cedido pelo bloco Inocentes de Santa Tereza. As fantasias das baianas, ala que contará com mães de gays, são da escola Bem-te-vi.
A drag queen Aisla Pirv, 24, foi eleita a rainha da bateria da escola, em concorrida disputa realizada em uma boate GLS de Belo Horizonte. "Estou animadíssima", afirmou.
O único carro alegórico da escola -cujo conteúdo está sendo mantido em segredo -começou a ser construído na última quinta-feira.
Rezende afirma que ser gay não é requisito para entrar na escola. "A escola está aberta a toda orientação sexual", diz. Mas ressalva: "Tem de ser, pelo menos, simpático à causa." O desfile está marcado para o dia 7 de fevereiro, às 22h.


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