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26ª SÃO PAULO FASHION WEEK
Circo da Maria Bonita expande os horizontes da moda brasileira
Grife resgata clássico da cultura popular com coleção inteligente e doce
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de um verão cheio de
mar, na onda dos jangadeiros e
de Caymmi, a Maria Bonita caiu
na estrada com o circo para criar
sua coleção de inverno, que abriu
ontem o quinto dia da SPFW.
A Maria Bonita foi, durante
muito tempo, vista como uma
grife dada ao minimalismo sóbrio e a uma certa afetação artística. Tudo isso mudou nas mãos
da habilidosa estilista Danielle
Jensen, como vem confirmar a
nova coleção.
Danielle se inspirou no sensacional Circo Nerino, que viajou o
Brasil entre 1913 e 1964. Trata-se
de um clássico da cultura popular
brasileira, representante de uma
tradição de artistas nômades que
muito têm a ensinar sobre educação e arte.
No processo de resgate da história do circo brasileiro, a estilista
tomou como foco o palhaço. Calças agigantadas, algumas delas
tão grandes que se transformam
em macacões. Camisas, paletós e
bermudas enormes que se tornam vestidos. A gravata torta vira
gola, e a estampa de bolas gigantes aparece como tecido vazado,
como num raio-X. Suspensórios
que seguram calças de mentirinha: são só um desenho sobre
mais um macacão. A piada está
na moda ou a moda é uma piada?
Nada de cores vivas nesse circo
invernal da Maria Bonita. Pele,
cinzas, marrom e azul-marinho,
feito uma foto antiga ou um palhaço visto por dentro- há, por
trás da careta risonha, algo de
melancólico.
O desfile anterior da Maria Bonita foi muito impactante, difícil
de superar. Mas a grife manteve o
alto nível na nova coleção, inteligente e doce. Enquanto várias
marcas continuam presas em ciclos autorreferentes, numa reciclagem de shapes e tendências
passadas, Danielle expande horizontes.
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