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CARNAVAL
Paulo Barros, criador das principais polêmicas nos últimos 2 anos pela Unidos da Tijuca, diz que público quer ser surpreendido
"Só luxo não convence mais", diz revelação
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Paulo Roberto Barros Braga, 43,
passou parte da sua adolescência
no barracão da Beija-Flor, acompanhando Joãosinho Trinta trabalhar. Foi comissário de bordo
por 12 anos, mas sua cabeça nunca decolou do Carnaval.
Quando estreou no Grupo Especial, em 2004, na Unidos da Tijuca, Paulo Barros ocupou de supetão o lugar que o ocaso do mestre deixara vago: o de principal
criador de surpresas dos desfiles.
Surpreendeu com uma alegoria
com 127 pessoas que evocava o
DNA. "Era o pior carro da concentração. As pessoas riam dele,
riam de mim", lembra. Afinal, a
alegoria era só ferro. Tornou-se
outra com as pessoas em cima.
Essa é uma marca de Barros. "No
barracão, meus carros são o desgosto dos fotógrafos", brinca.
Após dois vices, o carnavalesco
tenta provar que a inventividade
pode superar a eficiência. A Unidos da Tijuca, que desfila na segunda, é um dos principais obstáculos ao tetra da Beija-Flor. "Só
luxo não convence mais."
Folha - Será seu 3º desfile na Unidos da Tijuca sem patrocínio. É a
chave para a liberdade de criação?
Paulo Barros - Nunca fui contra
patrocínio. Sou contra aquilo que
já é predeterminado. O patrocínio
será bem-vindo a partir do momento em que não me limitar.
Folha - As escolas de samba precisam de patrocínio? A subvenção da
Liga das Escolas de Samba (R$ 2,2
milhões neste ano) não basta?
Barros - Consegui fazer Carnaval
e ter ótima colocação só com a
subvenção. Dá para fazer, está
provado. O dinheiro extra ajuda?
Ajuda e muito. Muita coisa cara
não aparece, que é a tecnologia.
Folha - As alegorias humanas surgiram para compensar essa falta
de patrocínio?
Barros - Não. Essa solução, a que
as pessoas deram o nome de alegoria humana, veio de 2003 no
Paraíso do Tuiuti [escola do Grupo de Acesso]. O tema era Portinari, e me deparei com uma tela
sobre o espantalho. Comecei a
olhar e a multiplicar o espantalho
no milharal. Pensei: "Pode ficar
legal. Vou uniformizar o movimento deles". Depois, na Tijuca,
usei a solução no carro do DNA.
Neste ano será diferente. Eu
mudo a concepção do carro a partir das pessoas que estão nele. Não
são simplesmente pessoas fazendo coreografias. Tem mais um
quê. Senão, seria mais um DNA.
Mas não me preocupo muito. O
Carnaval se repete há 20 anos.
Folha - Carnaval é uma repetição?
Barros - Ouço de muita gente: "O
Carnaval está chato, não muda, é
carro atrás de carro, destaque
atrás de destaque, excesso de informação, ninguém entende nada; se abaixar o volume da TV,
não sabe quem está passando".
Quando cheguei à Tijuca, falei: tenho que seguir outro caminho.
Folha - Carnavalescos como Rosa
Magalhães (Imperatriz), Max Lopes
(Mangueira) e Renato Lage (Salgueiro) estão se repetindo?
Barros - Cada um hoje tem o seu
estilo, e tem que ter. A Rosa tem
um estilo fantástico, o Renato tem
um estilo supermoderno, o Max
tem o estilo clássico-barroco. O
Carnaval fica mais rico assim.
Folha - Joãosinho Trinta disse
que a criatividade dos desfiles depende exclusivamente dos carnavalescos. Você concorda?
Barros - Sim. A arte é única, é de
cada um. Aprendi isso com o
João. No barracão da Beija-Flor,
nos anos 80, ele me dizia: "Temos
o cérebro dividido em duas partes: o óbvio e o que a gente não
usa. Você tem que procurar usar
essa parte que fica parada".
Folha - Estar numa escola sem bicheiro é melhor, pior ou diferente?
Barros - Não sei, nunca trabalhei
com um bicheiro (risos). Mas a
classe [dos bicheiros] contribuiu
para o Carnaval crescer.
Folha - Foram justas as derrotas
para a Beija-Flor de 2004 e 2005?
Barros - Não perdi para ninguém, só para mim mesmo. Em
2005, perdi um décimo porque erramos em uma alegoria. O carro
era muito pesado, com 150 pessoas, e era para elas subirem depois da entrada no setor 1. Foi dada uma contra-ordem pela diretoria para subir antes, o carro não
fez a curva. Bateu no gradil, perdeu uma gaiola, a jurada puniu a
escola, e bati palmas para ela.
Folha - O tráfico de drogas tem influência nas escolas?
Barros - De jeito nenhum. Aqui
não há. Falo da Tijuca. Há tranqüilidade de trabalho, ambiente.
Folha - A Unidos da Tijuca está
pequena para você?
Barros - Qualquer escola, após
algum tempo, fica pequena. Sou
um mutante. Trabalhei 12 anos na
aviação, parei. Fiz dois anos de arquitetura, parei, não quero voltar.
Belas-artes também larguei.
Folha - Então é seu último Carnaval na escola?
Barros - Na Quarta-Feira de Cinzas eu vou dizer.
Folha - Pobre continua gostando
de luxo e intelectual, de miséria,
como dizia Joãosinho Trinta?
Barros - Hoje começa a mudar.
O João enriqueceu o Carnaval,
mas nunca notaram que ele usava
muitos artifícios de criatividade
para parecer luxo. Lembro que ele
fez em 78 um carro todo de bacias. De longe parecia latão, prata.
Está mudando porque o luxo só
não convence. As pessoas querem
mais. Querem pagar seu ingresso
e ter um pouco mais de alegria,
mesmo com o bolso vazio. Querem ser surpreendidas. E a surpresa te causa o quê? Alegria.
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