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ANÁLISE
Surpreende que cerca de 30% dos atropelados sejam idosos?
EDUARDO BIAVATI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando o sinal abre, a
imagem é de um boneco com
as pernas abertas, o braço
adiante, como se caminhasse, passo a passo, para chegar ao outro lado da rua. Para
que ninguém tenha dúvida,
lê-se o comando "walk" (caminhe) nos focos para pedestre norte-americanos -certamente porque é mais seguro
andar do que correr.
Mas ninguém repara no
bonequinho verde. Os olhares estão aguardando outro
sinal: o vermelho dos carros.
Dá tempo de atravessar? Será
que vai abrir? E se o motorista avançar? Não dá para confiar em bonequinho verde.
Devidamente educados,
os pedestres reproduzem um
comportamento submisso.
Observe seu olhar de pedinte, já com os pés na faixa, tateando sua sobrevivência. Dá
para aguardar um momentinho enquanto atravesso?
A vida de pedestre em São
Paulo é esse humilhante cotidiano de se curvar sempre à
fluidez dos veículos. Um estorvo nos cálculos da engenharia de tráfego. Melhor seria que não existisse, mas já
que está em toda parte, calcula-se que ele caminhe a 1,2 m/s e não comprometa o
sistema viário.
Essa velocidade não é para
qualquer um: mais de 600
acabam mortos no meio da
travessia todos os anos em
São Paulo. Surpreende que
aproximadamente 30% dessas vítimas tenham mais de
60 anos de idade?
Como é possível atravessar
a 1,2 m/s se antes a pessoa
gastou o fôlego subindo ladeiras e desviando de montes de lixo? Resta ao lado,
ainda bem, o asfalto da pista,
onde morrerá quase metade
das vítimas do trânsito.
Pobres pedestres! Contamos, ao menos, com a esperança de que tudo pode mudar quando a segurança se
torna prioridade, como ocorreu em Brasília, há dez anos.
EDUARDO BIAVATI é sociólogo e especialista em educação para o trânsito
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