São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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CASO OLIVETTO

Fotos e gastos do grupo que sequestrou publicitário servirão para sustentar tese de formação de quadrilha em recurso

Promotor reúne provas contra sequestrador

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma contabilidade em torno de US$ 150 mil, que detalha desde a compra de carro e moto até consultas a podóloga e nutricionistas, é uma das principais provas do Ministério Público para tentar aumentar a pena dos sequestradores do publicitário Washington Olivetto. A Promotoria recorreu ontem da sentença que determinou 16 anos de prisão.
O grupo poderia gastar no máximo US$ 300 mil com a operação, conforme dizia uma espécie de cartilha encontrada pela polícia em uma chácara em Serra Negra (150 km de São Paulo).
Segundo o promotor Marco Antonio Ferreira Lima, o grupo gastou, em um ano, cerca de US$ 150 mil em compra de carros, moto, aluguel de imóveis, roupas, comida e -o que mais impressionou Lima- beleza e lazer.
Os gastos estão descritos na contabilidade, feita pelo próprio grupo, contida em um dos computadores encontrados em Serra Negra. Muitos custos também podem ser comprovados por notas fiscais que estavam na casa.
Pela contabilidade, os sequestradores -que mantiveram Olivetto refém por 53 dias- pagavam sempre à vista, em dólar ou em real. Nos itens beleza e lazer, o grupo não economizava. Entre as despesas apontadas no recurso judicial estão cabeleireiro (uma vez R$ 150 e outra R$ 120), consulta a uma nutricionista (R$ 100 uma vez e R$ 80 outra), podóloga (R$ 75) e musculação (R$ 258 pela matrícula e primeira mensalidade para três pessoas, incluindo o líder do grupo, o chileno Maurício Hernández Norambuena).
Até uma visita a um zoológico, no valor de R$ 93, estava descrita na contabilidade dos sequestradores. Fotos de churrascos, passeios de barco em Ilhabela (litoral norte paulista) e de uma das sequestradoras nua, à beira da piscina, foram anexadas ao processo.
A Promotoria vai usar essa contabilidade para reforçar a tese de formação de quadrilha, crime do qual a juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 19ª Vara Criminal de São Paulo, os absolveu no último dia 15. "A contabilidade prova a associação e mostra que foi usado dinheiro de outros crimes para bancar esse sequestro", disse Lima.
O promotor também vai usar os gastos para tentar derrubar a tese de motivação política, aceita pela juíza. "A motivação política está em degustar comidas caras, morar em locais suntuosos sob a sugestão de que pretendem salvar a fome do mundo?", questionou.
Lima acredita que o resultado do recurso, que será julgado pelo Tribunal de Justiça, deve sair entre seis e oito meses. Na primeira denúncia, o promotor pediu 32 anos de prisão por sequestro, formação de quadrilha e tortura.
No recurso, Lima ainda pede que o artigo 2º, parágrafo primeiro, da Lei de Crimes Hediondos, seja cumprido. O artigo estabelece que um preso só terá progressão da pena depois de cumprir dois terços da pena. A juíza desconsiderou esse item, o que permite que o grupo peça regime semi-aberto (dorme na prisão) depois de um sexto da pena.
Para a defesa dos sequestradores, a Promotoria está equivocada. Segundo o advogado Iberê Bandeira de Mello, o grupo usou o dinheiro para sustentar o disfarce de turistas.
"Eles tinham de se comportar como turistas", disse Mello, que também recorreu da sentença na sexta-feira. Ele quer que quatro dos seis presos, que disseram que não sabiam que era um sequestro, sejam absolvidos.



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