São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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O PERIGO MORA AO LADO

Em 40 dias, quadrilha levou 20 vítimas capturadas no bairro do Morumbi para cativeiro em matagal

Paraisópolis concentra seqüestro relâmpago

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

A favela Paraisópolis (zona sul de São Paulo) transformou-se no principal reduto de cativeiros onde são mantidas vítimas de seqüestro relâmpago. Segundo investigações da Polícia Civil paulista, o local abrigou cerca de 20 vítimas nos últimos 40 dias.
Uma mesma quadrilha, formada por pelo menos seis adolescentes, seria responsável por todos os casos. O grupo contaria com a ajuda de uma mulher.
De acordo com a polícia, todos os criminosos são moradores da favela, que fica ao lado do Morumbi, bairro que concentra o maior número de vítimas de seqüestro relâmpago na cidade.
Ao contrário dos cativeiros tradicionais, onde o refém é mantido em uma casa, na favela Paraisópolis a vítima é levada para um matagal que fica no final da rua Silveira Sampaio.
Para chegar até o cativeiro a céu aberto é preciso andar por trilhas de difícil acesso cercadas de árvores. Depois, ainda é preciso pular um muro de dois metros de altura e andar mais 50 metros.
Do local é possível avistar a chegada da polícia. Caso isso ocorra, os criminosos fogem pelas trilhas que dão acesso às ruas da favela.

Compras
No casos investigados, as vítimas foram abordadas na região da avenida Giovanni Gronchi e nas imediações dos hospitais Albert Einstein e São Luiz. Todas têm o mesmo perfil: são jovens e dirigiam bons carros.
Depois de terem sido vistas pelo grupo, as vítimas são seguidas por duas motocicletas, abordadas quando estão distraídas e levadas para o cativeiro na mata.
A polícia apurou que, enquanto a vítima é vigiada no cativeiro, um grupo sai com uma mulher em um carro e faz compras no shopping Jardim Sul. O outro realiza saques nos caixas eletrônicos do shopping Morumbi.
Depois, a quadrilha volta para o cativeiro. A vítima é colocada no próprio carro e deixada no Morumbi. A ação toda dura cerca de três horas, segundo a polícia.
Casos como esse são freqüentes em São Paulo. Em média, ocorrem 140 seqüestros relâmpagos por mês, de acordo com dados do Deic (Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado). Além do Morumbi, outros bairros visados são Moema e Vila Olímpia (zona sul da capital).
Para tentar acabar com a ação da quadrilha, policiais da DAS (Divisão Anti-Seqüestro) intensificaram o policiamento na região.
A prisão da "quadrilha da Paraisópolis" é uma das prioridades do departamento. Por causa das constantes rondas na região, na última semana não houve mais registros de seqüestros relâmpagos onde a vítima foi levada para a favela, segundo o delegado Antônio de Olim, que cuida do caso.
Durante as investigações, a DAS resgatou três jovens (dois rapazes e uma mulher) que eram mantidos reféns no cativeiro a céu aberto na favela Paraisópolis.
A violência não preocupa apenas os vizinhos ricos da favela. Também assusta os moradores. Há pouco tempo, lojas dentro de Paraisópolis passaram a ser o alvo dos criminosos.
Telma, que não quis dar o sobrenome, mora há cinco anos na favela. "Gostar mesmo de viver aqui eu não gosto. Mas aqui o meu marido tem serviço", afirma ela. Para a mulher, o pior são os tiroteios que acontecem eventualmente. "De uns tempos para cá está mais violento."


Colaborou CONSTANÇA TATSCH, da Redação

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