São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Ilhada desiste de ir para casa e dorme em escritório

Publicitária saiu do trabalho às 20h30, mas voltou por causa do alagamento

Operadora de caixa dormiu em hotel; ela vive em São Caetano do Sul, trabalha no centro de SP e depende do trem para ir embora

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cara de sono, cansaço, a mesma roupa do dia anterior no corpo. Foi assim que os colegas encontraram a publicitária Vanessa Pereira da Silva, 27, ao chegar no escritório ontem de manhã, no Itaim Bibi (zona oeste). Ela faz parte de um grupo diferente de vítimas da chuva: o dos que não conseguiram voltar para casa.
Vanessa diz ter tentado de tudo, mas desistiu. Saiu do trabalho na Vila Alpina, na zona leste, por volta das 20h30 de anteontem, de carro, sem saber dos alagamentos que a chuva já havia causado.
Permaneceu em seu caminho até as 23h. "Daí, vi que estava andando 50 metros a cada 15 minutos e desisti."
Vanessa fez o retorno por cima do canteiro da avenida Tancredo Neves e procurou um posto de gasolina para esperar. "Acho que todo mundo pensou nisso, não tinha lugar de jeito nenhum." À 1h acabou voltando para o escritório, onde ligou o computador e acompanhou pelos sites os pontos de alagamento. "Vi as notícias até as 4h, depois o cansaço bateu e dormi na poltrona", afirma.
No final da manhã de ontem, quando finalmente voltava para casa, ela viu, da janela do carro, os estragos provocados pela chuva. "Eram móveis jogados, lama, lixo. Um pesadelo", disse.
Outra vítima "colateral" das chuvas foi a operadora de caixa, Karine Suzi de Oliveira, 21, que trabalha em Campos Elíseos, no centro, e mora em São Caetano do Sul. Ela saiu do trabalho às 23h de anteontem ciente de que todos os caminhos para o ABC estavam interditados.
Primeiro, tentou aguardar a volta dos trens. Ela usa justamente a linha D da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), paralisada até as 4h de ontem.
Karine conta que às 2h30 acabou procurando um hotel na avenida São João. "Nunca tinha feito isto, hoje [ontem] de manhã acordei e fui para casa me trocar", afirmou.

Drama
Lama, lixo e cheiro de esgoto ainda predominavam em uma das ruelas do bairro São José, no final da tarde de ontem, em São Caetano (Grande São Paulo). Acordados havia quase 48 horas, os moradores limpavam suas casas, muitos sem colchões ou comida.
Amara Maria de Castro Souza, 71, estava entre eles. Perdeu móveis como geladeira, fogão e sofá, além de roupas e objetos pessoais. "Fiquei em cima de uma cadeira e a água chegou no meu pescoço. Se não fosse a cadeira, eu me afogava".
Ela foi teimosa. Não quis abandonar a casa, apesar da insistência dos vizinhos. "Fiquei aqui em pé até de manhã, molhada. Não tenho mais roupas, essa é da igreja", diz ela, apontando para as roupas secas que usava. "A água veio com tanto força que fez até redemoinho."


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