|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empreiteiras enfrentam "hiperconcorrência"
Redução de investimentos em obras públicas no Estado de São Paulo levou a demissões e enxugamento de custos
Busca de obras fora do Brasil e a criação de consórcios como o da linha 4 do metrô são as saídas adotadas pelas empresas para sobreviver
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado onde atuam as
empreiteiras responsáveis pelas obras da linha 4 do metrô
vem exigindo das empresas um
forte enxugamento de custos,
demissões em massa e a convivência em um ambiente de "hipercompetição" por verbas cada vez mais escassas.
Nos últimos 20 anos, os investimentos em obras públicas
realizados pelo Estado de São
Paulo diminuíram, apesar do
crescimento da economia no
período e do aumento da demanda da população por mais
bens e serviços.
Até meados dos anos 90, as
empreiteiras eram um dos segmentos mais poderosos da economia. Hoje, sobrevivem buscando obras fora do Brasil ou se
aliando em consórcios como o
da linha 4 atrás de uma rentabilidade média de 6% ao ano
-percentual considerado baixo para uma atividade que envolve grandes investimentos.
Na média, o governo paulista
investiu R$ 2,8 bilhões ao ano
em obras de infra-estrutura ao
longo da década de 90. Entre
2000 e 2006, a média anual
caiu para R$ 2,4 bilhões, segundo dados da Apeop (Associação
Paulista dos Empresários de
Obras Públicas).
No Plano Plurianual de Investimentos 2004-2007 do Estado, apenas 17 de 214 programas apresentados eram de interesse do setor da construção
civil. Em recursos diretos, o
gasto previsto representava só
2,35% do total dos desembolsos em todas as áreas.
"Hoje, as obras públicas são
um zero à esquerda para a
maioria das empresas. Quando
existem, provocam uma concorrência predatória e a tendência é ter mais "loucos" no
mercado atrás de qualquer coisa", afirma Fernando Pio, da
Alston, empresa francesa que
deve fornecer os vagões do metrô para a linha 4.
Na área de saneamento básico, onde a Alston também atua,
o faturamento no ano passado,
de 29 milhões previstos,
atingiu apenas 12 milhões.
Segundo Eduardo Capobianco, do Sinduscon, que reúne as
empresas do setor de construção civil, a redução dos ganhos
das empresas veio acompanhada de um aumento das exigências do setor público na execução de novas obras.
"Trabalhamos hoje com um
risco muito maior devido a essas exigências e com um nível
de rentabilidade e negócios
muito menor", afirma.
Capobianco qualifica como
"fatalidade" o acidente na linha
4 e sustenta que o mercado de
empreiteiras hoje é "muito
mais transparente" do que há
alguns anos, principalmente
antes da existência da Lei de
Licitações, de 1993.
Para a economista Ana Maria Castelo, da GVConsult e especialista na área de construção civil, o mercado de empreiteiras passou "por uma concentração muito forte" que deve continuar.
"Tendem a permanecer no
mercado somente as grandes
empresas e as pequenas, que
prestam serviços para as maiores. As médias estão desaparecendo", afirma.
Texto Anterior: Fita "desvia" investigação sobre tragédia Próximo Texto: Alckmin defende contrato e diz esperar laudo Índice
|