São Paulo, terça-feira, 23 de junho de 2009

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ANÁLISE

Agências podem legislar e julgar

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Agências reguladoras constituem uma pequena esquisitice teórica: na contramão do princípio da separação dos Poderes, são entidades (autarquias) ligadas ao Executivo que, entretanto, desempenham funções legislativas e quase judiciais.
Apesar da dificuldade conceitual, elas funcionam mais ou menos bem. Tanto que, um século após seu surgimento nos EUA, ganharam o mundo.
A ideia por trás das agências é que existem assuntos que são complexos demais para serem deixados a cargo do Parlamento. Um caso prototípico é o setor de medicamentos. Trata-se de área que envolve uma boa dose de conhecimento técnico; na qual atuam diversas empresas privadas com interesses que são ora antagônicos, ora oligopolistas; e que é vital para o bem-estar da população.
Na lógica que inspira as agências, é melhor gerir esse tipo de atividade por meio de um comitê de especialistas, que teriam a missão de regular e fiscalizar o mercado tendo em vista o chamado interesse público.
Para fazê-lo, contam com o poder de baixar normas -uma atribuição que classicamente pertence ao Legislativo- e de julgar e punir atores que não as cumpram -uma função típica do Judiciário.
A fim de legitimar a escolha dos especialistas, eles são, a exemplo dos juízes de tribunais superiores, indicados pelo Executivo e confirmados (ou não) pelo Senado Federal. Têm um mandato fixo com prazos não coincidentes -o que reduz as chances de uma administração qualquer acabar indicando a maioria dos diretores.
É essa relativa independência que diferencia agências de órgãos da administração direta, que por vezes também têm poderes de regulação e fiscalização. Evidentemente, todas as decisões das agências são passíveis de revisão judicial.
Esse modelo, inaugurado com a Comissão de Comércio Interestadual dos EUA, de 1887, surgiu como uma idiossincrasia norte-americana, mas logo se espalhou pelo mundo. No Brasil, foi introduzido no final dos anos 1990.
É provável que esse esquema funcione melhor do que as alternativas disponíveis, mas ele não é absolutamente à prova de falhas. Uma crítica frequente é a de que diretores acabam se aproximando demais das empresas que deveriam fiscalizar e, de boa ou má fé, acabam colocando seus interesses comerciais acima dos da população.


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