São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

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Medo de apagões faz empresa produzir a própria energia

Com falhas e alto custo da tarifa, grandes consumidores de eletricidade na Grande SP aderem ao gás natural

Admitindo mais riscos de apagões, o próprio secretário de Energia já pediu ajuda para a iniciativa privada

AGNALDO BRITO
ROGÉRIO PAGNAN

DE SÃO PAULO

Grandes consumidores de energia elétrica na Grande SP estão abandonando a rede e montando um parque de minitermelétricas para suprir o próprio consumo.
O êxodo é uma reação aos sucessivos apagões e ao alto custo da tarifa. O preço do KWh (quilowatt hora) em horário de pico (das 18h às 21h) é sete vezes maior que o valor gasto para a geração própria.
O caso virou uma imensa guerra comercial, que pode ganhar impulso com a sugestão do secretário de Energia do Estado, José Aníbal.
Como resposta aos problemas, ele resolveu estimular grandes consumidores (bancos, shoppings, hospitais, entre outros) a investir na própria geração de energia.
"Isso não só é saudável do ponto de vista do conjunto do sistema como é prudente do ponto de vista das insuficiências da transmissão da empresa que está aí", disse, em alusão à AES Eletropaulo.
A proposta foi divulgada na primeira quinzena do mês, após uma pane numa subestação de energia deixar 2,5 milhões de pessoas sem luz, a maior parte da zona sul da capital, e provocar um efeito cascata em quase toda a cidade e na Grande SP.
Segundo o próprio governo estadual, pelo menos até o final do ano o risco de novos apagões não está descartado nas zonas sul e norte da capital e no ABC paulista.
As quedas têm sido frequentes. Na tarde de ontem, 26 horas depois do temporal de segunda-feira, ainda havia diversas ruas com falta de energia na cidade de São Paulo.
O plano de Anibal é considerado um equívoco por especialistas, por estimular a ineficiência energética, econômica e, sobretudo, a ambiental. Cada novo gerador é um potencial novo poluidor.

MIGRAÇÃO
Um dos grandes consumidores que já migraram para o gás é o Shopping Praça da Moça, em Diadema.
A partir das 17h30, a energia entregue pela Eletropaulo vai dando lugar à carga injetada pelo gerador a gás natural. A redução de custo e a segurança contra apagões devem fazer a AD, empresa que controla o shopping, a gerar em tempo integral, não apenas em horário nobre.
Um dos hotéis mais conhecidos de São Paulo, o Renaissance, na alameda Santos, também estuda formas de expandir a produção da própria energia. Ali, essa história começou no apagão de 2001.
Segundo Júlio Cesar Morassi, diretor de engenharia do hotel, o fato de a Comgás entrar no investimento dos equipamentos pode levar o hotel a transformar a rede elétrica em sobressalente.
Hoje, o hotel se desconecta da rede elétrica e deixa de pagar R$ 0,97 por KWh no horário de pico. A conta cai para R$ 0,15 por KWh com o gás.

BENEFICIADA
Por ora, enquanto a AES Eletropaulo perde clientes, a Comgás, maior distribuidora de gás natural canalizado do país, trata de ganhá-los. A distribuidora já criou um departamento especial para tirar clientes da concorrente.
A AES Eletropaulo, maior concessionária de energia elétrica do país, negou que esteja perdendo clientes.
Informou ainda que sempre avalia "novas alternativas em benefício" dos consumidores, mas não mencionou nenhuma.


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