|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acordos para desmatar quadruplicam em 2 anos
De 2005 a 2007, total de termos que permitem cortar árvores subiu de 44 para 195
Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente diz que mercado imobiliário aquecido e maior fiscalização fazem acordos crescerem
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O número de desmatamentos autorizados pela Prefeitura
de São Paulo mais do que quadruplicou em dois anos. Em
2005, a Secretaria Municipal
do Verde e do Meio Ambiente
emitiu 44 TCAs (Termos de
Compensação Ambiental) para
empresas interessadas em
construir em áreas arborizadas. No ano passado, foram 195
-aumento de 343%.
O total de árvores derrubadas no período por meio desses
acordos cresceu em proporção
ainda maior, de 1.549 para
8.013 (417%). O chefe-de-gabinete da secretaria, Hélio Neves,
destaca que também é exponencial o salto das contrapartidas. Foram exigidas 883% mais
mudas plantadas dentro de terrenos prejudicados e 0,4% mais
em outras áreas.
Para ele, há um conjunto de
razões para o crescimento dos
TCAs. O primeiro é o fim de pequenas autorizações que eram
dadas pelas subprefeituras até
2006. "Antes, o corte de poucas
árvores podia ser acordado
com as subprefeituras, agora
padronizamos que tudo seria
por aqui. Em 2007, 50 TCAs foram para permitir o corte de até
cinco árvores", diz.
Outras razões seriam o aumento da fiscalização e das denúncias que, "em tese", levaram empresas que desmatariam sem autorização no passado a procurar a prefeitura. "Por
último, pesa também o aquecimento do mercado imobiliário,
que aumenta a construção em
geral, inclusive, em terrenos
antes arborizados", diz Neves.
Segundo ele, portarias publicadas também nos últimos dois
anos tornaram os TCAs mais
exigentes. Uma delas, de 2006,
tornou obrigatória a adoção de
"calçadas verdes", com grama,
arbustos e árvores e, no ano
passado, novo documento estabeleceu que o número de mudas plantadas no terreno construído tem de ser, no mínimo,
igual ao que havia antes.
Apesar disso, quem observa
fotos de satélite da cidade por
anos e acompanha as marchas
verdes, só encontra desaparecimentos. A pedido da Folha, a
empresa Imagem -que arquiva e organiza imagens de satélites- localizou um exemplo recente de desmatamento.
Verde, marrom, bege
Em uma foto de 2002, dois
terrenos com área total de 38
mil m2 no bairro Parque dos
Príncipes, na região do Butantã
(zona oeste), eram pontos verdes e arborizados. Em 2005,
vê-se o terreno marrom, apenas com terra remexida e,
atualmente, lá existe um conjunto de casas beges.
No local, foram construídos
quatro empreendimentos residenciais de alto padrão pela
Godoi, todos com TCAs (Termos de Compensação Ambiental) acordados com a prefeitura
em 2004. De acordo com a Secretaria Municipal do Verde e
do Meio Ambiente, foram cortadas 650 árvores. Para compensá-las, seria obrigatório o
plantio de 907 mudas apenas
dentro do terreno.
A empresa tem números diferentes. Segundo a arquiteta
Gabriela Tagomori, foram cortadas 483 árvores e, dentro dos
terrenos, foram plantadas 251
mudas, além da compensação
externa. "Elas [as árvores plantadas] ainda não aparecem hoje, pode demorar 15 anos para
serem mais visíveis, mas já estão lá", afirma.
Neves afirma que, com um
novo convênio com o governo
do Estado, a prefeitura tem
atualmente direito de escolher
dentro do terreno arborizado
uma área para ser totalmente
preservada. Antes, a escolha
era exclusividade do Estado,
que não costumava pedir essa
preservação. "Se fosse hoje, as
partes mais arborizadas não
poderiam ter sido removidas."
Na semana passada, a prefeitura publicou no "Diário Oficial" um Termo de Referência
para ouvir empresas que monitoram imagens de satélites. O
objetivo principal é fiscalizar se
foram feitos cortes não acordados com a prefeitura.
Mudas sem plantar
Além do replantio do local,
quase todos os TCAs prevêem
entrega de mudas a viveiros
municipais para projetos de arborização. Na semana passada,
a Folha flagrou dezenas dessas
mudas deixadas no canteiro
entre a av. Raimundo Pereira
de Magalhães e a marginal Tietê, na zona norte. A Secretaria
do Verde informou que as mudas ficaram ali por dois dias por
causa da chuva, que alagou as
covas onde seriam plantadas.
(CINTHIA RODRIGUES)
Texto Anterior: Mancha verde de 149 mil m2 vai sumir do mapa de SP Próximo Texto: Bosque vira residencial de alto padrão Índice
|