São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2010

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Ônibus mudam rota e horário todos os dias

Divulgadas timidamente, alterações de itinerário, por motivos como obras na rua ou pouca demanda, confundem usuários em SP

Em 2009, mudanças de horário de partida do ônibus foram em média 13 ao dia; "Coleciono protocolos de reclamação", diz passageira

Adriano Vizoni/Folha Imagem
Passageiros aguardam em ponto na avenida Nove de Julho; relatório mostra que há, em média, três mudanças em itinerários de ônibus por dia na cidade de São Paulo

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

ANDRESSA TAFFAREL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A universitária Julia Alcassa, 19, desistiu neste ano do transporte coletivo e aderiu ao automóvel para ir à faculdade. A decisão de contribuir com os engarrafamentos do trânsito paulistano foi tomada ao saber que, de uma hora para outra, a linha de ônibus que lhe deixava perto de casa havia sido extinta.
A estudante do Mackenzie só não ficou plantada à espera do coletivo graças ao alerta de uma amiga -que também só soube porque ouviu a conversa de uma outra passageira do ônibus que viajava da praça Ramos ao parque Continental e que informava a mudança com uma folha sulfite colada na janela.
"Se ela não tivesse me avisado, ficaria no ponto esperando", conta Julia, que desistiu do transporte diante da necessidade de pegar duas conduções.
Um relatório da SPTrans (empresa municipal que cuida do setor) mostra que, em média, há quase três mudanças de itinerário e 13 nos horários de partida dos ônibus por dia.
Do total de 1.347 linhas, 8% foram inclusive canceladas no ano passado -na maioria das vezes, substituídas por outras, mas com diferenças de percurso que sempre afetam a rotina de uma parcela dos usuários.
Os pedidos de alteração podem partir do poder público ou das concessionárias do transporte coletivo, mas dependem sempre de autorização da prefeitura. Os motivos vão de uma obra viária no caminho até pouca demanda no trajeto.
Mesmo quando tecnicamente justificáveis, as mudanças constantes criam incertezas para os passageiros, já que a divulgação costuma ser tímida.
"O passageiro fica que nem bobo esperando um ônibus sem saber que ele não vai chegar", diz Saad Mazloum, promotor do Patrimônio Público e Social, que criou um blog (www.onibus.blog.br) para reunir as diversas queixas dos usuários, com a intenção de ingressar com uma ação na Justiça por danos morais coletivos e improbidade administrativa.
A gestão Gilberto Kassab (DEM) alega que essa quantidade de mudanças nas linhas é normal e visa melhorá-las.
"O usuário tinha de receber os avisos de qualquer mudança em cada ponto, com pelo menos duas semanas de antecedência. Hoje ele não é tratado com respeito e, por isso, só se afasta do transporte coletivo", avalia Horácio Augusto Figueira, mestre em engenharia de transportes pela USP.
A pesquisadora Kathia Cesna, que percorre a cidade de ônibus para um trabalho em vários bairros, conta que coleciona protocolos de reclamações na SPTrans. Já são mais de 20 -e incluem desde as tradicionais queixas sobre atrasos nos ônibus até relatos de baratas dentro dos coletivos.
"Quando acho que algo está errado, reclamo mesmo. As pessoas me dizem que "é normal ficar 40 minutos nesse ponto", mas discordo."
De todas as reclamações, Kathia diz que apenas uma foi atendida. "Um dos ônibus que demorava mais de 20 minutos para passar agora demora menos de dez", afirma.


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