UOL


São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO

Depois de atacar veículo da PM, traficantes incendeiam ônibus; Quintal dá prazo até domingo para crimes serem elucidados

Secretário dá ultimato; tráfico faz atentado

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes do complexo de favelas da Maré (zona norte do Rio) incendiaram um ônibus ao meio-dia de ontem na Linha Amarela, via expressa que liga as zonas norte e oeste da cidade.
O ataque aconteceu menos de duas horas depois de o secretário de Segurança Pública do Estado, coronel Josias Quintal, visitar a Maré, onde exigiu que as polícias Civil e Militar prendam até domingo os responsáveis pelo ataque a um microônibus da PM que deixou dez feridos, na noite de segunda-feira. O ataque aconteceu na Baixa do Sapateiro, uma das 15 favelas do complexo.
Quintal vistoriou ontem de manhã as instalações do futuro batalhão da Polícia Militar na Maré, a apenas 1,5 km do local em que o ônibus foi incendiado. Desde o ataque ao veículo da PM, 300 policiais ocupam as favelas.
Os traficantes do morro do Timbau (vizinho da Baixa do Sapateiro), chefiados por Nei da Conceição, o Facão, são os principais suspeitos dos atentados.
A polícia investiga a hipótese de o ataque ao microônibus ter sido uma retaliação à prisão, anteontem, do traficante Márcio Dias da Silva, o Bitola, suposto gerente do tráfico no Sapateiro. Condenado a 15 anos por tráfico, ele era fugitivo da penitenciária de Bangu.
Ontem de manhã, ao visitar a Maré, o secretário Josias Quintal deu um ultimato ao comandante do 22º Batalhão da PM (Benfica, zona norte), tenente-coronel Maurício Bezerra, ao titular da 21ª Delegacia de Polícia (Bonsucesso, zona norte), delegado Reginaldo Guilherme, e ao diretor da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), delegado Luiz Alberto de Andrade.
Disse que devem identificar e prender até domingo os atacantes do microônibus. Caso contrário, afirmou de modo enigmático, vai dar uma "ajudazinha".

Não se atira em policial
"Os autores do ataque ao microônibus têm que estar presos até domingo e ponto final. Se isso não ocorrer, na segunda-feira estarei dando uma ajudazinha e ajuda eu sei como fazer. O ataque ao microônibus não ficará impune. Os traficantes têm que entender que não se deve atirar em polícia."
O secretário também determinou a instalação, no local construído para abrigar o batalhão da Maré, de uma base operacional formada pela DRE, a 21ª Delegacia de Polícia e o 22º Batalhão.
O chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, e o comandante-geral da PM, coronel Renato Hottz, não acreditam que Quintal irá promover mudanças na cúpula da segurança. "O secretário quis dizer que, se o prazo não for cumprido, vai reforçar ainda mais o policiamento na Maré", disse Lins.
O microônibus, que transportava PMs para a troca de turno em um Posto de Policiamento Comunitário da Maré, foi atacado às 20h de quarta-feira por tiros de fuzil e metralhadora. Desgovernado, caiu em um valão de esgoto. Quatro policiais e uma criança de seis anos que brincava no local foram baleados. Cinco outros PMs sofreram escoriações com a queda. O microônibus só foi içado na manhã de ontem.
Ontem, dois feridos continuavam hospitalizados: o soldado PM Fábio Leite da Costa e Wilson Luís da Silva, que dirigia o veículo.
No incêndio do coletivo na Linha Amarela, ao meio-dia de ontem, os traficantes começaram a atear fogo antes mesmo de os passageiros começarem a sair do veículo. A cobradora Sônia Apolinário de Souza sofreu queimaduras nas pernas. O motorista também ficou ferido.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Crise faz Quintal pensar em assumir legislatura
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.