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Paulo Moreno, e o múltiplo interesse
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Moreno de Almeida
viveu em cima do muro. Não
decidia entre ser branco ou
índio; jornalista ou economista; de esquerda ou situação. Fato é que fez de tudo,
em 79 anos de vida.
Em Aguaí (SP), nasceu e
passou a infância, trabalhando na pequena fazenda da família. Aos 18, foi trabalhar
nos Correios e estudar na
USP, filosofia e economia. Da
avó índia herdou o interesse
pelas etnias -gostava de rastrear os verbetes das tribos
no dicionário.
Foi jornalista de pequenos
jornais e redator da Folha da
Manhã e Gazeta Mercantil.
Até ir para o Rio ser fiscal da
Receita Federal, no começo
dos anos 1960.
Contava sempre aos três
filhos aquela insólita cena,
quando voltava de carro para
casa no dia 31 de março de
1964, ao se deparar com tanques de guerra na sua direção. Era o início do golpe de
1964. "Não era comunista",
mas tinha Lênin e Stalin na
biblioteca. Encaixotou tudo
e deu para os parentes.
Foi fiscal, delegado e superintendente da Receita em
São Paulo, até aposentar-se
como conselheiro de comércio exterior. Especialista em
aduanas, foi ainda da comissão que redigiu o documento
norteador de Mercosul.
Os últimos cinco anos passou na fazenda, cuidando da
terra, e lutando contra um
câncer de próstata. Morreu
no dia 14, em São Paulo.
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