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Computador em escola não melhora nota
Dois estudos mostram que acesso à informática não influencia positivamente o desempenho do aluno e pode prejudicar ensino
O uso da internet fora dos horários de aula distrai estudante e pode ser responsável por piora em português e matemática
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O uso de computadores nas
escolas não melhorou o desempenho dos alunos em português e matemática, aponta um
exame feito pelo MEC (Ministério da Educação).
Essa conclusão surpreende
entusiastas do uso de novas
tecnologias no ensino e consta
em dois estudos realizados a
partir do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica),
principal meio para avaliar a
qualidade da educação.
Um deles foi feito pelo economista Naercio Menezes Filho, professor da Universidade
de São Paulo e do Ibmec-SP.
Comparando alunos de mesmo perfil socioeconômico e no
mesmo ambiente, a média em
matemática em escolas públicas ou privadas onde estudantes têm acesso a computadores
não difere de forma significativa da de crianças em escolas
sem computador ou internet.
O único efeito positivo de
computadores no desempenho, segundo constatado por
Menezes Filho, aparece quando o aluno tem acesso a eles e à
internet em casa.
O outro estudo foi conduzido
na Alemanha pela pesquisadora Maresa Sprietsma, do Centro de Pesquisas Econômicas
Européias. Também com base
no Saeb, ela concluiu que a presença de computadores em escolas brasileiras afeta negativamente o desempenho dos alunos em português e, principalmente, em matemática.
Tanto Menezes Filho como
Sprietsma alertam que, pelo
Saeb, não é possível saber que
tipo de uso do computador está
sendo feito. "Não sabemos, por
exemplo, se os alunos estão utilizando os computadores fora
do horário de classes de informática ou que tipo de atividade
pedagógica acontece nos laboratórios", diz Sprietsma.
Falta orientação
Para Menezes Filho, o tipo de
uso que o aluno faz do equipamento pode ajudar a explicar
por que quando há computador
em casa há efeitos positivos no
aprendizado, enquanto o mesmo não acontece no caso de
computadores na escola.
"Talvez esteja faltando em
muitas escolas um professor
que oriente o aluno a usar o
computador, enquanto em casa
essa tarefa está sendo feita pelos pais", afirma ele.
Já Sprietsma sugere duas hipóteses para explicar o efeito
negativo da presença de computadores no desempenho.
A primeira é que os alunos
que usam o laboratório fora do
horário escolar, para acessar a
internet ou entrar em salas de
bate-papo, estariam deixando
de fazer outras atividades importantes para o aprendizado,
como os deveres de casa.
A segunda é que escolas que
investiram em laboratórios de
informática podem ter deixado
de usar seu orçamento em outros recursos pedagógicos, que
podem ser mais efetivos.
Computador é importante
Os dois pesquisadores alertam que seus estudos analisam
apenas o efeito no desempenho
em português e matemática.
"Para a economia, é importante
que a população seja alfabetizada digitalmente. Não se deve
concluir que o investimento
em computadores nas escolas é
inútil", aponta a pesquisadora
do Centro de Pesquisas Econômicas Européias.
O professor do Ibmec e da
USP concorda: "É importante
ter computador na escola para
ser usado ao menos pelo diretor ou para que os alunos se
acostumem a usar essa ferramenta, que será importante para seu desenvolvimento profissional. O que está errado é dizer
que o computador, por si só, vai
melhorar o desempenho".
Para ele, a advertência vale
tanto para subsidiar gestores
públicos na hora de implementarem suas políticas como para
pais que matriculam seus filhos
em escolas particulares.
"Vejo às vezes escolas privadas utilizando vários computadores em cada sala de aula, mas,
se o professor não ensinar bem
matemática e português, ou
não souber usar o computador
como ferramenta de ensino, de
nada adiantará", completa.
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