São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2007

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Polícia ameaça prender estudantes da USP

O comandante da tropa de choque da PM, coronel Joviano Conceição Lima, disse que resistir à reintegração de posse é crime

Em assembléia à noite, os estudantes decidiram manter a invasão do prédio da reitoria; PM deve marcar nova reunião com os alunos


FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O comandante da tropa de choque da Polícia Militar, coronel Joviano Conceição Lima, afirmou ontem à tarde que os estudantes que invadiram há 20 dias a reitoria da USP, na zona oeste de SP, poderão ser presos caso resistam à reintegração de posse, determinada pela Justiça na semana passada.
A ameaça, no entanto, não pareceu surtir efeito. Em assembléia à noite, os estudantes decidiram manter a invasão. O apoio à decisão foi claro e não foi preciso repetir a votação. Segundo os manifestantes, participaram do ato 2.000 alunos.
Hoje, será a vez de os professores fazerem assembléia para decidir se param ou não.
Desde a madrugada, o clima no campus era de ansiedade, à espera da desocupação.
De manhã, um piquete de alunos no Instituto de Física causou bate-boca e empurra-empurra entre partidários e contrários à greve. Depois disso, as aulas pararam na unidade.
A ECA (Escola de Comunicações e Artes) e a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) foram as únicas unidades, além da Física, que estavam totalmente sem aulas ontem. Nas demais, ou não houve adesão ou apenas uma pequena parte parou.
Nas imediações do prédio da reitoria, os alunos grevistas mantiveram os bloqueios com peças de concreto e pneus, enquanto um helicóptero da PM fazia sobrevôos pelo campus.
À tarde, a reitora, Suely Vilela, apresentou três pontos adicionais à proposta recusada anteriormente pelos alunos (sobre alimentação e transporte nos finais de semana e abrandamento da regra de jubilação, o tempo máximo para completar o curso). A assembléia noturna ratificou nova recusa.

Desobediência
Segundo o coronel Joviano Lima, os estudantes podem ser presos caso ocorra a reintegração e haja resistência, mesmo que pacífica -como, por exemplo, se ficarem deitados no prédio. "Quem fizer isso será removido e autuado por desobediência à ordem judicial."
O crime de desobediência, previsto no artigo 330 do Código Penal, prevê detenção de 15 dias a seis meses a quem desobedecer a ordem legal de funcionário público. Lima disse ainda que os alunos poderão ser presos caso seja identificado o autor de crimes como dano ao patrimônio ou extravio de documentos. A direção da USP já registrou boletim de ocorrência após ter recebido a informação de que documentos foram extraviados.
As declarações foram feitas após mais uma reunião com a reitora, em que voltaram a discutir a reintegração. O encontro ocorreu no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), onde Suely tem despachado. A unidade fica dentro da Cidade Universitária.
O coronel afirmou que os alunos serão convidados para mais uma reunião, provavelmente amanhã. Anteontem, os manifestantes compareceram a um encontro convocado pela PM, mas apenas leram um manifesto de apoio à invasão. "Se eles não aparecerem, será mais uma demonstração de desrespeito a uma ordem judicial", disse Lima. Os alunos afirmam que negociam apenas com a reitoria.
Os estudantes reivindicam um posicionamento da reitora sobre as medidas do governador José Serra (PSDB) para o ensino superior, que, segundo eles, tiram a autonomia das universidades. Além disso, exigem a criação de cerca de 700 moradias estudantis e a reforma de algumas unidades.
Suely afirma que já se pronunciou, por meio de nota assinada em conjunto com os reitores da Unicamp e da Unesp, na qual eles dizem que não há mais risco à autonomia. Sobre os outros dois pontos -criação de moradias e reforma de unidades-, informa que já há projetos para atendê-los.


Com a colaboração de KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local, e AIURI REBELLO

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