São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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BARBARA GANCIA

O "momento errado" de Marcello Anthony

Nossa imprensa finalmente se deu conta de um fato singular: nem todo usuário de droga fica com a cara do Maradona. Mas que espanto!
Sinta só o enfoque que um de nossos jornais de grande circulação deu ao caso de Marcello Anthony, o Rodolfo de "Um Só Coração", preso no fim de semana comprando maconha na rua: "Quem vê Anthony bebendo iogurte light no comercial da TV ainda não consegue acreditar que aquele homem bonito e malhado, de hábitos aparentemente saudáveis, possa ser consumidor de drogas".
É de perguntar se um dos amiguinhos do dinossauro Barney anda cobrindo férias de jornalista. Como assim, "quem vê não consegue acreditar"? Mas não está cheio de jornalista, de banqueiro, de bancário e até de esportista de fama mundial consumindo substâncias ilegais?
É ilusão, do tipo que passa correndo pela hipocrisia e vai dar direto no colo da ignorância, supor que todos os consumidores de drogas irão terminar seus dias trancafiados em algum quartinho de paredes acolchoadas, rosnando feito uma Frances Farmer.
Por que a idéia de que um adônis cheiroso como Marcello Anthony, profissional e marido responsável e pai adotivo de Francisco, 2, goste de dar suas pitadas em um cigarro de maconha é capaz de gerar tamanho vendaval?
Seu advogado, seu professor ou, quem sabe, o podólogo do nobre leitor também não gostam de tomar seus birinaites? E não acaba de sair o resultado de um novo estudo dizendo que, mesmo em doses conservadoras, o álcool ainda é capaz de destruir grande quantidade de neurônios? Gente tão bonita e asseada quanto Marcello Anthony também não come embutidos e alimentos contendo clorantes? Mas ninguém nunca viu uma reportagem que dissesse: "Quem olha para a bela e esportiva apresentadora não imagina que ela goste de comer baconzitos" -ou viu?
Ora, quer coisa mais nefasta do que o ar que se respira em Sampa? Alguém diria que a maconha é mais tóxica do que o monóxido de carbono que respiramos?
Acontece que maconha é ilegal. E é aí que a porca torce o rabo. Nesta semana, nosso poeta-ministro, Gilberto Gil, esboçou a defesa do desaparecimento do tráfico com a liberação. O dr. Drauzio Varella também tocou no assunto em sua coluna do último sábado. Pense comigo: se o tráfico não tivesse virado esse bicho-papão, será que alguém daria a mínima se Marcello Anthony fuma maconha ou se toca sanfona?

QUALQUER NOTA

Olho vivo
Será minha vista, que já está dobrando o cabo da Boa Esperança, ou serão os restaurantes da moda, que resolveram todos adotar a menor tipologia de Lilliput na confecção de seus cardápios? Com a mesma freqüência com que a caneta para o cheque é oferecida na hora da conta, que tal se esses restaurantes tão cheios de estrelas começassem a distribuir menus acompanhados de lupas à la Sherlock Holmes?

Ô, coitada!
Pobre Marília Pêra. Tem horror a cigarro e será a tabagistérrima Coco Chanel na produção tapuia de "Mademoiselle".


E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia


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