|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Copacabana Palace: curto e grosso
CECILIA GIANNETTI
COLUNISTA DA FOLHA
"Pelamordedeus tira essa cigana maluca de perto de mim."
Isabelita dos Patins já tava
pra lá de saco cheio da gata. Era
uma moça com um baralho cigano muito velho e carcomido,
saias rodadas, ombros à mostra
na blusa rendada, boca carnuda
e naturalmente vermelha (será,
meu Deus? Alguma coisa nesta
noite é natural?) capaz de revelar, segundo ela, O Futuro.
Terminadas minhas fotos
anuais obrigatórias ao lado da
Isabelita, puxei a cigana. Ou a
cigana me puxou. As coisas podem ficar um pouco confusas
demais após as 3h no Baile de
Gala do Copacabana Palace. Especialmente se o tema da festa
é Ópera (?!) em pleno Carnaval.
Gostaria de comentar, a este
ponto, que estava lá para cobrir
a festa e os seios da Narcisa
Tamborindeguy caso a imprensa abutre e marrom considerasse notícia filmá-la e fotografá-la
desnuda e mei loca, ou seja, em
seu habitat e estado natural.
Notícia era se não desse merda.
E olha que não deu? Nem vi a
bee por lá. Só o outro tacador de
ovo, o Chateaubriand.
A Cigana pegou minha mão e
disse: "Que queres, homem ou
mulher?" Eu: "Ooooi?" Desisti
do Oculto ali.
"O traje exigido é black-tie ou
fantasia para os homens e longo
ou fantasia para as mulheres."
Assim rezava a lenda do convite. Comprei um boázão preto,
amarrei na cabeça e fui.
Mentira. Mudei de fantasia
dez minutos antes de ir pro bailão. Um vestido dourado, botas
e chapéu de caubói. Tinha brilho, era luxo. Então tava bom.
Conforme descobri na entrada, não, não estava bom.
"Querida, pedimos no convite: estritamente vestido longo."
Simpatia é quase amor, tive
vontade de comentar. Mas como
estava ridiculamente fantasiada,
fantasiada conforme também
requeria o convite ao tal baile,
calei-me bovinamente, mastigando minha credencial feito feno, pra ornar com o look caubói.
Após o desnecessário, porém
delicado pito (eles ensinam isso
na escola de "açeçoria de imprença"), vi dezenas de mulheres com vestidos acima dos joelhos (e acima do peso permitido
pela Sociedade Protetora da
Futilidade). Pelo que pude perceber, não estavam fantasiadas
(a menos que a inspiração fosse
a minha tia Léia num dia de calor e cerveja extremados).
"Fula dentro da roupa" com
minha situação (adoro expressão da minha avó), abordei uma
delas. Kátia Napoleão, frequentadora de longa data do Baile do
Copa, ostentava um brilhoso
curtinho. Por precaução, trouxera um saiotão preto vagabundo pra ENTRAR com ele sob o
mini, assim passando com sucesso e sem esporro pela Stasi.
"Fiquei revoltada porque,
quando entrei, tinha um monte
de mocinha de mini... nem fantasia era", disse a Napoleão.
Resumindo? Triste é não ter
a falta do que fazer necessária
que demanda malhar no mínimo duas horas por dia. Ou o
DNA da fama. Com ele, tu podes entrar sem banho, sem desodorante, de chinelo de dedo
gasto e metido em farrapos que
o visú será envergado e tido como fantasia; és o Vip dos Vips.
Eu, que nasci de assistente
social e médico do Inamps, melhor malhar até a bunda virar
pedra, e a barriga, tanque. Porque de outro jeito, com essa
gente, num vai, não.
Texto Anterior: Fantasias inovadoras roubam a cena no Cordão do Boitatá, no Rio Próximo Texto: Rio de Janeiro: Escolas exploram cultura afro-brasileira na 2ª noite Índice
|