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Cientistas contam como fugiram, a nado, de arquipélago
Para alcançar o barco de resgate, os quatro pesquisadores brasileiros saltaram de penhasco e enfrentaram ondas de 5 m
Há duas semanas, ressaca devastou o conjunto
de ilhotas isolado a
mil km do litoral, que não tem sombra nem água doce
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A nado. Assim escaparam para o barco de resgate, em meio a
ondas de 5 m de altura, os quatro pesquisadores da estação
científica destruída pelo mar
há duas semanas no arquipélago de São Pedro e São Paulo. Na
volta para casa, eles relataram à
Folha a aventura.
Atirar-se de um penhasco no
intervalo de vagas enormes para, nadando, chegar à salvação
foi o momento mais perigoso
da situação enfrentada pela
equipe da USP (Universidade
de São Paulo) e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) durante dois dias.
Como a Folha revelou no dia
9, a ressaca devastou a estação
e isolou-os em um dos mais
inóspitos lugares do país.
O conjunto de ilhotas rochosas não tem água doce nem
sombra. Fica sobre a linha do
Equador, a mil quilômetros do
litoral do Rio Grande do Norte
e a 650 km de Fernando de Noronha. Desde a década de 90, o
governo mantém ali uma estação científica, sem moradores.
Equipes de pesquisa se revezam a cada 15 dias.
Quando as primeiras ondas
chegaram com violência à estação -uma casa de madeira de
40 m2-, ao anoitecer do dia 5, o
médico Fábio Tozzi, 45, e os
biólogos Adriana Kohlrausch,
29 (ambos da USP), João Paulo
Machado Torres, 40, e Larissa
Cunha, 37 (da UFRJ), decidiram correr para o farol.
Só tiveram a chance de pegar
algumas laranjas, sacos de batatas fritas, azeitonas e um pedaço de pão. Ficaram sem água,
pois o mar levou os 45 galões de
20 litros armazenados.
Por causa dos perigos da jornada, os cientistas, antes da
viagem, fizeram curso de sobrevivência no mar, ministrado pela Marinha. Uma pesquisadora que não sabia nadar teve a viagem vetada.
Após dois dias confinados no
farol, de apenas 1 m de diâmetro, os cientistas receberam a
informação, transmitida por
rádio pelos pescadores da traineira Ave Maria, que a ressaca
se tornaria mais destruidora no
dia seguinte (quinta-feira, 8).
"Foi aí que decidimos deixar
a ilha o mais rapidamente possível. Não sabíamos se a onda
chegaria ao farol. O relato de
um pescador era a de que isso
tinha acontecido há uns 30
anos", disse Torres.
Rádio portátil
Como os equipamentos de
comunicação tinham sido destruídos, os cientistas se valeram de um rádio portátil para
pedir socorro ao barco de pesca, mantido na área pela Marinha em suporte à equipe.
O problema era que, por causa das ondas, o bote de resgate
não conseguiria atracar no deque de pedras. Embora arriscada, a solução foi escapar a nado.
Em um ponto atrás do farol,
onde a profundidade era maior,
as ondas não estouravam com
tanta violência. Quando uma
passava, eles mergulhavam um
a um e com braçadas vigorosas
alcançavam a bóia atirada pelos
pescadores. A seguir, eram trazidos para a embarcação.
Naquela quinta-feira, quando o navio-patrulha Guaíba, da
Marinha, chegou para socorrer
a equipe, Tozzi voltou à ilha.
Conseguiu recuperar computadores portáteis, câmeras fotográficas e parte da pesquisa
-sobre contaminação de caranguejos, atuns e ovos de pássaros por metais pesados, pesticidas e outras substâncias tóxicas persistentes.
O grupo chegou no fim de semana seguinte a Fernando de
Noronha e depois a Natal.
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