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Golpe do seqüestro leva mãe ao aeroporto
Joselma, 63, estava prestes a embarcar, cumprindo ordem dos criminosos para pagar "resgate", quando filho chegou com a polícia
Segundo a polícia paulista, de 1º de janeiro a 14 de fevereiro, 3.150 pessoas registraram casos de golpe do seqüestro no Estado
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem a voz calma do filho do
outro lado da linha convenceu
dona Joselma de que estava tudo bem. Vítima do golpe do falso seqüestro, a aposentada de
63 anos, moradora da City Lapa
(zona oeste de SP), passou mais
de três horas com criminosos
no telefone acreditando que
seu filho fora pego por bandidos na madrugada de ontem.
Só quando estava prestes a
embarcar para o Rio de Janeiro, cumprindo a ordem dos criminosos, e viu o filho chegar
são e salvo no aeroporto de
Congonhas, ela se convenceu
de que havia caído no golpe.
A aposentada foi mais uma
vítima do golpe -segundo a polícia paulista, de 1º de janeiro a
14 de fevereiro, 3.150 pessoas
registraram ocorrências no Estado. Mas o número real deve
ser ainda maior -muita gente
não registra queixa.
No último dia 12, outra aposentada, Mércia Mendes de
Barros, 67, foi mais uma vítima.
Cardíaca, morreu de enfarte ao
negociar com os criminosos.
Negociações
Era 1h30 de ontem quando o
telefone da casa de Joselma tocou. A ligação era a cobrar. Falsos seqüestradores com sotaque carioca diziam estar com
seu filho, o analista Marcos, 31,
e exigiam US$ 30 mil.
Desesperada com os gritos e
o choro que acreditava serem
do filho, dizia que não tinha o
dinheiro. Após negociações, os
criminosos já tinham reduzido
o valor para US$ 10 mil.
Na rua, o vigia estranhou a
movimentação. Não era comum ver luzes acesas àquela
hora. A polícia foi acionada.
Uma equipe da PM foi até a
casa de dona Joselma, que, ainda mais tensa, se negou a recebê-la. Enquanto isso, seguia ao
telefone com os bandidos, que
exigiam que o pagamento fosse
feito por meio de transferência
pela internet. O problema, disse ela, é que não sabia mexer no
computador. A saída foi propor
entregar as jóias da família.
Com a ajuda da empregada,
encheu uma sacola com o que
tinha em casa e começou a se
trocar. Os criminosos deram a
instrução: ela deveria pegar um
avião e ir até o Rio. Ao chegar lá,
eles informariam onde as jóias
deveriam ser entregues.
Nos esparsos intervalos entre uma chamada e outra, Joselma tentou entrar em contato com o filho. Sem telefone fixo, seu celular não atendia.
Marcos tinha esquecido o aparelho no shopping.
Com medo de os criminosos
matarem o filho, ela foi a Congonhas sem aceitar falar com os
policiais. À distância, alguns
deles a seguiram enquanto outros descobriam com a empregada o endereço de Marcos.
Uma terceira equipe foi até lá.
Ao chegar à casa de Marcos, a
polícia constatou o que já imaginava: ele dormia tranqüilamente. Avisado, Marcos ligou
para o celular da mãe. Mas, impressionada com os gritos que
ouvia quando os bandidos ligavam, não acreditou.
Por volta das 4h30, já no aeroporto, ela passou mal ao saber que teria de esperar até as
5h para comprar a passagem.
Menos de meia hora depois,
quando era atendida no posto
médico, viu o filho chegar com
os policiais e, então, percebeu
ter sido vítima do golpe.
"Não quero nem imaginar o
que teria acontecido se minha
mãe tivesse embarcado", disse
Marcos ontem à tarde. "Se não
fosse a insistência dos policiais,
o final não seria feliz."
O tenente Alexandre Vieira,
que acompanhou a ação, disse
que a polícia já sabe que as ligações partiram de um celular do
Rio. As vítimas, diz ele, são escolhidas de modo aleatório.
"O ideal é que os parentes
sempre se comuniquem, mantenham o telefone ligado e
combinem uma senha ou uma
palavra-chave entre si", disse.
"Se algum falso criminoso ligar,
basta pedir o código."
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