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URBANISMO
Criação de bolsões restringe acesso da população a ruas e praças; moradores vão à Justiça contra mensalidade
Condomínios invadem área pública em SP
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
As Prefeituras de Cotia e de Vargem Grande Paulista, na região
metropolitana de São Paulo, autorizaram a criação de mais de 25
bolsões residenciais, nos últimos
cinco anos, que adotam regras de
condomínio fechado.
Mesmo sem concordar com o
sistema, moradores são obrigados a pagar mensalidades para associações responsáveis pela manutenção dessas áreas públicas.
O fechamento de ruas, a construção de portarias e a contratação de vigilância particular restringiram o acesso da população a
ruas e praças municipais.
O Ministério Público Estadual
considera essas práticas inconstitucionais.
A expansão dos bolsões residenciais aconteceu depois de autorização de leis municipais de
1994. A reivindicação partiu de
grupos de moradores interessados em se prevenir contra a violência na região.
Desde então, pelo menos oito
bolsões foram criados em Vargem Grande Paulista, afetando a
vida de quase 3.000 proprietários.
Em Cotia, o arquiteto Vitor
Ibushi, responsável pela análise
dos projetos na prefeitura, estima
em quase 20 o número de ""condomínios" desse tipo. "Isso sem
contar os bolsões clandestinos, ou
seja, aqueles que fecham ruas e
colocam portaria mesmo sem ter
autorização", afirma Ibushi.
Exceto a coleta de lixo, os serviços de manutenção desses bairros
passaram a ser realizados por empresas pagas pelos próprios moradores. "A prefeitura abdicou de
seu papel. Para eles, é uma comodidade", admite Wilson Ferrari,
presidente da Associação de Moradores do Colonial Village.
O loteamento, localizado em
Cotia, tornou-se um bolsão residencial há dois anos. Hoje, a área
é cercada por muros e protegida
por vigilância particular.
Na portaria, uma placa avisa: só
é possível ter acesso após apresentação da carteira de identidade. O
lago onde qualquer pessoa podia
nadar e pescar virou um bem privado: para utilizá-lo, é preciso ser
"condômino".
Cerca de 200 proprietários do
Village são obrigados a pagar
mensalidades de até R$ 160.
"Fui morar no meio do mato
para não ter despesas. Eu não
concordo com nada do que eles
chamam de benefício", afirma Nicodemo Sposato Neto.
Quando ele comprou um terreno no local, em 1994, o espaço era
aberto. Atualmente, Sposato tem
uma dívida de R$ 7.000 por não
ter pago as taxas de administração do loteamento.
O promotor José Carlos Freitas
afirma que ninguém pode ser
obrigado a fazer parte dessas associações e que esses bolsões ferem o direito de ir e vir.
"A pessoa não pode ser obrigada a se identificar a uma entidade
privada para ter acesso a uma área
pública. É diferente do que ocorre
em um condomínio, onde toda a
área é particular."
Advogados consultados pela
Folha divergem sobre a legalidade desses bolsões, assim como sobre a cobrança de mensalidade.
Antônio Fernando Pinheiro Pedro afirma que entidades privadas não podem cobrar pelo uso de
espaços públicos.
"Essas áreas são de uso comum,
não podem ser usadas por particulares para a cobrança de taxas.
O que está acontecendo é a privatização do espaço público."
Para o advogado Toshio Mukai,
o argumento das pessoas que não
querem pagar é "ponderável",
mas a decisão judicial deve considerar o enriquecimento ilícito. "A
cobrança deve ser para todos. Afinal, o benefício não é só de alguns", diz ele.
"Se eu quisesse morar em um
condomínio, não teria vindo para
cá", afirma Rosana Gomes da
Cruz, justificando o fato de não
querer pagar mensalidade de R$
100 no Jardim Santa Paula, no
município de Cotia.
A resistência é ainda maior entre os que possuem terreno, mas
não moram na região.
Armando Saraiva comprou
uma propriedade no Colonial Village em 1985. "O local era aberto,
como qualquer outro." Ele se recusa a pagar a mensalidade cobrada pela associação. "É só terra,
não mora ninguém, só vou lá de
vez em quando", afirma.
Além da taxa de manutenção,
os moradores continuam pagando o IPTU. Apesar de restringir o
acesso da população, o imposto é
pago apenas sobre a área da propriedade de cada um.
Em um condomínio fechado, os
moradores pagam IPTU sobre a
área total da propriedade, incluindo as ruas, praças e demais
áreas comuns.
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