São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AIDS
Ministro disse que distribuição de remédios continua mesmo com a desvalorização do real em relação ao dólar
Serra diz que não vai faltar coquetel em 99

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

O ministro da Saúde, José Serra, afirmou ontem que está garantida a distribuição gratuita do coquetel anti-HIV neste ano, mesmo com a desvalorização do real em relação ao dólar.
De acordo com o ministério, 60% dos remédios que compõem o coquetel são importados e, portanto, negociados em dólar, e 40% são produzidos em laboratórios nacionais estatais.
Segundo a Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids, em 98 foram gastos R$ 350 milhões com os medicamentos que formam o coquetel anti-HIV, que foram usados por 57,8 mil pacientes.
Em dólares, esse valor seria de aproximadamente US$ 342 milhões, o que significa que cerca de US$ 205 milhões foram gastos com importação de remédios.
Se for considerado o valor médio em que o dólar comercial foi negociado na última quinta-feira (R$ 1,66), o ministério gastaria agora R$ 340 milhões somente com a compra dos componentes importados do coquetel, ou R$ 130 milhões a mais que em 98.
De acordo com a coordenação de Aids, em 99 devem ser destinados no total de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões para a aquisição e distribuição do coquetel para 65 mil pacientes.
"O valor do dólar não está fixado ainda e não dá para fazer estimativas de quanto vai se gastar a mais para a compra dos remédios. Mas é certo que não vai faltar dinheiro para os medicamentos da Aids e vamos continuar a distribuição gratuita, mesmo porque isso é garantido por lei", disse.
Segundo Serra, o Ministério da Saúde tem conseguido economizar dinheiro com o uso do coquetel pelos portadores do vírus HIV. A mediana de sobrevida de um paciente após o diagnóstico da Aids em 89 era de cerca de 5 meses.
A estimativa do ministério é que essa mediana de sobrevida tenha passado a no mínimo 15 meses com o uso do coquetel.
"A distribuição do coquetel está garantida por uma questão humana, social e inclusive econômica", disse o ministro.
De acordo com Serra, em 99 será priorizada a expansão das redes alternativas de tratamento para Aids, como o hospital-dia e a assistência domiciliar aos pacientes.
O custo da internação diária de um paciente com Aids em um hospital convencional é de R$ 106. No hospital-dia, em que o paciente é atendido e volta para casa no mesmo dia, é de R$ 51. Na assistência domiciliar, o custo é de R$ 12. A meta é que este ano passe de 150 para 300 o número de hospitais-dia no país.
Além da economia com esses tratamentos alternativos, o ministério também poderá economizar mais comprando medicamentos da Argentina, segundo Serra.
"No projeto aprovado para a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária há um dispositivo para facilitar as importações da Argentina. Isso pode baratear a compra de medicamentos porque os argentinos têm um sistema de patenteamento mais liberal e há remédios que custam 50% menos do que os produzidos no Brasil", disse o ministro.
Também foram divulgados ontem os novos números da Aids no Brasil. De acordo com o último boletim epidemiológico da doença, o país registrou de setembro a novembro do ano passado 5.070 casos da doença, o que faz que o número de casos acumulados desde 80 seja de 145,3 mil.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.