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Ilhada desiste de ir para casa e dorme em escritório
Publicitária saiu do trabalho às 20h30,
mas voltou por causa do alagamento
Operadora de caixa dormiu em hotel; ela vive em São
Caetano do Sul, trabalha no centro de SP e depende do
trem para ir embora
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cara de sono, cansaço, a mesma roupa do dia anterior no
corpo. Foi assim que os colegas
encontraram a publicitária Vanessa Pereira da Silva, 27, ao
chegar no escritório ontem de
manhã, no Itaim Bibi (zona
oeste). Ela faz parte de um grupo diferente de vítimas da chuva: o dos que não conseguiram
voltar para casa.
Vanessa diz ter tentado de
tudo, mas desistiu. Saiu do trabalho na Vila Alpina, na zona
leste, por volta das 20h30 de
anteontem, de carro, sem saber
dos alagamentos que a chuva já
havia causado.
Permaneceu em seu caminho até as 23h. "Daí, vi que estava andando 50 metros a cada
15 minutos e desisti."
Vanessa fez o retorno por cima do canteiro da avenida Tancredo Neves e procurou um
posto de gasolina para esperar.
"Acho que todo mundo pensou
nisso, não tinha lugar de jeito
nenhum." À 1h acabou voltando para o escritório, onde ligou
o computador e acompanhou
pelos sites os pontos de alagamento. "Vi as notícias até as 4h,
depois o cansaço bateu e dormi
na poltrona", afirma.
No final da manhã de ontem,
quando finalmente voltava para casa, ela viu, da janela do carro, os estragos provocados pela
chuva. "Eram móveis jogados,
lama, lixo. Um pesadelo", disse.
Outra vítima "colateral" das
chuvas foi a operadora de caixa,
Karine Suzi de Oliveira, 21, que
trabalha em Campos Elíseos,
no centro, e mora em São Caetano do Sul. Ela saiu do trabalho às 23h de anteontem ciente
de que todos os caminhos para
o ABC estavam interditados.
Primeiro, tentou aguardar a
volta dos trens. Ela usa justamente a linha D da CPTM
(Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos), paralisada
até as 4h de ontem.
Karine conta que às 2h30
acabou procurando um hotel
na avenida São João. "Nunca tinha feito isto, hoje [ontem] de
manhã acordei e fui para casa
me trocar", afirmou.
Drama
Lama, lixo e cheiro de esgoto
ainda predominavam em uma
das ruelas do bairro São José,
no final da tarde de ontem, em
São Caetano (Grande São Paulo). Acordados havia quase 48
horas, os moradores limpavam
suas casas, muitos sem colchões ou comida.
Amara Maria de Castro Souza, 71, estava entre eles. Perdeu
móveis como geladeira, fogão e
sofá, além de roupas e objetos
pessoais. "Fiquei em cima de
uma cadeira e a água chegou no
meu pescoço. Se não fosse a cadeira, eu me afogava".
Ela foi teimosa. Não quis
abandonar a casa, apesar da insistência dos vizinhos. "Fiquei
aqui em pé até de manhã, molhada. Não tenho mais roupas,
essa é da igreja", diz ela, apontando para as roupas secas que
usava. "A água veio com tanto
força que fez até redemoinho."
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