São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2002

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DENGUE

Prefeita de São Paulo interrompe fala de assessor e diz que investimento deveria ter vindo do Ministério da Saúde

Marta desautoriza secretário da Saúde

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), desautorizou publicamente ontem o seu secretário da Saúde, Eduardo Jorge, durante entrevista coletiva para anunciar o dia de combate à dengue, que ocorre hoje no município.
Logo depois de a prefeita ter dito aos jornalistas que o governo federal não investiu em campanhas contra a doença, Jorge afirmou: "O que a Marta falou é verdade, se a gente tivesse investido em comunicação pesada ...".
Bruscamente, ele foi interrompido pela prefeita: "A gente não! O Ministério da Saúde, o ministério tem de investir".
Em seguida, em tom baixo, Jorge afirmou que falava sobre a situação no país.
Marta voltou então a repreender o secretário: "Mas nós não somos Brasil, estamos na cidade de São Paulo. Se o governo e o Ministério da Saúde tivessem investido como nós temos investido (...), não estaríamos nessa situação."
Durante alguns minutos, houve silêncio na sala da prefeita, no Palácio das Indústrias (centro da cidade). Em seguida, a prefeita encerrou sua participação na entrevista e deixou o local.
Jorge continuou falando com os jornalistas por mais alguns minutos, até o momento em que assessores de Marta avisaram que a entrevista precisaria ser encerrada, porque o local iria ser usado para outra cerimônia.

Defesa do SUS
O pito inicial de Marta ao seu secretário ocorreu depois de Eduardo Jorge defender o SUS (Sistema Único de Saúde), que ajudou a criar quando era deputado constituinte em 1988 e do qual é um dos maiores defensores no país.
"O Brasil está com esse problema [epidemia da dengue" desde 1986 (...). Não concordo, não aceito, não admito que as pessoas facilmente queiram desmoralizar o SUS porque a gente falhou, o Brasil falhou nessa questão. Um sistema que colocou o Brasil em segundo lugar nos transplantes no mundo, o único que controlou a epidemia de Aids não pode ser julgado de forma sumária e desinformada", disse Jorge.
Admirado pelo ex-ministro da Saúde e pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB), ele já manifestou por várias vezes sua admiração pelo político tucano.
Segundo pessoas próximas ao secretário, Jorge desagrada integrantes do gabinete da prefeita por ter posição independente.
No ano passado, o secretário enfrentou dificuldades para que o gabinete acelerasse projetos essenciais para sua pasta, como o que criou as autarquias para administrar os hospitais.
Também teria se desentendido com vereadores da base governista que pressionavam por cargos nessas unidades.
Sofreu outro desgaste ao tentar manter um diretor de hospital que acabou sendo trocado devido a pressões do gabinete. Segundo vereadores da base governista, Marta admira muito o trabalho do secretário. E não tem outro nome para a Saúde. Também teria dificuldades com a militância se trocasse o titular da pasta.
Questionado sobre a afirmação da prefeita Marta Suplicy de que a responsabilidade da epidemia de dengue no país era do governo federal, o ministro Barjas Negri respondeu que "ela deve estar desinformada".

Vaso com flores
Durante a entrevista ontem em seu gabinete, a prefeita teve de dar explicações sobre um vaso com flores cheio de água que estava em sua mesa. O mosquito da dengue prefere água parada e limpa para se reproduzir.
"Vasos como aquele têm de trocar a água todos os dias e limpar com bucha", disse enquanto apresentava um vídeo sobre prevenção que será mostrado hoje nas 1.200 escolas municipais.
Segundo a assessoria de prefeita, as flores chegaram anteontem e a água seria trocada ontem.


Colaboraram Aureliano Biancarelli, da Reportagem Local, e a Sucursal do Rio



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