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BARBARA GANCIA
O "momento errado" de Marcello Anthony
Nossa imprensa finalmente se deu conta de um
fato singular: nem todo usuário
de droga fica com a cara do Maradona. Mas que espanto!
Sinta só o enfoque que um de
nossos jornais de grande circulação deu ao caso de Marcello Anthony, o Rodolfo de "Um Só Coração", preso no fim de semana
comprando maconha na rua:
"Quem vê Anthony bebendo iogurte light no comercial da TV
ainda não consegue acreditar
que aquele homem bonito e malhado, de hábitos aparentemente
saudáveis, possa ser consumidor
de drogas".
É de perguntar se um dos amiguinhos do dinossauro Barney
anda cobrindo férias de jornalista. Como assim, "quem vê não
consegue acreditar"? Mas não está cheio de jornalista, de banqueiro, de bancário e até de esportista
de fama mundial consumindo
substâncias ilegais?
É ilusão, do tipo que passa correndo pela hipocrisia e vai dar direto no colo da ignorância, supor
que todos os consumidores de
drogas irão terminar seus dias
trancafiados em algum quartinho de paredes acolchoadas, rosnando feito uma Frances Farmer.
Por que a idéia de que um adônis cheiroso como Marcello Anthony, profissional e marido responsável e pai adotivo de Francisco, 2, goste de dar suas pitadas em
um cigarro de maconha é capaz
de gerar tamanho vendaval?
Seu advogado, seu professor ou,
quem sabe, o podólogo do nobre
leitor também não gostam de tomar seus birinaites? E não acaba
de sair o resultado de um novo estudo dizendo que, mesmo em doses conservadoras, o álcool ainda
é capaz de destruir grande quantidade de neurônios? Gente tão
bonita e asseada quanto Marcello
Anthony também não come embutidos e alimentos contendo clorantes? Mas ninguém nunca viu
uma reportagem que dissesse:
"Quem olha para a bela e esportiva apresentadora não imagina
que ela goste de comer baconzitos" -ou viu?
Ora, quer coisa mais nefasta do
que o ar que se respira em Sampa? Alguém diria que a maconha
é mais tóxica do que o monóxido
de carbono que respiramos?
Acontece que maconha é ilegal.
E é aí que a porca torce o rabo.
Nesta semana, nosso poeta-ministro, Gilberto Gil, esboçou a defesa do desaparecimento do tráfico com a liberação. O dr. Drauzio
Varella também tocou no assunto
em sua coluna do último sábado.
Pense comigo: se o tráfico não tivesse virado esse bicho-papão, será que alguém daria a mínima se
Marcello Anthony fuma maconha ou se toca sanfona?
QUALQUER NOTA
Olho vivo
Será minha vista, que já está dobrando o cabo da Boa Esperança, ou serão os restaurantes da
moda, que resolveram todos
adotar a menor tipologia de Lilliput na confecção de seus cardápios? Com a mesma freqüência com que a caneta para o
cheque é oferecida na hora da
conta, que tal se esses restaurantes tão cheios de estrelas começassem a distribuir menus
acompanhados de lupas à la
Sherlock Holmes?
Ô, coitada!
Pobre Marília Pêra. Tem horror
a cigarro e será a tabagistérrima
Coco Chanel na produção tapuia de "Mademoiselle".
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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