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Não há lugar no Rio em que polícia não entre, diz Beltrame
Secretário de Segurança quer ocupar 47 áreas hoje sob o controle do tráfico, inclusive o Complexo do Alemão
Para ele, armas, drogas, munição, caça-níqueis, milícias e corrupção policial são delitos que levaram desgraça ao Rio
ITALO NOGUEIRA
DO RIO
Sob o comando do gaúcho
José Mariano Beltrame, 53, a
Secretaria de Segurança do
Rio revive a esperança de recuperar favelas controladas
por criminosos e assiste à
queda nas taxas de homicídios. Mas a polícia superou
todas as estatísticas de mortos em supostos confrontos.
Sua receita para as UPPs
mescla planejamento, trabalho de inteligência e enfraquecimento das quadrilhas.
"Mas, se tivermos que repetir a dose no Complexo do
Alemão [onde 19 supostos
traficantes foram mortos em
2007], nós vamos. Podemos
ir e não pacificar", disse.
Beltrame planeja ocupar
47 áreas hoje sob controle do
tráfico até 2014, inclusive o
Complexo do Alemão, aglomerado de 13 favelas apontado como o "quartel-general"
do Comando Vermelho.
Folha - Como a polícia ocupa
favelas sem resistência?
José Mariano Beltrame - O
Bope não entra mais [na favela] rumo a um determinado
lugar, à casa tal, endereço
tal. Ele entra capilarizando.
Entrando assim, o tráfico entende que os policiais vieram
para ficar. Isso faz as pessoas
fugirem.
Dizia-se que a polícia não entraria nesses locais sem tiro.
Faltava planejar?
Faltou planejamento para
quase tudo. Não havia nenhum plano para ocupação
dessas ilhas.
O planejamento da UPP demorou dois anos...
Demorou. As pessoas e os
políticos querem respostas
rápidas... Querem chegar e
acender a luz. Não sabem
que tem que furar a parede,
passar o fio...
Furar a parede, na segurança,
foram as operações?
Foram determinações minhas. A gente tem que combater arma, droga, munição,
máquina caça-níquel, corrupção policial e milícia, seis
delitos que trouxeram a desgraça para o Rio.
Reduzir o tráfico de drogas é
função da UPP?
É consequência. A UPP
não é solução para tudo.
"Ah, mas o tráfico vai permanecer". Mas, se tiver policiamento, posso fazer prevenção e investigação.
Diz-se que boa parte dos traficantes e das armas estão sendo enviadas para o Complexo
do Alemão.
Será que esses caras têm
esse poderio? Não trabalham
em escala, não têm reposição, treinamento, são dotados de uma total irresponsabilidade. Não vejo um poder.
Quando você vê uma pessoa com um fuzil na mão
achincalhando a sociedade,
choca a todos nós. Mas hoje,
no Rio, não tem lugar em que
a polícia não entre.
Mais de mil pessoas são mortas pela polícia por ano. Como o sr. vê esse dado?
Não sairemos de mil mortos para zero. Aqui tudo é
muito denso. Ao andar naquelas vielas, os fuzis quase
se encontram. Em outros locais, a polícia tem facilidade
para progredir. Aqui há barricadas, óleo na pista. Mas os
números vêm caindo.
Como afastar a UPP da corrupção policial?
Até agora está afastado.
Temos uma supervisão forte,
a sociedade começa a conhecer as pessoas e há um upgrade financeiro [os PMs recebem bônus de R$ 500 ao salário de R$ 1.000].
Os policiais [recém-formados] vão sem vícios. Saem da
academia pensando: "Vou
fazer um trabalho de polícia.
Não sou um combatente".
O policial do Rio é o mais
estressado do mundo. Ele está na rua, daqui a pouco o
chamam para ir ao São Carlos [favela sob controle do
tráfico]. Ele vai sair daqui, vai
se travestir de guerreiro e vai
lá atirar, matar, se ferir. Volta
e pega a saída do colégio. O
policial da UPP não vive isso.
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