São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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CRIME NO PARQUE

Em anos anteriores, não há registro oficial de desaparecimentos; para a polícia, descontrole mascarava furtos

Sumiço de bichos só vem à tona em 2001

DA REPORTAGEM LOCAL

Soa incrível, mas não há, antes de 2001, registro conhecido pela Polícia Civil, pelos funcionários do parque ou pela direção da fundação de desaparecimento de animais do Zoológico de São Paulo.
Para os investigadores das recentes mortes no local, a explicação é clara: "Não é que não sumiam bichos, mas não se relatava o fato", afirma o delegado Clóvis Ferreira de Araújo, biólogo de formação, supervisor do GOE (Grupo de Operações Especiais) e chefe do setor de inteligência da Polícia Civil na capital.
O atual diretor-presidente da fundação, Paulo Bressan, 59, assumiu o cargo em julho de 2001. Antes, em fevereiro, já havia sido indicado para presidir o Conselho Superior do zôo. Foi nessa época que começaram a ser feitas contagens do acervo do parque. E, então, um aparente surto de sumiços se abateu por lá entre setembro de 2001 e fevereiro de 2002.
Os casos se concentram em aves. Naqueles meses, sumiu de tudo, mostram BOs e sindicâncias -pela primeira vez instauradas na fundação, segundo membros da direção. Desaparecem de canários que custam pouco -e que não deveriam estar no zôo- até um papagaio raro: um mutante da espécie Amazona aestiva no qual a coloração das penas assumira um tom canela. Valor estimado: US$ 5.000.
O animal estava trancado em uma gaiola, numa sala igualmente fechada à chave. Era parte de um lote de quase 300 papagaios apreendidos pelo Ibama, que foi aceito no zôo contrariando ordens da direção. Já lá dentro, deveria ter deixado a fundação quatro dias antes de seu sumiço, como os funcionários haviam informado que ocorrera, em ofício enviado à direção da instituição.
Nenhum dos sumiços -foram mais de 110 aves que desapareceram nos seis meses em questão- foi esclarecido. As sindicâncias do zôo foram arquivadas sem chegar ao autor dos furtos, pois os episódios já eram alvo de inquéritos policiais. Os inquéritos, porém, também acabaram arquivados.
Em depoimento, os funcionários sempre disseram nada ter visto. Num dos casos sumiram 40 cisnes. Noutro, grous coroados -pássaros de R$ 5.000 cada, bem barulhentos. Apesar do volume e do previsível estardalhaço, ninguém sabe, ninguém viu.
O superintendente Faiçal Simon, a quem se reportavam os diretores das divisões de aves, répteis e mamíferos, morreu de causa desconhecida, em janeiro passado, sete dias antes de começarem as mortes por envenenamento.
O então diretor da divisão de aves, Luís Sanfelippo, foi afastado uma semana após o sumiço do papagaio e demitido por "insatisfação com seu desempenho". (SÍLVIA CORRÊA e FABIANE LEITE)


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