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CASO OLIVETTO
Fotos e gastos do grupo que sequestrou publicitário servirão para sustentar tese de formação de quadrilha em recurso
Promotor reúne provas contra sequestrador
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma contabilidade em torno de
US$ 150 mil, que detalha desde a
compra de carro e moto até consultas a podóloga e nutricionistas,
é uma das principais provas do
Ministério Público para tentar aumentar a pena dos sequestradores
do publicitário Washington Olivetto. A Promotoria recorreu ontem da sentença que determinou
16 anos de prisão.
O grupo poderia gastar no máximo US$ 300 mil com a operação, conforme dizia uma espécie
de cartilha encontrada pela polícia em uma chácara em Serra Negra (150 km de São Paulo).
Segundo o promotor Marco
Antonio Ferreira Lima, o grupo
gastou, em um ano, cerca de US$
150 mil em compra de carros, moto, aluguel de imóveis, roupas, comida e -o que mais impressionou Lima- beleza e lazer.
Os gastos estão descritos na
contabilidade, feita pelo próprio
grupo, contida em um dos computadores encontrados em Serra
Negra. Muitos custos também podem ser comprovados por notas
fiscais que estavam na casa.
Pela contabilidade, os sequestradores -que mantiveram Olivetto refém por 53 dias- pagavam sempre à vista, em dólar ou
em real. Nos itens beleza e lazer, o
grupo não economizava. Entre as
despesas apontadas no recurso
judicial estão cabeleireiro (uma
vez R$ 150 e outra R$ 120), consulta a uma nutricionista (R$ 100
uma vez e R$ 80 outra), podóloga
(R$ 75) e musculação (R$ 258 pela
matrícula e primeira mensalidade
para três pessoas, incluindo o líder do grupo, o chileno Maurício
Hernández Norambuena).
Até uma visita a um zoológico,
no valor de R$ 93, estava descrita
na contabilidade dos sequestradores. Fotos de churrascos, passeios de barco em Ilhabela (litoral
norte paulista) e de uma das sequestradoras nua, à beira da piscina, foram anexadas ao processo.
A Promotoria vai usar essa contabilidade para reforçar a tese de
formação de quadrilha, crime do
qual a juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 19ª Vara Criminal de São
Paulo, os absolveu no último dia
15. "A contabilidade prova a associação e mostra que foi usado dinheiro de outros crimes para bancar esse sequestro", disse Lima.
O promotor também vai usar os
gastos para tentar derrubar a tese
de motivação política, aceita pela
juíza. "A motivação política está
em degustar comidas caras, morar em locais suntuosos sob a sugestão de que pretendem salvar a
fome do mundo?", questionou.
Lima acredita que o resultado
do recurso, que será julgado pelo
Tribunal de Justiça, deve sair entre seis e oito meses. Na primeira
denúncia, o promotor pediu 32
anos de prisão por sequestro, formação de quadrilha e tortura.
No recurso, Lima ainda pede
que o artigo 2º, parágrafo primeiro, da Lei de Crimes Hediondos,
seja cumprido. O artigo estabelece que um preso só terá progressão da pena depois de cumprir
dois terços da pena. A juíza desconsiderou esse item, o que permite que o grupo peça regime semi-aberto (dorme na prisão) depois de um sexto da pena.
Para a defesa dos sequestradores, a Promotoria está equivocada. Segundo o advogado Iberê
Bandeira de Mello, o grupo usou
o dinheiro para sustentar o disfarce de turistas.
"Eles tinham de se comportar
como turistas", disse Mello, que
também recorreu da sentença na
sexta-feira. Ele quer que quatro
dos seis presos, que disseram que
não sabiam que era um sequestro,
sejam absolvidos.
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