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CRIME NO PARQUE
Despesa mensal com manutenção da fundação caiu 20% após revisão de procedimentos e novas licitações
Corte em contratos chegou a R$ 1,4 milhão
DA REPORTAGEM LOCAL
A revisão de contratos de prestação de serviços e de fornecimento de produtos -sobretudo
rações-, aliada à mudança de
procedimentos administrativos,
reduziu em 20% os custos mensais de manutenção do Zoológico
de São Paulo na comparação entre o desembolso do segundo semestre de 2001 e o gasto atual.
A manutenção consome cerca
de 55% da receita total do zôo
-aproximadamente R$ 13 milhões por ano, incluindo repasses
do governo e arrecadação de bilheteria. São cerca de R$ 7,3 milhões para limpeza, segurança,
comida dos animais, remédios,
conserto de instalações, equipamentos etc., mas o valor já foi
quase R$ 1,4 milhão maior.
Os outros 45% do orçamento
mensal cobrem as despesas com
pessoal (35%) e patrocinam os investimentos (10%). Há alguns
anos, porém, os custos de manutenção eram tão pesados -inclusive pelo descontrole da entrada
de animais- que engoliam toda
a verba de investimento, paralisando atividades de reprodução e
manejo de espécies raras. Na época, os fornecedores eram os mesmos havia mais de dez, 20 anos.
Felinos obesos
A mesma falta de controle e planejamento que permitia que funcionários fizessem a reposição de
alimentos de suas casas a partir da
despensa do zôo também colocava em risco a saúde de alguns animais, narram técnicos do parque.
Sem acompanhamento médico
adequado, os felinos, por exemplo, estavam obesos no final de
2001, pois os 12 kg de carne eram
entregues diariamente a eles sem,
por exemplo, o jejum necessário.
"Logo que assumi, costumava
circular pelo parque, entre os visitantes, para ouvir comentários
feitos entre eles. Uma vez escutei
uma mulher dizendo ao marido:
"Benhê, vamos ver se a gente acha
algum bicho vivo, vai". Não dá para ouvir isso", narra o veterinário
Paulo Bressan, diretor-presidente
do zôo desde julho de 2001, referindo-se à preguiça observada à
época nos animais obesos.
Pesquisa x diversão
A falta de prioridade nos gastos
tinha relação direta com os problemas de relacionamento entre o
Conselho Superior do zôo e o então secretário de Esportes e Turismo, Marcos Arbaitman, titular da
pasta à qual a fundação foi vinculada durante décadas.
Apesar de não haver relação
hierárquica entre os órgãos, Arbaitman mantinha no zôo um assessor de seu gabinete que, narram os membros do conselho do
zôo, empenhava-se em impor sugestões da secretaria à instituição.
Na ocasião, a ingerência chegou a
ser alvo de queixas à Promotoria.
Tais sugestões tinham origem
no mais ferrenho embate mantido entre conselheiros e secretários por anos -a vocação do parque. Para os conselheiros, oriundos basicamente da Universidade
de São Paulo, o zôo é uma fundação científica, que tem de valorizar o ensino e a pesquisa.
Para o secretário, a instituição
iria se consagrar como parque de
diversões, no qual os animais seriam apenas uma das atrações.
"O zoológico passou por uma
fase meio tumultuada. Parece que
havia um conflito de interesses",
afirmou à Folha, em março, o
presidente do conselho orientador do zôo, Miguel Trefaut.
Cada tendência, é evidente, queria ver as verbas aplicadas de forma alinhada com o enfoque defendido para a instituição. O conselho tentava priorizar a pesquisa
e o ensino. O secretário queria fazer "um parque bonito", que garantisse boa bilheteria.
A face mais visível desse entrevero foi a indicação feita por Arbaitman de Marcelo Gutglas, o
presidente do Playcenter, para o
comando do conselho e sua nomeação, pelo governador.
Gutglas ficou só um mês no cargo. Na primeira reunião com os
conselheiros, ele foi questionado
sobre sua formação acadêmica.
Engenheiro, não poderia ocupar
o cargo, segundo o estatuto da
fundação, que exige um profissional da área de biociências.
Com uma ilegalidade explícita
para se apegar, o conselho suspendeu a reunião sem que sua ata
fosse nem sequer finalizada, o que
só aconteceu quatro meses depois, quando Bressan assumiu as
rédeas da fundação, vindo da Secretaria da Administração e atendendo a um pedido pessoal de
Geraldo Alckmin (PSDB).
Conhecido como um homem
de confiança do governo, ele é tradicionalmente indicado para desatar nós da administração. Em
2001, o zôo era mais um. Foi Bressan quem disse a Arbaitman que a
fundação exerceria sua plena autonomia administrativa. Hoje, o
Zoológico de São Paulo é vinculado à pasta de Ciência e Tecnologia.
(SÍLVIA CORRÊA e FABIANE LEITE)
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