São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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Traficante mexicano é condenado no Brasil

Acusado de integrar a cúpula do maior cartel de drogas do mundo, Lucio Bustos pegou dez anos e seis meses por lavagem de dinheiro

Criminoso, que é casado com uma brasileira e vivia em Curitiba, foi localizado porque forneceu o nome verdadeiro a mãe-de-santo

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Acusado de integrar a cúpula do maior cartel de drogas do mundo, o mexicano Lucio Rueda Bustos foi condenado a dez anos e seis meses de prisão no Paraná sem ter traficado um grama de cocaína no Brasil. Bustos foi condenado por lavagem transnacional de dinheiro.
Ele é acusado de ter usado os recursos que juntou como participante do Cartel de Juarez, no México, para comprar bens avaliados em R$ 18 milhões pelo Ministério Público Federal.
Bustos vive em Curitiba e é casado com a brasileira Cíntia Assunpção Plascência. Ela foi condenada a quatro anos de reclusão também por lavagem.
O Cartel de Juarez é apontado pelo DEA (a agência dos Estados Unidos contra drogas) como a principal organização do tráfico depois do Cartel de Cali. Segundo o DEA, o ápice do cartel mexicano ocorreu nos anos 90, quando ele faturava US$ 200 milhões por mês. O filme "Traffic", que ganhou o Oscar em 2001, é inspirado na vida do chefão do Cartel de Juarez, Amado Carrillo Fuentes.
O mexicano condenado no Brasil é considerado pela Polícia Federal um dos homens de confiança de Carrillo Fuentes. Ex-tenente-coronel do Exército do México, Bustos era responsável pela logística do Cartel de Juarez, segundo Wagner Mesquita de Oliveira, delegado da PF responsável pelas investigações da Operação Zapata.
"Era o Bustos quem cuidava das pistas de pouso na fronteira do México com os EUA. Eram essas pistas que recebiam os aviões vindos da Colômbia com cocaína", conta Oliveira. Segundo ele, o cartel conseguia colocar até dois aviões Boeing-727 por mês na fronteira, com 10 toneladas cada um.

Mãe-de-santo
Bustos vivia com nome falso em Curitiba (Ernesto Plascência San Vicente) e foi descoberto por acaso, ainda de acordo com a polícia. Numa investigação sobre dois policiais civis que achacavam empresários, a Polícia Federal descobriu que a dupla tinha conseguido extorquir US$ 1 milhão (R$ 2,2 milhões) dele. Bustos pagou porque os policiais sabiam da sua verdadeira identidade.
Quem forneceu a identidade de Bustos foi uma mãe-de-santo a quem ele recorria em Curitiba. Num pedido à mãe-de-santo, o mexicano deu seu nome real.
A ajuda do DEA foi fundamental para estabelecer a identidade de Bustos, segundo Oliveira. O mexicano havia sido preso nos EUA em 1980, sob acusação de conspiração para o tráfico de drogas. Ele acabou inocentado no processo sob a alegação de que era militar (o que era verdade) e estava investigando o narcotráfico (o que revelou-se falso, segundo a PF).
O governo americano havia liberado Bustos, mas tinha sua digital e os dados familiares dele. Além dessa documentação, a PF conseguiu que um colombiano preso nos EUA testemunhasse contra Bustos.
Foi com base nesse passado que a Justiça Federal considerou que os bens do mexicano só poderiam ser frutos do tráfico de cocaína. Ele tinha mais de uma dezena de imóveis em Curitiba e São José dos Pinhais (PR), no Balneário Camboriú (SC), em São José do Rio Preto (SP) e Catanduva (SP).


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