|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Traficante mexicano é condenado no Brasil
Acusado de integrar a cúpula do maior cartel de drogas do mundo, Lucio Bustos pegou dez anos e seis meses por lavagem de dinheiro
Criminoso, que é casado com uma brasileira e vivia em Curitiba, foi localizado porque forneceu o nome verdadeiro a mãe-de-santo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Acusado de integrar a cúpula
do maior cartel de drogas do
mundo, o mexicano Lucio Rueda Bustos foi condenado a dez
anos e seis meses de prisão no
Paraná sem ter traficado um
grama de cocaína no Brasil.
Bustos foi condenado por lavagem transnacional de dinheiro.
Ele é acusado de ter usado os
recursos que juntou como participante do Cartel de Juarez,
no México, para comprar bens
avaliados em R$ 18 milhões pelo Ministério Público Federal.
Bustos vive em Curitiba e é
casado com a brasileira Cíntia
Assunpção Plascência. Ela foi
condenada a quatro anos de reclusão também por lavagem.
O Cartel de Juarez é apontado pelo DEA (a agência dos Estados Unidos contra drogas)
como a principal organização
do tráfico depois do Cartel de
Cali. Segundo o DEA, o ápice do
cartel mexicano ocorreu nos
anos 90, quando ele faturava
US$ 200 milhões por mês. O filme "Traffic", que ganhou o Oscar em 2001, é inspirado na vida do chefão do Cartel de Juarez, Amado Carrillo Fuentes.
O mexicano condenado no
Brasil é considerado pela Polícia Federal um dos homens de
confiança de Carrillo Fuentes.
Ex-tenente-coronel do Exército do México, Bustos era responsável pela logística do Cartel de Juarez, segundo Wagner
Mesquita de Oliveira, delegado
da PF responsável pelas investigações da Operação Zapata.
"Era o Bustos quem cuidava
das pistas de pouso na fronteira
do México com os EUA. Eram
essas pistas que recebiam os
aviões vindos da Colômbia com
cocaína", conta Oliveira. Segundo ele, o cartel conseguia
colocar até dois aviões Boeing-727 por mês na fronteira, com
10 toneladas cada um.
Mãe-de-santo
Bustos vivia com nome falso
em Curitiba (Ernesto Plascência San Vicente) e foi descoberto por acaso, ainda de acordo
com a polícia. Numa investigação sobre dois policiais civis
que achacavam empresários, a
Polícia Federal descobriu que a
dupla tinha conseguido extorquir US$ 1 milhão (R$ 2,2 milhões) dele. Bustos pagou porque os policiais sabiam da sua
verdadeira identidade.
Quem forneceu a identidade
de Bustos foi uma mãe-de-santo a quem ele recorria em Curitiba. Num pedido à mãe-de-santo, o mexicano deu seu nome real.
A ajuda do DEA foi fundamental para estabelecer a identidade de Bustos, segundo Oliveira. O mexicano havia sido
preso nos EUA em 1980, sob
acusação de conspiração para o
tráfico de drogas. Ele acabou
inocentado no processo sob a
alegação de que era militar (o
que era verdade) e estava investigando o narcotráfico (o que
revelou-se falso, segundo a PF).
O governo americano havia
liberado Bustos, mas tinha sua
digital e os dados familiares dele. Além dessa documentação, a
PF conseguiu que um colombiano preso nos EUA testemunhasse contra Bustos.
Foi com base nesse passado
que a Justiça Federal considerou que os bens do mexicano só
poderiam ser frutos do tráfico
de cocaína. Ele tinha mais de
uma dezena de imóveis em Curitiba e São José dos Pinhais
(PR), no Balneário Camboriú
(SC), em São José do Rio Preto
(SP) e Catanduva (SP).
Texto Anterior: Avô amarrava neto de dois anos em canil com pitbull Próximo Texto: Processo tem "nulidades", diz advogado Índice
|