São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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PERIGO NA NATUREZA

No país, são cerca de 2.000 pacientes por ano; Fiocruz divulgou lista de 16 espécies que mais ameaçam

Planta venenosa intoxica mais crianças

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas estão por toda a parte. No interior das casas, nos jardins, nos playgrounds, nas praças e parques públicos e nos canteiros de ruas e avenidas. São as plantas venenosas, que, por ano, intoxicam em média 2.000 pessoas no país, 60% crianças com menos de nove anos, segundo dados do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), ligado à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro.
Para alertar a população sobre o perigo representado por essas plantas, a fundação lançou uma campanha educativa, em parceria com os centros de controle de toxicologia de São Paulo, Belém, Salvador, Cuiabá, Campinas, São Paulo e Porto Alegre.
De acordo com Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, o primeiro trabalho do programa foi a divulgação, por meio de folhetos, de cartazes e da internet, das 16 plantas que mais causam intoxicação no país. Também está sendo elaborado um manual de tratamento dos envenenamentos. A idéia é distribuir o material nas escolas e locais de grande concentração pública.
A folhagem comigo-ninguém-pode, cultivada no interior das casas por, supostamente, combater o mau-olhado, é a campeã das intoxicações. A ingestão da planta pode causar queimação, inchaço de lábios, boca e língua, náuseas, vômitos, diarréia, dificuldade de engolir e asfixia.
Em geral, de acordo com a farmacêutica Sônia Aparecida Dantas Barcia, do Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo, que funciona no Hospital Municipal Dr. Artur Ribeiro de Saboya, as crianças se intoxicam com as plantas em três situações: por curiosidade, fome ou apostas entre amigos.
O time dos pequenos de um a quatro anos é responsável por 40% das ocorrências no centro. Os acidentes geralmente acontecem em casa, em algum momento de distração dos pais. "É uma fase de exploração, e elas levam à boca tudo o que vêem pela frente. Deixar o carrinho do bebê perto da planta é um grande risco", diz ela.
Dos quatro aos nove anos, as intoxicações ocorrem durante brincadeiras infantis. "As crianças, em geral meninos, fazem apostas e, quem perde, tem que comer planta", afirma a farmacêutica.
Um dos casos mais graves atendidos pelo centro, envolvendo crianças, foi há dois anos, quando três irmãos deram entrada no pronto-socorro com vômito e diarréia ininterruptas. Aproveitando um congestionamento na rodovia dos Imigrantes, elas deixaram o carro dos pais e comeram alguns frutos de uma árvore próxima à rodovia.
Eram pinhões roxos ou paraguaios, frutos cujas sementes e o óleo são extremamente tóxicos e causam grave inflamação do trato gastrointestinal. As crianças se recuperaram após uma lavagem gástrica e hidratação com soro. "Se não fossem socorridos a tempo, eles poderiam ter morrido em razão da desidratação."
O estudante Denilson de Castro, 10, passou por esse susto há quatro anos, quando ainda estava na pré-escola. Durante passeio da classe em um parque da cidade, ele levou à boca o fruto, que imediatamente lhe causou náuseas.
O menino foi levado ao Hospital das Clínicas e, a exemplo dos três irmãos, passou por lavagem estomacal e tomou soro. "O que mais me irritou foi que o monitor viu isso, mas achou que o fruto era comestível", afirma a mãe, Joana.
Para evitar acidentes desse tipo, a coordenadora do Sinitox defende que o poder público coloque placas nessas plantas com o alerta sobre a toxicidade, especialmente nos locais com grande circulação de crianças.
Bochner diz que não é objetivo da campanha eliminar as plantas tóxicas. "É perfeitamente possível conviver em harmonia com elas. Basta respeitá-las", afirma.
Além de ensinar as crianças a não colocar plantas na boca, ela afirma que os pais devem conhecer bem as folhagens e flores existentes em casa e nos arredores.


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