São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 2007

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Empreiteiras enfrentam "hiperconcorrência"

Redução de investimentos em obras públicas no Estado de São Paulo levou a demissões e enxugamento de custos

Busca de obras fora do Brasil e a criação de consórcios como o da linha 4 do metrô são as saídas adotadas pelas empresas para sobreviver

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado onde atuam as empreiteiras responsáveis pelas obras da linha 4 do metrô vem exigindo das empresas um forte enxugamento de custos, demissões em massa e a convivência em um ambiente de "hipercompetição" por verbas cada vez mais escassas.
Nos últimos 20 anos, os investimentos em obras públicas realizados pelo Estado de São Paulo diminuíram, apesar do crescimento da economia no período e do aumento da demanda da população por mais bens e serviços.
Até meados dos anos 90, as empreiteiras eram um dos segmentos mais poderosos da economia. Hoje, sobrevivem buscando obras fora do Brasil ou se aliando em consórcios como o da linha 4 atrás de uma rentabilidade média de 6% ao ano -percentual considerado baixo para uma atividade que envolve grandes investimentos.
Na média, o governo paulista investiu R$ 2,8 bilhões ao ano em obras de infra-estrutura ao longo da década de 90. Entre 2000 e 2006, a média anual caiu para R$ 2,4 bilhões, segundo dados da Apeop (Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas).
No Plano Plurianual de Investimentos 2004-2007 do Estado, apenas 17 de 214 programas apresentados eram de interesse do setor da construção civil. Em recursos diretos, o gasto previsto representava só 2,35% do total dos desembolsos em todas as áreas.
"Hoje, as obras públicas são um zero à esquerda para a maioria das empresas. Quando existem, provocam uma concorrência predatória e a tendência é ter mais "loucos" no mercado atrás de qualquer coisa", afirma Fernando Pio, da Alston, empresa francesa que deve fornecer os vagões do metrô para a linha 4.
Na área de saneamento básico, onde a Alston também atua, o faturamento no ano passado, de 29 milhões previstos, atingiu apenas 12 milhões.
Segundo Eduardo Capobianco, do Sinduscon, que reúne as empresas do setor de construção civil, a redução dos ganhos das empresas veio acompanhada de um aumento das exigências do setor público na execução de novas obras.
"Trabalhamos hoje com um risco muito maior devido a essas exigências e com um nível de rentabilidade e negócios muito menor", afirma.
Capobianco qualifica como "fatalidade" o acidente na linha 4 e sustenta que o mercado de empreiteiras hoje é "muito mais transparente" do que há alguns anos, principalmente antes da existência da Lei de Licitações, de 1993.
Para a economista Ana Maria Castelo, da GVConsult e especialista na área de construção civil, o mercado de empreiteiras passou "por uma concentração muito forte" que deve continuar.
"Tendem a permanecer no mercado somente as grandes empresas e as pequenas, que prestam serviços para as maiores. As médias estão desaparecendo", afirma.


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