Presença de bactérias no local supera o índice do rio Tamanduateí (centro de SP)

Ocupação desordenada às margens do rio é a causa do problema; Sabesp promete obras de saneamento na região com recursos do PAC

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A limpeza do rio Itamambuca, que termina na praia de mesmo nome em Ubatuba (SP), é só aparente. Lá foi encontrada a maior concentração de bactérias que indicam presença de esgoto na água entre os pontos analisados pela Cetesb no litoral norte do Estado.
Essas bactérias, os coliformes termotolerantes, são um indicador da existência de microorganismos potencialmente causadores de doenças, como hepatite e cólera.
A água potável deve ser totalmente livre de coliformes termotolerantes. Em Itamambuca, no ano passado, havia 97 mil coliformes por 100 ml, quase o triplo de 2006 e uma das maiores concentrações do Estado.
No Tamanduateí (centro de São Paulo), o máximo foi de 23 mil coliformes. O rio Maresias chega a 12 mil, e o Saí, a 50 mil.
Os dados são do relatório de qualidade das águas divulgado há duas semanas pela Cetesb, a agência ambiental do Estado.
O principal problema apontado por autoridades locais está na ocupação desordenada ao redor do rio Itamambuca. A prefeitura chegou a proibir, em 2005, a construção de casas perto da praia e dos afluentes do rio. Mas as atuais, cerca de 500, não contam com tratamento de esgoto.
Há outro problema: algumas comunidades estão encravadas em áreas de preservação, o que dificulta a intervenção do poder público. A comunidade de Itamambuca já chegou a fazer uma "vaquinha" para a construção de fossas para essas casas, mas as obras foram embargadas pelo Ministério Público.
O principal alvo da comunidade e de autoridades locais é a Sabesp. "Em 30 anos, a Sabesp nos deu apenas 26% de cobertura de coleta de esgoto", diz o secretário de Turismo de Ubatuba, Luiz Felipe Azevedo.
Titular da pasta de Cidadania e Desenvolvimento Social da cidade, Claudinei Salgado afirma ter concentrado esforços na regularização fundiária para as famílias que moram próximo aos afluentes do rio. Só a partir daí será possível a realização de obras nesses locais.
O aumento da poluição no rio levou a Cetesb a colocar, no início do ano, a temida bandeira vermelha no meio da praia, indicando que estava imprópria para banho. Desde 2002, a bandeira é freqüente no leito do rio, mas é rara na praia.
"O problema aqui é a ausência do Estado", diz Dimitri Matozco, proprietário de um resort em Itamambuca.
Para o litoral norte, nem todos os dados da Cetesb são negativos. A qualidade da água dos rios melhorou em metade dos 28 pontos pesquisados.

Promessas
O pacote de investimentos de R$ 6 bilhões da Sabesp prevê recursos para obras no litoral norte. A empresa afirma que, até 2012, todas as casas terão coleta de esgoto.
Os investimentos devem chegar a R$ 100 milhões. O projeto está incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal.
As obras em Itamambuca, diz a Sabesp, estão previstas para começar em 2010. Serão gastos pelo menos R$ 7 milhões em saneamento. A empresa promete construir uma estação de tratamento no local.
Atualmente, a Sabesp coleta só 35% do esgoto do litoral norte. A meta é chegar a 38% até o final do ano. No litoral sul, o índice de coleta é de 54%, com previsão de chegar a 55% no final do ano. Para essa região da costa paulista, a empresa de saneamento lançou o programa "Onda Limpa", que pretende coletar 95% do esgoto até 2010.


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