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O PERIGO MORA AO LADO
Em 40 dias, quadrilha levou 20 vítimas capturadas no bairro do Morumbi para cativeiro em matagal
Paraisópolis concentra seqüestro relâmpago
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
A favela Paraisópolis (zona sul
de São Paulo) transformou-se no
principal reduto de cativeiros onde são mantidas vítimas de seqüestro relâmpago. Segundo investigações da Polícia Civil paulista, o local abrigou cerca de 20 vítimas nos últimos 40 dias.
Uma mesma quadrilha, formada por pelo menos seis adolescentes, seria responsável por todos os
casos. O grupo contaria com a
ajuda de uma mulher.
De acordo com a polícia, todos
os criminosos são moradores da
favela, que fica ao lado do Morumbi, bairro que concentra o
maior número de vítimas de seqüestro relâmpago na cidade.
Ao contrário dos cativeiros tradicionais, onde o refém é mantido
em uma casa, na favela Paraisópolis a vítima é levada para um
matagal que fica no final da rua
Silveira Sampaio.
Para chegar até o cativeiro a céu
aberto é preciso andar por trilhas
de difícil acesso cercadas de árvores. Depois, ainda é preciso pular
um muro de dois metros de altura
e andar mais 50 metros.
Do local é possível avistar a chegada da polícia. Caso isso ocorra,
os criminosos fogem pelas trilhas
que dão acesso às ruas da favela.
Compras
No casos investigados, as vítimas foram abordadas na região
da avenida Giovanni Gronchi e
nas imediações dos hospitais Albert Einstein e São Luiz. Todas
têm o mesmo perfil: são jovens e
dirigiam bons carros.
Depois de terem sido vistas pelo
grupo, as vítimas são seguidas por
duas motocicletas, abordadas
quando estão distraídas e levadas
para o cativeiro na mata.
A polícia apurou que, enquanto
a vítima é vigiada no cativeiro, um
grupo sai com uma mulher em
um carro e faz compras no shopping Jardim Sul. O outro realiza
saques nos caixas eletrônicos do
shopping Morumbi.
Depois, a quadrilha volta para o
cativeiro. A vítima é colocada no
próprio carro e deixada no Morumbi. A ação toda dura cerca de
três horas, segundo a polícia.
Casos como esse são freqüentes
em São Paulo. Em média, ocorrem 140 seqüestros relâmpagos
por mês, de acordo com dados do
Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado). Além do Morumbi, outros
bairros visados são Moema e Vila
Olímpia (zona sul da capital).
Para tentar acabar com a ação
da quadrilha, policiais da DAS
(Divisão Anti-Seqüestro) intensificaram o policiamento na região.
A prisão da "quadrilha da Paraisópolis" é uma das prioridades do
departamento. Por causa das
constantes rondas na região, na
última semana não houve mais
registros de seqüestros relâmpagos onde a vítima foi levada para a
favela, segundo o delegado Antônio de Olim, que cuida do caso.
Durante as investigações, a DAS
resgatou três jovens (dois rapazes
e uma mulher) que eram mantidos reféns no cativeiro a céu aberto na favela Paraisópolis.
A violência não preocupa apenas os vizinhos ricos da favela.
Também assusta os moradores.
Há pouco tempo, lojas dentro de
Paraisópolis passaram a ser o alvo
dos criminosos.
Telma, que não quis dar o sobrenome, mora há cinco anos na
favela. "Gostar mesmo de viver
aqui eu não gosto. Mas aqui o
meu marido tem serviço", afirma
ela. Para a mulher, o pior são os tiroteios que acontecem eventualmente. "De uns tempos para cá
está mais violento."
Colaborou CONSTANÇA TATSCH, da
Redação
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