|
Próximo Texto | Índice
Polícia ameaça prender estudantes da USP
O comandante da tropa de choque da PM, coronel Joviano Conceição Lima, disse que resistir à reintegração de posse é crime
Em assembléia à noite, os estudantes decidiram manter a invasão do prédio
da reitoria; PM deve marcar nova reunião com os alunos
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
O comandante da tropa de
choque da Polícia Militar, coronel Joviano Conceição Lima,
afirmou ontem à tarde que os
estudantes que invadiram há
20 dias a reitoria da USP, na zona oeste de SP, poderão ser presos caso resistam à reintegração de posse, determinada pela
Justiça na semana passada.
A ameaça, no entanto, não
pareceu surtir efeito. Em assembléia à noite, os estudantes
decidiram manter a invasão. O
apoio à decisão foi claro e não
foi preciso repetir a votação.
Segundo os manifestantes, participaram do ato 2.000 alunos.
Hoje, será a vez de os professores fazerem assembléia para
decidir se param ou não.
Desde a madrugada, o clima
no campus era de ansiedade, à
espera da desocupação.
De manhã, um piquete de
alunos no Instituto de Física
causou bate-boca e empurra-empurra entre partidários e
contrários à greve. Depois disso, as aulas pararam na unidade.
A ECA (Escola de Comunicações e Artes) e a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas) foram as
únicas unidades, além da Física, que estavam totalmente
sem aulas ontem. Nas demais,
ou não houve adesão ou apenas
uma pequena parte parou.
Nas imediações do prédio da
reitoria, os alunos grevistas
mantiveram os bloqueios com
peças de concreto e pneus, enquanto um helicóptero da PM
fazia sobrevôos pelo campus.
À tarde, a reitora, Suely Vilela, apresentou três pontos adicionais à proposta recusada anteriormente pelos alunos (sobre alimentação e transporte
nos finais de semana e abrandamento da regra de jubilação,
o tempo máximo para completar o curso). A assembléia noturna ratificou nova recusa.
Desobediência
Segundo o coronel Joviano
Lima, os estudantes podem ser
presos caso ocorra a reintegração e haja resistência, mesmo
que pacífica -como, por exemplo, se ficarem deitados no prédio. "Quem fizer isso será removido e autuado por desobediência à ordem judicial."
O crime de desobediência,
previsto no artigo 330 do Código Penal, prevê detenção de 15
dias a seis meses a quem desobedecer a ordem legal de funcionário público.
Lima disse ainda que os alunos poderão ser presos caso seja identificado o autor de crimes como dano ao patrimônio
ou extravio de documentos. A
direção da USP já registrou boletim de ocorrência após ter recebido a informação de que documentos foram extraviados.
As declarações foram feitas
após mais uma reunião com a
reitora, em que voltaram a discutir a reintegração. O encontro ocorreu no Ipen (Instituto
de Pesquisas Energéticas e Nucleares), onde Suely tem despachado. A unidade fica dentro da
Cidade Universitária.
O coronel afirmou que os
alunos serão convidados para
mais uma reunião, provavelmente amanhã. Anteontem, os
manifestantes compareceram
a um encontro convocado pela
PM, mas apenas leram um manifesto de apoio à invasão.
"Se eles não aparecerem, será
mais uma demonstração de
desrespeito a uma ordem judicial", disse Lima. Os alunos
afirmam que negociam apenas
com a reitoria.
Os estudantes reivindicam
um posicionamento da reitora
sobre as medidas do governador José Serra (PSDB) para o
ensino superior, que, segundo
eles, tiram a autonomia das
universidades. Além disso, exigem a criação de cerca de 700
moradias estudantis e a reforma de algumas unidades.
Suely afirma que já se pronunciou, por meio de nota assinada em conjunto com os reitores da Unicamp e da Unesp, na
qual eles dizem que não há
mais risco à autonomia. Sobre
os outros dois pontos -criação
de moradias e reforma de unidades-, informa que já há projetos para atendê-los.
Com a colaboração de KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local, e AIURI REBELLO
Próximo Texto: Frase Índice
|