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CRIME NO PARQUE
Em anos anteriores, não há registro oficial de desaparecimentos; para a polícia, descontrole mascarava furtos
Sumiço de bichos só vem à tona em 2001
DA REPORTAGEM LOCAL
Soa incrível, mas não há, antes
de 2001, registro conhecido pela
Polícia Civil, pelos funcionários
do parque ou pela direção da fundação de desaparecimento de animais do Zoológico de São Paulo.
Para os investigadores das recentes mortes no local, a explicação é clara: "Não é que não sumiam bichos, mas não se relatava
o fato", afirma o delegado Clóvis
Ferreira de Araújo, biólogo de
formação, supervisor do GOE
(Grupo de Operações Especiais) e
chefe do setor de inteligência da
Polícia Civil na capital.
O atual diretor-presidente da
fundação, Paulo Bressan, 59, assumiu o cargo em julho de 2001.
Antes, em fevereiro, já havia sido
indicado para presidir o Conselho
Superior do zôo. Foi nessa época
que começaram a ser feitas contagens do acervo do parque. E, então, um aparente surto de sumiços se abateu por lá entre setembro de 2001 e fevereiro de 2002.
Os casos se concentram em
aves. Naqueles meses, sumiu de
tudo, mostram BOs e sindicâncias
-pela primeira vez instauradas
na fundação, segundo membros
da direção. Desaparecem de canários que custam pouco -e que
não deveriam estar no zôo- até
um papagaio raro: um mutante
da espécie Amazona aestiva no
qual a coloração das penas assumira um tom canela. Valor estimado: US$ 5.000.
O animal estava trancado em
uma gaiola, numa sala igualmente
fechada à chave. Era parte de um
lote de quase 300 papagaios
apreendidos pelo Ibama, que foi
aceito no zôo contrariando ordens da direção. Já lá dentro, deveria ter deixado a fundação quatro dias antes de seu sumiço, como os funcionários haviam informado que ocorrera, em ofício enviado à direção da instituição.
Nenhum dos sumiços -foram
mais de 110 aves que desapareceram nos seis meses em questão-
foi esclarecido. As sindicâncias do
zôo foram arquivadas sem chegar
ao autor dos furtos, pois os episódios já eram alvo de inquéritos
policiais. Os inquéritos, porém,
também acabaram arquivados.
Em depoimento, os funcionários sempre disseram nada ter visto. Num dos casos sumiram 40
cisnes. Noutro, grous coroados
-pássaros de R$ 5.000 cada, bem
barulhentos. Apesar do volume e
do previsível estardalhaço, ninguém sabe, ninguém viu.
O superintendente Faiçal Simon, a quem se reportavam os diretores das divisões de aves, répteis e mamíferos, morreu de causa
desconhecida, em janeiro passado, sete dias antes de começarem
as mortes por envenenamento.
O então diretor da divisão de
aves, Luís Sanfelippo, foi afastado
uma semana após o sumiço do
papagaio e demitido por "insatisfação com seu desempenho".
(SÍLVIA CORRÊA e FABIANE LEITE)
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