São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2002

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Roubo de carga triplica em seis anos em SP

Segundo pesquisa, foram registrados 2.653 casos de roubo de carga no Estado em 2001, um crescimento de 16% em relação a 2000

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

RENATO ESSENFELDER
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de roubos de carga no Estado de São Paulo triplicou de 1995 a 2001. O crescimento desse tipo de crime aparece em pesquisa do Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e Região).
De acordo com os dados do sindicato, no ano passado foram registrados 2.653 casos de roubo de carga em São Paulo, contra 2.288 em 2000, um aumento de 16%. Em 1995 eram 838 casos.
Para o assessor de segurança do Setcesp, coronel Paulo Roberto de Souza, os números mostram que a "capacidade de resposta da polícia está aquém da necessidade".

Reflexos econômicos
Além dos riscos sofridos pelos caminhoneiros, os crimes têm reflexos diretos na economia. Segundo o estudo, no ano passado as perdas geradas foram de R$ 215 milhões, contra R$ 195 milhões em 2000 (leia quadro ao lado).
O prejuízo causado pelos roubos de carga não incide, entretanto, apenas sobre as transportadoras. Com o crescimento do risco do frete, as seguradoras passaram a cobrar mais caro, e parte desse custo extra acaba sendo repassado aos produtos transportados.
Assim, o consumidor é lesado quando compra produtos legais, mais caros. Os ilegais voltam ao mercado com grandes descontos.
Por esse motivo, o sindicato recomenda cautela com "megapromoções" e diz que a única forma de combater o roubo de cargas é acabando com os receptadores da mercadoria ilegal. "O grande receptador virou também mandante do crime", constata Geraldo Aguiar de Brito Vianna, presidente da NTC (Associação Nacional de Transporte de Cargas).
Segundo ele, se na década de 80 o produto do roubo tinha como destino os camelôs da cidade, hoje grandes lojas receptam a mercadoria. Elas compram barato e vendem com desconto.

Financiamento
Segundo Vianna, a Secretaria da Segurança Pública subestima a importância do roubo de carga como fonte de financiamento do crime organizado.
"O crime é custeado por três pernas principais: o tráfico de armas, de drogas e o roubo de carga. A quarta perna, ainda recente, seria o sequestro", diz. Para ele, a polícia deveria combater todas essas variedades igualmente.
A idéia de cortar o dinheiro de financiadores como forma de conter o avanço da criminalidade é defendida também pelo coronel Souza. "Tudo o que é roubado acaba voltando ao mercado. O que alguém faria com um carregamento de 500 TVs?"
Para conter a receptação de mercadorias roubadas, a NTC defende que o Estado forme "forças-tarefas" de fiscais fazendários e policiais para atuar na área.
Os primeiros seriam capazes de identificar quais mercadorias são roubadas dentro das grandes lojas. Os policiais investigariam os casos registrados para tentar desmantelar as quadrilhas especializadas nesses crimes.
Segundo a polícia, a ação das quadrilhas de roubo de carga é extremamente organizada. Além de preparadas para roubar os caminhões, elas têm ainda de esconder e distribuir o fruto do roubo.
Além disso, os tipos de carga a serem roubados costumam ser minuciosamente estudados. Entre os mais visados, estão cigarros, medicamentos e produtos eletrônicos. "Se os ladrões pegam um carregamento de perecíveis podem até dar uma de Robin Hood e distribuir o produto em favelas onde mantêm esconderijos. Assim, compram o silêncio", diz o coronel Marcos Paulo Beck, superintendente da empresa de gerenciamento de risco Multisat.


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