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79 mil crianças de 6 anos são reprovadas
MEC quer vetar a reprovação de crianças nessa faixa etária, pois teme prejudicar aluno tão jovem por toda a vida escolar
Até 2005, antigo primário começava aos 7 anos; prefeituras alegam que crianças chegam à escola sem passar por creche ou pré
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DE RIO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Crianças de seis anos têm sido reprovadas no país, depois
que essa faixa etária passou a
integrar o ensino fundamental.
Em 2008, 79,3 mil alunos do
novo primeiro ano da educação
fundamental não passaram de
ano, conforme dados inéditos
do MEC, obtidos pela Folha. O
número representa 3,5% das
matrículas dessa série.
Até 2005, o antigo primário
começava aos sete anos. Uma
lei daquele ano antecipou o início para os seis anos, para garantir mais anos de estudo para
alunos pobres, que não tinham
acesso à pré-escola. A transição
terminou agora em 2010.
O Ministério da Educação
quer vetar a reprovação de
crianças de seis anos, pois entende que o novo primeiro ano
é apenas um início de alfabetização. O temor, diz o MEC, é
prejudicar uma criança tão jovem por toda a vida escolar
(pesquisas mostram que reprovação pode acarretar notas baixas e abandono).
As prefeituras, que têm autonomia, apontam diferentes explicações para os índices. Em
Tremedal (BA), por exemplo, a
alegação para a reprovação de
50,3% foi o fato de parte das
crianças chegarem ao fundamental sem nunca terem passado por creche ou pré-escola.
"Percebemos despreparo dos
professores para trabalhar essa
série inicial e, por isso, investiremos em capacitação", afirma
Débora Ferraz, secretária interina da Educação da cidade.
Outras explicações para os
indicadores foram excesso de
faltas de alunos e possível erro
ao preencher o formulário.
"Alguns gestores não entenderam que a alfabetização não
precisa estar completa no primeiro ano. É difícil num país
continental que todos compreendam da mesma maneira",
disse o presidente da Undime
(que representa os secretários
municipais da Educação), Carlos Eduardo Sanches.
Situação "grave"
Para evitar que o problema se
agrave, o MEC e o Conselho
Nacional de Educação divulgarão novas diretrizes para o ensino fundamental, reforçando a
indicação para que não haja reprovação aos seis anos.
"Antecipar o fracasso escolar
é grave", diz a secretária de
Educação Básica do ministério,
Maria Pilar Lacerda. O conselho, órgão normativo e consultivo do MEC, recebeu informações de que algumas redes
transferiram a antiga primeira
série, destinada a alunos de sete
anos, para o novo primeiro ano.
"Talvez seja falta de preparo
dos gestores, mas é um crime
colocar crianças de seis anos
sentadas enfileiradas, com matérias", diz o presidente da Câmara de Educação Básica do
conselho, Cesar Callegari.
Nas séries destinadas às
crianças de sete e oito anos de
idade, as taxas de reprovação
em 2008 foram, respectivamente, de 12,6% e 13,5%. O país
tem uma reprovação semelhante à de países africanos.
O problema é mais grave na
rede municipal, que concentra
a maior parte das matrículas,
onde a taxa de reprovação é
mais de duas vezes maior do
que na particular (dado de
2007, o mais recente detalhado
por tipo de sistema).
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