São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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ARTIGO

Copacabana Palace: curto e grosso

CECILIA GIANNETTI
COLUNISTA DA FOLHA

"Pelamordedeus tira essa cigana maluca de perto de mim."
Isabelita dos Patins já tava pra lá de saco cheio da gata. Era uma moça com um baralho cigano muito velho e carcomido, saias rodadas, ombros à mostra na blusa rendada, boca carnuda e naturalmente vermelha (será, meu Deus? Alguma coisa nesta noite é natural?) capaz de revelar, segundo ela, O Futuro.
Terminadas minhas fotos anuais obrigatórias ao lado da Isabelita, puxei a cigana. Ou a cigana me puxou. As coisas podem ficar um pouco confusas demais após as 3h no Baile de Gala do Copacabana Palace. Especialmente se o tema da festa é Ópera (?!) em pleno Carnaval.
Gostaria de comentar, a este ponto, que estava lá para cobrir a festa e os seios da Narcisa Tamborindeguy caso a imprensa abutre e marrom considerasse notícia filmá-la e fotografá-la desnuda e mei loca, ou seja, em seu habitat e estado natural. Notícia era se não desse merda. E olha que não deu? Nem vi a bee por lá. Só o outro tacador de ovo, o Chateaubriand.
A Cigana pegou minha mão e disse: "Que queres, homem ou mulher?" Eu: "Ooooi?" Desisti do Oculto ali.
"O traje exigido é black-tie ou fantasia para os homens e longo ou fantasia para as mulheres." Assim rezava a lenda do convite. Comprei um boázão preto, amarrei na cabeça e fui.
Mentira. Mudei de fantasia dez minutos antes de ir pro bailão. Um vestido dourado, botas e chapéu de caubói. Tinha brilho, era luxo. Então tava bom.
Conforme descobri na entrada, não, não estava bom.
"Querida, pedimos no convite: estritamente vestido longo."
Simpatia é quase amor, tive vontade de comentar. Mas como estava ridiculamente fantasiada, fantasiada conforme também requeria o convite ao tal baile, calei-me bovinamente, mastigando minha credencial feito feno, pra ornar com o look caubói.
Após o desnecessário, porém delicado pito (eles ensinam isso na escola de "açeçoria de imprença"), vi dezenas de mulheres com vestidos acima dos joelhos (e acima do peso permitido pela Sociedade Protetora da Futilidade). Pelo que pude perceber, não estavam fantasiadas (a menos que a inspiração fosse a minha tia Léia num dia de calor e cerveja extremados).
"Fula dentro da roupa" com minha situação (adoro expressão da minha avó), abordei uma delas. Kátia Napoleão, frequentadora de longa data do Baile do Copa, ostentava um brilhoso curtinho. Por precaução, trouxera um saiotão preto vagabundo pra ENTRAR com ele sob o mini, assim passando com sucesso e sem esporro pela Stasi.
"Fiquei revoltada porque, quando entrei, tinha um monte de mocinha de mini... nem fantasia era", disse a Napoleão.
Resumindo? Triste é não ter a falta do que fazer necessária que demanda malhar no mínimo duas horas por dia. Ou o DNA da fama. Com ele, tu podes entrar sem banho, sem desodorante, de chinelo de dedo gasto e metido em farrapos que o visú será envergado e tido como fantasia; és o Vip dos Vips.
Eu, que nasci de assistente social e médico do Inamps, melhor malhar até a bunda virar pedra, e a barriga, tanque. Porque de outro jeito, com essa gente, num vai, não.


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